Meu Primeiro Chifre
MEU PRIMEIRO CHIFRE
Foi logo na estreia. Com o meu primeiro namorado. Não foi nada traumatizante e fui saber beemmm depois, e se tivesse sabido na hora, também não faria diferença.
Nunca quis namorar o Alexandre. Queria namorar o Claudio Antônio, mas por causa da minha inexperiência e doentia timidez, caiu de paraquedas no meu colo o Alexandre.
Eu tinha que começar com alguém, né?
Namorico de portão, beijinho na boca no final, que nem queria dar, se ele não puxasse o meu braço sempre que nos despedíamos. E claro, marcação do pai.
Quando entrei, Alex e Wendel, um menino que meu pai estava criando, saíram correndo,
Fiquei bolada.
Eu 13 anos, criada na repressão, no machismo, na misoginia de uma família predominantemente de homens, sendo vigiada por dois garotos mais novos que eu.
Talvez Seu Miro imaginasse que poderia perder o cabaço, ali mesmo no portão.
O Alexandre, como a maioria dos homens da minha geração, pode ser tipificado normalmente como o "homem-bosta".
Suas diretrizes masculinas eram as mais comuns na época, como ele mesmo disse:
"Se uma mulher dá mole, o homem tem que pegar."
Vou explicar para a nova geração o que isso quer dizer:
O macho, sobre pressão e opressão social, é obrigado a provar a todo instante, para o mundo e para a si mesmo, assim como para o piranhão que está dando em cima dele, mesmo sendo comprometido, que é hétero, homem, macho, potente e que deve acima de tudo, honrar o falo sagrado, o guardião da masculinidade, o presente dado ao homem como prova de sua superioridade: o pinto.
O primeiro namorado, para minha geração, é um momento de descobertas, e quase sempre de confronto com a família.
Todo o primeiro namorado era escondido, segredo.
E quando a família descobria, ficava ainda pior.
Ou era no portão da casa da namorada, visto por alguns como indecência, ou na sala, com a presença de algum membro da família da namorada.
Ser "moça de família" era um saco. Infelizmente, eram essas que casavam. As mais "moderninhas" transavam em meio ao noivado, Sem a família saber, claro.
Quando minha prima morava no Baixo Iguaçu, ela me mostrou a leva de meninos que chegavam na balada por volta das 23 horas, 23 horas e meia.
São os garotos que namoram as moças de família até as 22 horas. Depois as mocinhas se recolhem e eles se dirigiam para as baladas do sábado à noite.
"Matriz e filial"
"Ela transa, você não."
"Eu sou homem, tenho minhas necessidades, meus direitos."
Eram essas (ou ainda são?) as desculpas esfarrapadas para a trairagem masculina.
Conheci um noivo, que morava com uma outra mulher na casa dele, ele alegava isso mesmo. Que a noiva não dava. E se ela desse? Ele se casaria com ela?
Conheci outro ainda pior.
Noivo da Paula, mas era noivo de outra mulher e namorava uma terceira. Ele alegou a necessidade de sexo, para com a terceira, Paula perguntou pela outra noiva, ele ficou calado.
Ainda assim, a otária da Paula se casou com o Robson, engravidou na perda do cabaço (noite de núpcias), com um ano de casamento, estava com um neném no colo, e separada, pois o seu amado "Robinho" continuava mulherengo.
Nunca entendi a festa que o Alexandre fazia quando me revia.
Pra mim, revê-lo, sempre foi constrangedor.
Não dava papo. Era apenas educada.
Uma vez perdi a paciência.
Parou com o carro dele, sorrindo pra mim, virei a cara e segui meu caminho.
Por graças nunca mais o vi.
A culpa não era dele. Tinha mais a ver comigo mesmo.
Ele foi a síntese e a decisão de que não deveria levar namorados pra casa.
Seria vigiada, e meu irmão gay sociopata obsessor, gritaria para toda a família e quem estivesse perto, que meu namorado era gay, seja ele quem for. Ele faz isso até hoje.
Namorar é chato.
Espantei muitos homens, porque eu não tenho mais idade e nem paciência para namorar.
Se alguém me convida pra sair, pergunto logo se vai terminar o encontro em uma noite de sexo. Se for para isso, dispenso até a pizza e a coca cola. E nem faço questão de ser procurada no final de semana seguinte.
Sexo é essencial para a espécie, não para o indivíduo.
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