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Mostrando postagens de outubro, 2021
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O ESPELHO   Quando eu era criança, havia em todos os mercados, até mesmo em grandes redes da época, como as Sendas, atual Extra, um macarrão que era vendido a granel. Você pedia para o atendente, e ele colocava dentro de um saco de papel, o quilo pedido. Era um macarrão sem marca, e que possuía todos os tipos de macarrão. Obviamente não podia escolher, pois estava tudo misturado: espaguete, parafuso, ninho, talharim, canelone, concha e outros “macarrãozinhos de sopa”. Era bem baratinho e sempre havia uma dona de casa comprando dele. Não temo em dizer que esse macarrão, oriundo de embalagens rasgadas e de massas próximas do vencimento: Nunca matou alguém.   Infelizmente ele desapareceu. Provavelmente sob os rigores da vigilância sanitária. A mesma que ordena que legumes em vias de vencimento sejam jogados no lixo e não doados. A mesma que implica com os queijos caseiros. Sim, precisamos dela, embora o abuso de poder e o excesso de regulações seja basicamente a regr
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PAIS PERFEITOS   A paixão nacional chamada Kombi, por muitos anos trafegou pelo Brasil como uma bomba relógio. Décadas depois admitida pela montadora: a sua facilidade em pegar fogo. Eu, meu irmão Almir e Alex fomos vítimas dessa armadilha. Não foi adiante porque havia extintor. Mas foi o suficiente para eu sair do carro, apavorada, gritando “A Kombi tá pegando fogo!” e derrapar na estrada de terra batida e cair no chão... Sob os olhos de uma senhora em pé no seu portão que a tudo assistia e não moveu um dedo por nós...   Meus irmãos duas vezes por semana faziam judô no CEM, mesma escola em que Amiltom estudava à tarde, assim como eu e Alex. Nesse dia até eu senti que meus dois irmãos estavam demorando a chegar da aula. Já escutava os gritos de lamúria e preocupação com a demora. Em vez de chegarem por volta das dez da manhã, chegaram um pouco depois das onze. Estava na sala, almoçando. Era o nosso horário normal, pois meio-dia tínhamos que está de banhos tomados, alm
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O PRIMEIRO ASSALTO   Foi o primeiro assalto que minha família sofreu. Era muito criança. Eu e meu irmão Alex, almoçávamos na sala, com minha tia Leninha, que na época trabalhava como doméstica na nossa casa. Vi meu pai, um freguês e o filho dele, meus irmãos mais velhos e meu tio Ito, todos entrando em fila. Meu tio foi o último a entrar em casa, por isso havia um homem logo atrás com um revolver na sua cabeça. Não tinha noção do perigo que corria. Todos foram trancados em quartos e banheiro. Um dos ladrões ficou conosco e a minha tia na sala. Estávamos com o prato na mão. O assalto de certa forma foi demorado. Lembro do bandido ameaçar matar eu e meu irmão e minha tia se ajoelhando, implorando por nossas vidas. Ficamos quietinhos. Os sentimentos que tenho nessa situação, é... Indiferença? Sabe a sensação de olhar uma enorme equação matemática e não entender nada? Não me lembro de medo, porém, minha mente pode ter bloqueado essa lembrança. Os assaltantes se foram. Ningu
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  O DEMÔNIO QUE RI   Ela sempre sorria Cantos dos lábios em cada lado da face Sorriso tímido Às vezes uma boa gargalhada. Riso deboche Riso vitória Riso vergonha Sorriso derrota Rindo chorando... Sua alegria(?), às vezes irritava. Nunca séria ficava. _Para com isso! Não é momento pra tal! _Tá rindo de que, mulher? Como se quisesse controlar os lábios, com bastante força, ela dizia: _Desculpe, mas eu não posso... _Não pode ficar triste?! Por acaso estou te pedindo isso? Eu apenas quero respeito! É o mínimo exigido aqui! Foi expulsa de vários velórios por causa disso. Às vezes de forma educada, quando a família do morto sabia de sua condição, porém na maioria das vezes, aos gritos. Partia enxugando as lágrimas, porém rindo. Sua vida era difícil, vizinhos que viravam a cara pra ela, alta rotatividade em empregos... Havia um paradoxo na sua vida. Tatiana era querida pelas crianças, principalmente pelas crianças cruéis. Umas xingavam, outras espet