O PRIMEIRO ASSALTO




 

Foi o primeiro assalto que minha família sofreu. Era muito criança. Eu e meu irmão Alex, almoçávamos na sala, com minha tia Leninha, que na época trabalhava como doméstica na nossa casa.

Vi meu pai, um freguês e o filho dele, meus irmãos mais velhos e meu tio Ito, todos entrando em fila. Meu tio foi o último a entrar em casa, por isso havia um homem logo atrás com um revolver na sua cabeça.

Não tinha noção do perigo que corria. Todos foram trancados em quartos e banheiro. Um dos ladrões ficou conosco e a minha tia na sala. Estávamos com o prato na mão.

O assalto de certa forma foi demorado. Lembro do bandido ameaçar matar eu e meu irmão e minha tia se ajoelhando, implorando por nossas vidas.

Ficamos quietinhos. Os sentimentos que tenho nessa situação, é... Indiferença? Sabe a sensação de olhar uma enorme equação matemática e não entender nada?

Não me lembro de medo, porém, minha mente pode ter bloqueado essa lembrança.

Os assaltantes se foram. Ninguém ferido.

O freguês de longa data o “Manel” nunca mais voltou. Parece que os bandidos ameaçaram levar o seu filho junto, talvez pra sequestro, achando que o filho de Manel fosse filho do meu pai.

Vai arriscar?


 

A maior vítima do assalto foi o Buda.

Um clássico das casas nos anos 80, onde as pessoas, acreditando que ele atraía prosperidade, o tinha em suas casas, sempre acima de moedas ou arroz. O do meu pai ficava num prato, sobre um monte de arroz e umas moedas rodeando-o.

 

Como qualquer empreendimento, as coisas não iam bem. Alguém falou para meus pais que  Buda ajudaria, talvez a fanática Tia Leninha.

Meu pai nunca esqueceu a data.

E sempre dizia:

“Hoje tá fazendo aniversário o dia em que fiquei pelado!”

Pelado no sentido de não ter dinheiro nenhum.

Tanto que no mesmo dia, vendeu o seu fusquinha, para recomeçar a trabalhar.

E jogou o Buda com prato, arroz e moedas no rio.

Ele dizia que as coisas não iam bem, e depois que o Buda foi colocado na casa, as coisas não paravam de piorar, e o fechamento do caixão foi o assalto.

 

Como a moda do Buda desapareceu, talvez o meu pai estivesse certo.

Uma das casas onde ele era cultuado, neste caso, em um pratinho cheio de moedas, os moradores perderam tudo em uma enchente.

Foram morar de favor na casa que meu tio Jales tinha no Rio. Ele mora em Minas Gerais Juiz de Fora.

Acabou em confusão também. Pois o aluguel fazia falta para o meu tio e quando ele pediu a casa, acabou em briga feia...

 

Quanto a minha família, esse foi o primeiro de dezenas que meu pai sofreria. No ferro-velho ou na rua a pé ou no carro,

Contudo, o pior de todos os bandidos, foram seus filhos. Almir principalmente, roubou o quanto pôde do meu pai, e para esse ladrão, ele nunca teve forças pra reagir. Morreu na miséria.

Seria a vingança de Buda?

Os chineses preferem o gato japonês Maneki Neko para prosperidade e proteção nos negócios...


  

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