PAIS PERFEITOS
A paixão nacional chamada Kombi, por
muitos anos trafegou pelo Brasil como uma bomba relógio. Décadas depois
admitida pela montadora: a sua facilidade em pegar fogo.
Eu, meu irmão Almir e Alex fomos
vítimas dessa armadilha. Não foi adiante porque havia extintor. Mas foi o
suficiente para eu sair do carro, apavorada, gritando “A Kombi tá pegando fogo!”
e derrapar na estrada de terra batida e cair no chão...
Sob os olhos
de uma senhora em pé no seu portão que a tudo assistia e não moveu um dedo por
nós...
Meus irmãos duas vezes por semana
faziam judô no CEM, mesma escola em que Amiltom estudava à tarde, assim como eu
e Alex.
Nesse dia até eu senti que meus dois
irmãos estavam demorando a chegar da aula.
Já escutava os gritos de lamúria e
preocupação com a demora. Em vez de chegarem por volta das dez da manhã,
chegaram um pouco depois das onze.
Estava na sala, almoçando. Era o
nosso horário normal, pois meio-dia tínhamos que está de banhos tomados,
almoçados e arrumados para esperar o ônibus escolar.
Para quase duas horas de “viagens”
diárias, sendo que a escola, de ônibus nunca passava de 15 minutos, isso se o
ônibus parasse em todos os pontos e sinais de trânsito.
De carro, nunca passava de dez
minutos.
Comecei a escutar gritos dos meus
irmãos.
_A Kombi pegou fogo, mãe!
_Mas a Kombi pegou fogo, ficou tudo
parado!
Logo em seguido, barulho de pancadas,
de chinelo ou cinto.
Não me mexi.
Nunca fui de assistir um irmão meu
apanhar.
Sempre corria pro meu quarto ou pra
debaixo da cama ou pra laje.
O estranho, é que depois de surras como
essa, meus pais exigiam que nos comportássemos como se nada estivesse
acontecido. Não podíamos ficar tristes ou amuados.
Somente então vi meu irmão na mesa,
com os olhos vermelhos e ainda sendo obrigado a almoçar.
Nesse dia, não usamos o ônibus
escolar. Fomos com a nossa Kombi para a escola, Amiltom faltou. Ele sempre foi
o preferido de D. Aparecida, se fosse comigo, apanhava novamente, se me
recusasse a ir para a escola depois de umas chineladas.
Meu pai, eu, Alex e minha mãe no
carro. No caminho, no início da Joaquim da Costa Lima, uma rua com três
cruzamentos e muito movimenta, estava lá, a Kombi totalmente queimada na pista.
Minha mãe agiu com naturalidade, como
se nada tivesse acontecido. Ao menos na nossa frente.
Essa história é tão absurda e
confusa, que realmente penso se aconteceu de verdade.
Entretanto, conhecendo o histórico
dos meus pais...
Atualmente, os filhos têm celulares, e
mesmo assim, nunca ligam ou atendem seus pais. Chegam em casa bem depois do
combinado.
Se acontece algo, nada maior que um
castigo, logo esquecido pelos pais.
Isso aí...
POR FALAR EM KOMBI
Meu pai teve várias. A clássica, a de
diesel, de capota e com carroceria.
A mais antiga que me lembro é de uma
bem caidinha, verde.
Foi com ela que passei um grande medo
na infância. Não, ela não pegou fogo. Apenas parou de funcionar em cima do
viaduto, aquele que usamos para entrar em Nova Iguaçu.
Isso foi de tarde, a noite chegava e
nada da Kombi ligar. Eu sentada, lá de cima vendo os carros, a noite.
O medo que me deu é de nunca mais
chegar em casa. Eu realmente pensei isso...
Meu pai, mesmo fudido nas finanças,
teve a sua última, mas vendeu.
Vendeu porque precisava de dinheiro.
Vendeu o terreno que tinha no centro de Belford Roxo, porque precisava de
dinheiro.
Se ele ganhasse na mega sena,
provavelmente morreria na miséria.
O mau estava dentro de casa, e por
mais que ele colocasse dinheiro na empresa, ele logo sumia.
Não sei o que passa na cabeça de um
filho ao roubar o pai.
Pra ver que surras nem sempre
consertam alguém. Quando a pessoa é ruim...
O mais curioso quanto à ocorrência de incêndios na Kombi é que as versões de 2 carburadores eram mais acometidas por esse problema.
ResponderExcluirObrigada por sua participação. Apareça sempre.
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