FESTAS DE ANIVERSÁRIO



Nos anos 80, ao menos aqui na Baixada, não havia essa cultura do aluguel de espaço, artistas, palhaços, mágicos, lembranças e por aí vai.
A exceção era o aniversário de 15 anos.
Uma tradição que vem desaparecendo drasticamente, afinal, com 15 anos, as meninas estão fazendo chá de bebê e não debutos.
Eu particulamente, considerava uma breguice, mas era necessário, de certa maneira, a adolescente ser apresentada a sociedade, seria como a iniciação da vida (quase) adulta de uma ex-menina.
Era o momento em que a filha era ofertada a sociedade, onde convidados, futuros candidatos a maridos, eram convidados a festa e conhecerem a virgem e a sua família.
Com 15 anos, a jovem poderia usar salto alto e pó de arroz. Batom, somente as putas o usavam.
Festa tradicional assim, foi a da minha prima. Com missa, festa em casa, bolo gigante de 3 andares.
Nossa, o bolo...!
Confeitarias especializadas não existiam. Se encomendavam em uma padaria ou a uma boleira.
Como o bolo era gigante, acho que a boleira começou a fazê-lo com uma semana de antecedência.
Quando finalmente se cortaria a grande atração da festa, veio logo em seguida a decepção: o bolo não estava velho. Estava jurássico. Seco, horrível.
O clássico salada de fruta. Foi um dos temas do meu aniversário.


Para minha geração, chegar em casa e ter um bolo, guaraná, balas numa mesa, era motivo máximo de orgulho e alegria de um aniversariante.
O bolo, quando não era comprado em mercado, era feito pela mãe, avó ou madrinha da criança. Uma cobertura de chocolate e confeitos coloridos ou aquelas bolinhas quebra-dentes prateadas.
Esse era o tipo de festa que tinha em casa.
Meus pais tinham até recursos para fazerem uma festa maior, nos padrões da época: bexiga, convidados, pastel, brigadeiro, beijinho, refrigerante, cachorro-quente com salsicha picada em rodelas.
Não havia a cultura do espetáculo e exibicionismo que temos.
Quem resiste aos pastéis de festa? Amo as massas de mercado.

Descrevi acima alguns clássicos das festas de aniversário dos anos 80. Havia outro, desaparecido, por puro preconceito, pois seu ingrediente e a embalagem em que vinha remete muito a pobreza. Gelatina em copo de cafézinho!
Se nem os clássicos brigadeiros e afins, não aparecem mais em seus pratinhos de papel coloridos, agora vêm no antiecológico copinho de plástico transparente, a gelatina foi jogada para debaixo do tapete.
O glacê perdeu espaço para horrenda pasta americana, que permite os mais loucos trabalhos de confeitaria, mas o gosto é uma porcaria só.

O docinho com o cravo de enfeite. Lembrei agora do classissímo doce de abóbora! Ele ainda se faz presente?

Se atualmente em qualquer rua há uma pizzaria aqui na Baixada, nos anos 80 nem existia serviço de delivery.
Pizza era coisa exótica, cara e rara.
O único acesso das famílias a uma pizza, era comprando em mercado. Aquela massa pronta.
Minha mãe comprou uma vez, e não sabia o que fazer com ela.
Pediu ajuda a vizinha, de como rechear.
E qual era o recheio clássico das famílias?
Queijo?
Presunto?
Calabresa?
Não. A famigerada SARDINHA ENLATADA.
Pobreza, desconhecimento de causa, desonra a um prato símbolo da Itália.
A pizza de sardinha é a versão arroz com ovo das pizzas.
Existem aquelas caprichadas, feitas para comer no café da tarde ou numa janta entre amigos.
Mas também tem aquela servida em festinhas.
Um petisco caro, trabalhoso, era mais comum em festas nas casas mais carentes, por mais estranho que pareça.
Minúsculo quadradinho, de massa, sem queijo, sem molho e pitadas de sardinha em lata moída.
Como eu tenho raiva da pizza de sardinha.
Meu complexo de grandeza se recusa a comê-la e admirá-la.
A única bola-fora das festas de aniversário dos anos 80. A considero ainda mais medíocre que a gelatina servida em copinhos de café, que no meu particular, tem seu charme, e deveria voltar.
Era o recheio "preferido", pois queijo e presunto ou linguiça calabresa eram coisas caras, das famílias que faziam pizzas em casa.
Como eu te odeio pizza de sardinha!!!

Bônus:
Minhas Festas
Não era o forte dos meus pais.
Eles eram muito pra dentro.
Nunca viajaram e não eram chegados a casa cheia. A não ser em datas especialíssimas, como natal e ano novo. Meu pai de vez em quando promovia seus churrascos, mas eram festas de adultos, restritas à família.
Nossos aniversários era bolo e guaraná.
Não havia salgados, no máximo pastel, e prato de comida mesmo.
Mas para a gente, era o máximo.
Infelizmente, no dia da minha festa, como descrita acima, pela festa do portão, convidei as minhas vizinhas que brincavam na rua. Disse que seria apenas um bolinho, nada de mais.
Para minha surpresa, a rua inteira compareceu!!
Minha mãe se virou bem. E teve criança levando prato de comida pra casa. Coisa normal entre gente simples, mas visto como falta de educação, levar bolo,doces e salgados para comer em casa.
Mas puta-que-pariu!
A velha reclamou por uma semana no meu ouvido. Mesmo dizendo que não havia convidado essa gente toda.
Fazer aniversário, ao menos no meu caso, talvez a stressasse, a medida que crescia, mas ela ignorava e mais ela fazia de tudo para me humilhar nesse dia. Comecei a odiar aniversários a partir daí.


Meu Pai nas Festas

Em matéria de comer, meu pai era um Homer Simpson, sem exageros. Os dois eram idênticos na gulosice. Talvez, por isso que ele não gostasse muito de ir a festas.
Quase sempre ia embora antes mesmo do corte do bolo, apenas marcava a sua presença.
Minha tia explicou a razão uma vez:
Meu pai me levou para uma festa da tia Leninha, fui saber mais tarde que era o casamento dela.
Festa chata pra caralho. Sem criança. O fato de não comer e nem beber nada, não me irritava.
Ela era vizinha da tia Nair, tia Nair falou que meu pai apareceu na casa dela, nervoso, xingando, falando seguidos palavrões a esmo, 

Meu pai estava com fome.

Nair avisou Leninha.
"O meu cumpadre (meu pai), é assim: Se ele chega em uma festa, tem que levá-lo num canto, e lhe dar um prato de comida, senão, ele fica nervoso, começa a xingar e maltratar todo mundo."
Lembro da minha tia Leninha apreensiva, pois meu pai estava irritado e irredutível. Ele iria embora, pois até aquela hora não havia comida nada.
Ela recolheu umas balinhas da mesa e acho que outras coisas também, e deu pro meu pai levar. Eu mesmo não vi, nada comi.





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