A CRUZ INVERTIDA DO SUBCONSCIÊNTE
E O
ENIGMA PENHA
Minha mãe sempre dizia que, quando
Penha deixou de trabalhar na nossa casa, eu fiquei três dias em febre. Que eu
era apegada a ela.
Poderia ser muito criança, entretanto,
eu lembro da Penha.
Infelizmente não são boas coisas.
Das torturas psicológicas que meu
irmão fazia, coisa de irmão, tipo, ele fazer uma voz cavernosa e ameaçar do Hulk
(o original da série de TV dos anos 70) vir me pegar.
Do Almir me fazendo chorar por qualquer
coisa assim parecida, eu baixinha, olhando para ela e Penha rindo de mim me
encarando com seus olhos.
Atravessando uma ponte, que passa por
cima de um rio podre, aqui perto de casa, Almir me pegou pelos braços e me
pendurou fora dela, me ameaçando jogar no podre Sarapuí.
Ela com sua risada que soava como “risada
malvada” de bruxa.
Porém existiram bons momentos, eu
deveria ser realmente apegada a Penha, porém, foram completamente apagados da
minha memória.
Não lembro desse apego, do carinho ou
da segurança que Penha um dia me passou. Tudo que sei, são pelos relatos da
minha mãe.
Penha de vez em quando nos visitava.
Eram visitas raras, mas até o início da minha fase adulta, ela aparecia, me
chamava, sorria, se comunicava comigo com carinho, e tudo que sentia era gelo e
aversão.
Talvez ela esperasse abraço, carinho,
mas meu corpo travava e um sorriso sem graça.
Penha se estiver viva, está bem
velhinha, acredito que esteja morta. Ela procurava o Almir no portão do
ferro-velho, e depois Almir me chamava, fazia a minha obrigação social e dava
as costas.
Talvez eu tenha magoado Penha, se a
visse mais uma vez, conversaria com ela, perguntaria a ela como realmente era a
nossa relação.
Esse carinho e apego que minha mãe
tanto falava, que desapareceu da minha memória.
Talvez Penha merecesse desculpas
minhas...
Em relação a outros momentos bons da
minha vida acho que acontece a mesma coisa.
Eu sei. Minha vida não é uma
maravilha, mas tive bons, ótimos momentos, podem ter sido momentos apenas, mas
porque eles desaparecem?
Por que as coisas ruins, que podem
ser mudadas, dependem de mim, embora eu tenha tentado de tudo e fracassando fragorosamente
em todas as tentativas, por que esse sentimento ruim domina, me derruba
(literalmente) no chão, gela minha barriga, causa tremor pelo corpo, medo de
algo que lhe assombra, embora não saiba o que realmente é.
Gente, eu estou viva, e apesar de tantas
tentativas, como alucinações estarrecedoras, eu ainda estou sã.
Estou lutando.
De pé, de joelhos, com as pernas
quebradas...
Eu luto.
Eu vivo.
Não perco a minha fé, embora, em um
momento da vida, até ela tenha perdido. Resgatei. Estou aqui.
Sentada, encolhida, aguardando mais
uma missa negra que acontece dentro de mim.
link original da primeira figura
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