Os Irmãos Reis Filhos

 Olá meia dúzia de fiéis leitores. Sejam bem vindos ao cópia e cola de hoje.

Estranho esse texto não está aqui. O publiquei em diversas plataformas.

João virou pastor

Malhado está morto

Jorge é caminhoneiro

E tudo que sei deles atualmente, e essas notícias são bem antigas.




OS IRMÃOS REIS E FILHOS


        Com a falência de Odinei Gomes, muitos ferros-velhos em ascensão tiveram a chance de dominar o invejável mercado de sucatas, na Baixada Fluminense, uma dele foi a Reis e Filhos, também conhecido como o Ferro-Velho dos Irmãos Malhado ou só “Malhado”, devido a um dos irmãos que sofria de vitiligo, manchando todo seu corpo, mas os cabeças eram 3.

Jorge, que ficavam a pesagem e estocagem de material, Tião malhado, que era o comprador de rua, daí ser o mais conhecido e o seu ferro-velho ter o seu apelido e o João, que ficava na contabilidade. Havia um 4° irmão: O Zé Caralho, mas foi expulso da sociedade quando foi flagrado roubando os irmãos, se tornando apenas mais um empregado. 

         Sua ascensão foi rápida e vertiginosa, e foi mais um a quem meu pai morreu devendo dinheiro.

         Após a sua morte, decidimos trabalhar com ele, renegociando a divida.

         Havia também o Eduardo, mais um que subiu vertiginosamente aproveitando o vácuo deixado por Odinei, porém, com ele não quisemos nada, mesmo sob ameaças, mandei o cara ir cobrar as dívidas do velho no cemitério.

         Eduardo era mau, ignorante, maltratava e humilhava seus fregueses, acredite, meu pai chegou a fazer xixi nas calças com medo dele, mas ele esqueceu que no mundo, existem pessoas como ele, e antes que ele nos pudessem fazer algum mal, foi metralhado na porta de casa.

          O bicho era tão ruim, que ainda sobreviveu, foi estrebuchando para o hospital e lá chegou morto. 

          BEM FEITO...

          Não era fácil trabalhar com esses caras, principalmente o João, que fazia questão de me fazer esperar por horas para liberar um cheque pra mim, sendo que em algumas vezes eu olhava de longe via que ele nada fazia em seu escritório, recebia outros e não me atendia. Isso era comum e ainda é, principalmente quando um ferro-velho era dependente de outro para custeá-lo como era o meu e dos meus irmãos. Era só pra pisar mesmo!

         Mas em momentos de infortúnio, ele também foi amigo, ajudou e muito, e apesar de tudo não guardo mágoas.

         A reciclagem dos malhados ficava bem no início de uma favela, a do Dique, no Jardim Metrópole em São João de Meriti, em um determinado momento, sempre que aparecia por lá, encontrava estacionados D20 da polícia civil ou da militar, era muita polícia que freqüentava o depósito, obviamente, isso desagradava os traficantes da favela, que acabou criando uma rixa perigosa, a soberba tomou conta dos irmãos, eu via materiais de empresas enormes, estacionados na calçada a céu aberto, bem poderiam ser de leilão... E os irmãos passaram a trabalhar armados.

         Pra se ter uma idéia do perigo, uma vez, um comprador de papelão resolveu deixar uma de suas prensas conosco, em troca de exclusividade na compra, no primeiro dia da prensa no quintal, a máquina atraiu duas viaturas cujos policiais desceram do carro, exigindo documentos e nos ameaçando de prisão, alegando ser maquinário roubado! É claro que o comprador nos deixou conosco também os papéis.

           Uma vez eu perdi a paciência, um civil, querendo arrumar dinheiro, e não encontrando nada que indicasse roubo, resolver implicar com uma antena de TV a cabo enferrujada da Directv jogada na sucata!

        _Você não pode comprar! Isso é roubo! Eu posso te prender por isso!

       _Senhor, com todo respeito, mas ninguém vai subir na laje de uma casa, desparafusar a antena, retirá-la, roubá-la, para vender a 4centavos o quilo!!! Com esse trabalho todo, é melhor invadir a casa e assaltar o morador!

         _Mas não pode comprar! Vou ser legal contigo e não vou te levar pra delegacia! Não compra que isso é roubo!

         E se foi, muito puto, mas sabendo que não cairia nas bravatas dele, tentou partir “por cima”, até acredito que seu sadismo já estava satisfeito, pois antes de entrar no FV, ele deu uns tapas na cara do vizinho que queimava uns cobres...

         As coisas ficaram ainda piores quando Marreco, funcionário e filho de Zé Caralho, foi assassinado. Quando lembro da história a minha barriga gela, foi o próprio Tião que me disse o estado em que foi encontrado o corpo do sobrinho: com um ponteiro cravado na testa, a pressão na cabeça foi tanta, que a parte de cima do crânio estourou.

          O Marreco não merecia isso, era legal, era trabalhador, era amigo...

         Tudo porque ele estava namorando uma menina da favela, e como os traficantes não gostavam do depósito, acharam que ele era X9 e fizeram de seu brutal assassinato um recado para os irmãos.

         Tião não deixou barato, e mandou seus capangas atrás dos assassinos, a ordem era matar quem estivesse pelo caminho...

         Uma vez os irmãos carregaram no FV, fui de carona com eles para pesar a carga e recebê-la. No caminhão só eu e os funcionários, o depósito ficava logo numa esquina, no pé de um morro, chegando lá, com o caminhão quase dobrando a rua, vimos um monte de carros da polícia civil estacionados, até aí, nada demais, mas o um dos meninos da boléia falou espantado: O Álvaro Lins!!!!! Na época secretário de segurança pública do Rio de Janeiro. Jorge disfarçadamente fez um gesto com a mão para nós: VAZA!!!

         Sem correr e fingindo que não era conosco continuamos o caminho, mas onde estacionar? Onde esconder o caminhão?

         O meu também estava na reta!!!!

          Até a Rede Globo estava lá! Seria um flagrante ao vivo!!

          Já me imaginei:

         _A senhora é uma das fornecedoras do maior comprador de cargas roubadas do Rio de Janeiro? O que tem nesse caminhão? O que a senhora vende pra ele?

         MEU PLANO ERA:

         _EU SOU INOCENTE! ESSA CARGA NÃO É MINHA! EU SOU APENAS UMA CARONA!!!

          Não que tivesse algum produto de roubo. Mas eles estavam prendendo todo mundo!!! De catador com latinha, a um cara que do porta malas de seu carro, havia levado alumio perfil para vender! (esquadrias de alumínio). Era tudo pedaço cortado, sobras, de sua provável loja!!!

         Infelizmente no caminhão, havia sim, um material que poderia no mínimo me dá umas semanas de cadeia:

         Naquela semana, uns meninos apareceram com uns saquinhos de alumino pra vender, era um alumínio usado para revestir cabos de cobre, principalmente da Telemar. Não comprava os cobres da Telemar, mas o alumínio, embora também fosse prova de um flagrante, era pouquinho, e achava que não me traria maiores aborrecimentos, era só amassar bem e enfiar no fundo da caçamba de geladeira e despejar as panelas em cima.

         E eram crianças, que provavelmente, revirando os matagais da vizinhança, acharam esse alumínio em uma fogueira de queima de cobre, já que para esse tipo de ladrão, pouco interessa esse material.

         Com certeza revirariam todo o caminhão e começariam as mesmas perguntas imbecis: Da onde é isso- da onde é aquilo-quero telefone e identidade de seus clientes, nota fiscal blá blá blá blá blá bla blá blá... E nessas horas é melhor ficar calado, quanto mais responder, mais perguntas, exigências e acusações fazem.

         Não tivemos outra saída, nos enfiamos dentro da favela do Dique, pois não sabíamos se alguém tinha nos vistos, ou se seríamos caguetados por algum vizinho puxa-saco.

         Ficamos algum tempo esperando, sem saber o que fazer, até que decidi que iria lá.

         “Vocês ficam, como funcionários, podem sobrar pra vocês também, e ficam aí tomando conta do caminhão.” E fui.

         Conversei com o Jorge, Tião estava detido, e João também. Falaram para voltar no dia seguinte que tudo estaria resolvido.

          A Reis e Filhos foi tema do RJTV, e os irmãos ainda tiveram uma matéria nacional no Fantástico! Gravaram até ligações em que João negociava as cargas roubadas e foi taxado como o “Maior Comprador de Cargas Roubadas do Rio de Janeiro”

          Não tive mais dúvidas quando um amante de longa data da minha vizinha, que eu sabia que era chefe de uma quadrilha de assaltantes de caminhão (mas ele não sabia que eu sabia, foi a vizinha que me contou), comentou:

         _Que sacanagem!Prenderam o meu amigo! Amigão mesmo!Nunca me deixou na mão! Pegava até dinheiro adiantado com ele!

          Os irmãos se renderam ao lado negro...

          Hoje eles continuam na reciclagem, espero que SÓ NA RECICLAGEM, mas não estão tão poderosos como antes, pra se ter uma idéia, João ano passado, foi visitar o Alex no seu FV, algo inimaginável antes.

          E Tião foi o único preso, passou uns anos na cadeia, com a fama de Álvaro Lins, fico pensando na bolada que ele levou para não prender os 3, e o alvo das investigações era o João. Mas isso são suposições. 

         Espero que com essa segunda chance eles aprendam a mais importante das lições: Por mais que tenham um exército de policiais na mão, ou até mesmo um batalhão inteiro comprado, basta apenas que um policial resolva abrir a boca e tudo vai a baixo. Isso pra mim é perda de dinheiro, investimento nulo.




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