A Extinta Aristocracia Paulinense

 Olá leitores frios e distantes!

Outro "clássico" da outra plataforma. Embora eu tenha contado essa história por outras óticas. Aqui me concentro no bairro e seus habitantes.


Vocês sabiam que Belford roxo já teve um retiro de artistas na década de 40 e 50 frequentado por grandes estrelas das chanchadas e até por algumas múmias que até hoje, ainda caminham sobre a Terra e é/foram grandes estrelas da Globo?


Quando minha família mudou-se para o bairro, há mais de 40 anos os artistas haviam desaparecido e o retiro perdido todo seu Glamour. Entretanto, os habitantes do bairro ainda ostentavam o passado.  Ser esnobado é ignorado por um carioca zona sul ou niteroiense é fichinha perto desses belforroxenses.


Daquele lugar, além da tragédia que foi o sítio, eu herdei um impigem da piscina do clube que colou em mim por quatro anos!!

O esnobe clube ainda existe, agora, um dos ilustres "sócios" são traficantes que frequentam a piscina com suas armas de guerra tranquilamente. Eu duvido que esses "sócios" precisaram pagar por um título caríssimo e tão pouco, sejam esnobados e ignorados pelos outros sócios,


Boa (re)leitura:


A EXTINÇÃO DA ARISTOCRACIA PAULINENSE


Quando descobrem onde moro e minha origem, seja onde ou de como for, aparecerá um carioca, mesmo sendo de um subúrbio violento, sujo e fedorento, dominado por tráfico ou milícia, tirar onda com a minha cara.

“Tu moras mal.”

“Gente atrasada e da roça.”

Não são os cariocas os mais bestas, mesmo morando em lugares horríveis de se viver. Niteroiense é ainda pior. Não queira sofrer discriminação social de um habitante de Niterói.

Apesar disso tudo, descobri que moradores de Belford Roxo esnobam outros moradores da mesma cidade.

Foi nos anos 80 que descobri a sociedade mais preconceituosa, fechada e discriminatória. Eles não eram cariocas da Zona Sul. Eram os moradores de um desconhecido bairro, dentro de outro, atualmente conhecido pela sua violência e controle do tráfico.

Bairro Retiro Feliz, dentro do Distrito de Vila Pauline.

Minha mãe havia realizado o seu sonho de comprar o seu sítio.

Ela foi criada em um.

Ela sempre dizia que, quando chegaram ao Estado do Rio de Janeiro, as terras da minha avó eram mata virgem, com cachoeira e tudo. Que D. Umbelina capinou tudo sozinha na enxada pra fazer a sua roça.

E com tristeza gigante, falava da canalhice do seu padrasto, que trocou as terras por um terreno de barro e poço, simplesmente para não trabalhar na terra, quando minha avó, sem saúde, não podia mais. 

Esse mesmo crápula, pastor da Assembleia de Deus, tinha uma segunda família, no dia seguinte a morte da esposa, foi morar com a amante, já cheia de filhos dele.

Mesmo assim, achava que minha tinha obrigações com ele. Sempre aparecia em casa para pegar dinheiro, e de vez em quando, meu pai empregava algum filho dele.

Minha mãe nunca me apresentou o seu ex- padrasto, nem como “meu avô” pra mim era um desconhecido na casa, tão pouco, os filhos dele como “meus tios”.

Não tínhamos consanguinidade, contudo, sabemos que em família, é comum considerar esses casos como parentes.


O sítio ficava num morro, e nossa casa era vista por toda parte baixa do bairro.

Na parte baixa, descobrimos o que era um clube.

Um lugar com piscinas, quadras, bares onde somente os sócios frequentam.

Meus pais ficaram sócios, e começamos a frequentar.


Nossa nova casa ficava na parte alta, no morro, onde havia poucas casas e muito mato, e embaixo um clube chamado Clube Campestre Retiro Feliz. Era enorme com duas piscinas, campos de futebol sociaty, quadra de voley, golfinho, sala de jogos, bar...

Mas só freqüentava quem era sócio.

E nos tornamos sócios!

O bairro foi no passado (década de 40 a meados da década de 60) uma espécie de Retiro dos Artistas, onde eles tinham a sua casa de campo, e só tinha casarão nesse lugar, mas quando nos mudarmos para lá, os artistas não freqüentavam mais, o único que ainda morava por lá, era o ator de chanchadas Anquito.

Era caro ter um título desse clube, e não bastava ter o título e freqüentar; fazer parte daquela sociedade era difícil.

Por dois anos freqüentei aquele lugar e não consegui fazer amizade com ninguém.

Mulheres, mesmo descalças, andavam no salto alto, empinavam o nariz, e os homens só viviam entre eles. Meus irmãos mais velhos, devem ter sentido a mesma estranheza, eles sempre levavam uma turma junto, pois os rapazes não abriam a guarita para novos membros da turma.

Paquerava, era ignorada, puxava conversa, viravam a cara.

Só abriam a boca para me zoar ou rir de mim.

Foi o único momento em que senti vontade de dizer: O meu pai, é muito mais rico que o seu, temos duas casas, três terrenos, um caminhão, uma Kombi e um carro, então pare com essa palhaçada!

Mas não tinha essa maldade ou eu era covarde mesmo, abaixava a cabeça, pois quando dizia o negócio do meu pai (ferro-velho) aí que os garotos discriminavam, pois nossa família vivia do lixo, no lixo para o lixo.

Quem na escola descobria onde morava, fazia isso...

Se nós, que éramos do mesmo município, e entre classes semelhantes, sofríamos discriminação, por não ter “nome” e nem “pompa” de “high society” , fico imaginando o “novo rico” que se muda para Barra da Tijuca ou Zona Sul, o quanto eles sofrem para ser aceito entre os seus “iguais monetariamente”.

E o clube se mostrou uma bosta literalmente; peguei uma impigem naquela água, da qual me custei a me livrar, pra dizer a verdade, ela só sumiu depois que parei de mergulhar naquela água...

Só os filhos dos granfinos tinham acesso a rede de voley, bola, raquete de pingue-pongue, e eu só ficava olhando, nem me convidavam para jogar, apesar da minha cara de vira-lata abandonada...

Apesar da pose de seus moradores e dos casarões, com arquitetura moderna, jardins bem cuidados e portões e muros gigantescos, o bairro já estava em decadência, a maioria dos moradores viviam de passado, muitos eram moradores que se mudaram depois da “era de ouro” do bairro, algumas das casas, abandonadas, tomadas por seus caseiros. Como foi o caso do nosso sítio, a moradora não aparecia por lá há mais de 15 anos, tanto é que permitiu uma caseira com 9 filhos, morando no seu imóvel.

Já era visível em algumas casas, o desleixo com o quintal, a tinta e o muro. Mas a pose precisava ser mantida...

Por motivos já contados aqui, forças superiores nos expulsaram da casa, e mesmo de longe, testemunhei a franca decadência do bairro, as casas a venda, a favelização (e por causa disso, muitas a preço de banana) a violência crescente e a decadência, acima de tudo, do clube, que não é mais um clube fechado, muitos sócios se mandaram e abandonaram o clube, que acabou virando uma mera piscina de entrada paga, e a noite, local para bailes funks.

Nada mais que merecido.

O bairro Retiro Feliz, que era dentro da Vila Pauline, uma célula de esnobes dentro de um bairro pobre, perdeu-se, e nem a sua triunfal entrada existe mais. 

Sinto vontade de caminhar pelas ruas e mandar todo mundo se fuder com os dedos, toda tatibitate, saltitando com os pés, mas as pessoas do meu tempo não estão mais lá, saíram batidas, ou quase expulsas, como ocorreu com meus pais, e é claro, com a bala comendo solta por lá, não quero virar alvo de bala perdida...

Mas quem sabe um dia eu pixe no muro do clube: Que decadência...







Comentários

Postagens mais visitadas deste blog