Elay O Sucateiro

Como já avisei, estou sem notebook , e não devo tão cedo comprar outro, entretanto, publicarei aqui contos e crônicas de quando esse blog pertencia a um outro hospedeiro, que, apesar da página acabar, sem saber e sem querer, alguns textos estão na nuvem, pena que a saga que escrevia foi por água abaixo, assim como o pen drive que possuía esses arquivos.

Se a comunidade quiser se reunir, fazer uma vaquinha ou me doar um notebook usado, fiquem a vontade. 


ELAY




Elay é sucateiro, tem um depósito de reciclagem mediano.

Cheguei a fazer negócios com ele, infelizmente não foi muito bom, e nem sempre por causa dele, em outros, a culpa era dele.

Uma vez enviei uma carga de ferro, a diferença entre a minha balança e a dele foi mais de meia tonelada.

Um cara culpou a sua mãe, hoje falecida.

Era ela que trabalhava no ferro-velho, Elay ficava na rua com o caminhão comprando e vendendo sucata.

Um cara a chamava de “crente ladrona”. Porque se sentiu garfado nas vendas de recicláveis que havia feito para ela.

Ela atendia, pesava, fazia as contas e pagava.


Uma vez, num sábado, Alex me ligou e pediu para fechar o ferro-velho. 


Tente imaginar você, novinho, geração Face Book e Smartfone, como as notícias corriam.


Não tínhamos nada dessas tecnologias, celulares ainda eram raros, ainda assim, as notícias, principalmente as ruins, corriam na mesma velocidade de hoje.


Elay foi preso.


Sua mãe havia acabado de comprar setenta quilos de cobre da Telemar, o que era proibido.

Assim que o carro saiu, um batalhão, digo de novo, um batalhão da polícia civil adentrou o ferro-velho do Elay e deu voz de prisão em flagrante a mãe de Elay, além, claro, dos esculachos de sempre.

 Expulsar os fregueses no grito, bater nos peões e até em alguns fregueses.


A polícia é muito corajosa e altiva quando encara um trabalhador.


A velha desmaiou, caiu no chão desacordada e os policiais mandaram jogar água na cara dela.

“Essa velha ta fingindo! Levanta velha safada!”


Elay apareceu e peitou os policiais, que queriam fechar o portão.

Ele se recusou a fechar o portão, alegou que apenas trabalhava, que eles deveriam parar com aquela palhaçada e se queriam dinheiro, que negociasse logo e agora.


Meu amigo leitor, um conselho:

Se estiveres baleado em um assalto e aparecer um policial civil fazendo pouco caso ou suspeitando de você, achando que você se baleou para roubar a sua própria carteira, apesar do absurdo da situação, ela é muito comum.

Não haja como cidadão indignado. O policial, apesar de ser um funcionário público que recebe o salário de seus impostos, ele não deve nada a você, tão pouco satisfações e trabalho.

Não bata nunca de frente com essa gente, eles só respeitam advogados diplomados, gente culta que conhece os seus direitos, eles vão esculachar ainda mais, caso você, cidadão de bem, apenas reclame por um.  


Elay pegou um gancho de dois meses na cadeia, ferro-velho reaberto, a mãe do Elay trabalhava chorando, empregados se uniram, assumiram até outras funções para ajudar a combalida mãe pela dor de ter o seu filho preso.


Quando Elay finalmente conseguiu o habeas corpus, saiu da cadeia como um touro enfurecido, xingando a mãe e o pai, sem dó nem piedade, culpava ambos pelo seu infortúnio.

O cara sabia ser ignorante, eu mesma fui vítima dos seus coices.


O ROUBO DA CAÇAMBA DO ELAY

Um motorista do ferro-velho de Elay estava em mais um dia de trabalho, por uma razão que desconheço, ele havia saída à rua com o seu caminhão caçamba com ela vazia.

Deixou a caçamba em um terreno aberto, beira de pista aqui perto em Coelho da Rocha e foi em outro lugar, buscar uma caçamba cheia para descarregar.

Feito o serviço e devolvido a caçamba na origem, ele horas depois foi buscar a caçamba estacionada no terreno.

Só que ao chegar...

TUIM!

A caçamba sumiu!

Outro caminhão, coincidentemente, caminhão-caçamba, sem a caçamba, passou por ali, viu uma caçamba deixada no terreno aberto sem ninguém por perto, sem nenhum comércio próximo para reclamá-la.

O caminhão levou a caçamba.

Elay teve a sua caçamba roubada.

Começou-se então uma caça a caçamba do Elay, ele junto com um amigo policial, visitou todos os ferros-velhos do Rio e Baixada Fluminense, mas já estava perdida.


Quem a comprou bastou pintá-la por cima do logo ou pintar toda a caçamba e dificilmente seria reconhecida.

Depois dessa, todos os ferros-velhos passaram a carimbar as suas caçambas com solda.

Mas será que necessariamente o motorista ladrão e o comprador do roubo eram sucateiros?


TEXTO BÔNUS

Infelizmente, fui eu o pivô da separação entre Solimar e Elay.

O cara saiu com duas meninas e disse que o meu ferro-velho era o dele. Uma delas esqueceu os documentos no seu carro, e foram lá a procura dele.

Reconhecido e visto que o sacana deu um endereço falso para enganar as meninas, as mandei para o verdadeiro ferro-velho dele, na época em Mesquita, e quem ficava lá era a sua esposa.


O casamento já não estava muito bom, antes dessa saidinha de Elay, Solimar já havia descoberto uma e na sensação de “a última à saber”, já que quando ela descobriu, o mundo inteiro já sabia. 


Solimar deu a volta por cima, acredito que o divórcio só fez bem a ela.

Recomeçou a vida do zero, cresceu, se casou de novo e estava muito feliz.

Nós sabemos como os homens são ou a maioria deles.

Rico, o atual marido dela fez dívidas no nome da esposa, comprou um apartamento na Barra da Tijuca escondido dela (não precisa explicar pra que, não é mesmo?).

Mais uma reviravolta na vida de Solimar, no final das contas, soube que o cara ainda entrou na justiça pedindo pensão.

O bom desse ramo, é que se você constrói um nome, as portas nunca se fecham.

Grandes sucateiros costumam ajudar um ao outro, foi o que aconteceu com a Solimar.

Ela fechou o seu galpão, hoje é compradora do Luquinha de Jardim América. Um dos poucos compradores da velha guarda ainda na ativa.


Ele, até chegar ao que é hoje, como um grande comprador de sucata, passou poucas e boas.

Uma vez, quando fui à Reis e filhos, vi João colocando em dia os documentos da firma, registros, notas fiscais e registro de saída, motivo: a polícia estava fazendo uma faxina no ferro-velho do Luquinha, e era acho que a terceira que ocorria só naquele ano.


Hoje ele está bem.

Apesar da idade, continua trabalhando no galpão, pesando, mandando nos peões, conferindo a sucata e dando ordens ou bronca no pessoal do escritório (como eu vi uma vez) pelo rádio.


E ao contrário do que aconteceu com meu pai, o filho de Luquinha o ajuda no comércio do pai, no setor de exportação e importação, o cara ta comprando e vendendo sucata da China.

Não é de hoje que fico sabendo da entrada dos chineses no ramo. Eles costumam adentrar na reciclagem no comércio de sucatas eletrônica e catalisadores.

Um negócio, que nos seus primórdios era controlado pelos portugueses.

A Balprensa está na segunda geração de filhos de portugueses tocando o negócio.


Ao contrário do que pensam, ferro-velho não é máfia, é negócio familiar, por enquanto, não sei qual será o futuro da reciclagem, se os chineses quiserem entrar com tudo nele.

Talvez apenas “troquem de famílias”. Eles parecem estar se cansando do salgado e do caldo de cana.

Sejam bem-vidos.

Não tenho nada contra




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