O Dia em que Quase Fugi de Casa

 Olá robôs do Google que estão sempre aqui para a plataforma me dar uma moral. O copia e cola de hoje , é um texto bem antigo que havia prometido publicar aqui, porém nunca fiz. Como disse antes: "mídia perdida achada".

Não foi o dia em que meu pai mais me meteu medo. Entretanto foi o dia que é o melhor exemplo de definição do que era conviver com um homem "que falava em códigos" e não aceitava perguntas. Apesar de tudo, ele não merecia o  fim melancólico, humilhante, doente e falido. Ainda mais causado por aqueles que deveriam acima de tudo honrá-lo.. Mesmo com todos os seus defeitos, ele foi um pai. Sou uma traumatizada, destruída psicologicamente graças a sua criação e a convivência com meus irmãos, entretanto, ele me deu comida, roupa e estudo. Se fracassei, a culpa é toda minha.

Eu perdoo pa,i e o agradeço por tudo.


O DIA EM QUE QUASE FUGI DE CASA

E/OU

A QUEDA DE SEU MIRO...

APRESENTAÇÃO:


A cara do vovô. Meu pai não conheceu nenhum neto dele. Ficaria todo bobo, o selvagem gigante babaria por esses bebês, pois os filhos do Alex se pareciam mais com o vovô, do que com o próprio pai.


Sou assim: mundana. Sem definição, rumo, ambições, introspectiva, Era pra ser uma divertida história de um apuro que passei com o meu pai entre tantos outros, escolhi esse, porque melhor definia o como era difícil entender, e obedecer ao velho. Altivo, mimado, temível, invejado e odiado. Cara, meu pai foi muito odiado, mesmo por aqueles a quem ajudou, e mesmo aqueles que ainda possuíam um sentimento bom por ele, quase sempre tinha que respirar fundo e fazer força para continuar amando-o.  Porque o velho abusava de seu direito de gritar, humilhar e esculachar, mesmo com quem não tinha nada a ver com o seu mau humor!

Perverso? Onipotente? Onipresente? Um deus?

Não. Apenas um pai que da maneira que pôde, foi um pai, um bom pai, e que no maior gesto de amor da sua vida (adotar um sobrinho, filho de um abuso sexual) recebeu em troca, a traição, a indiferença, a ruindade.  Não dá pra guardar mágoas de um homem que ainda em vida, sofreu tanto, mesmo sabendo que em sua vida, ele tenha sido injusto, grosseiro e soberbo com aqueles que o escolheram para amar, apesar de tudo...


AGORA O TEXTO EM SI.

BOA LEITURA!




Era uma tarde comum, passei parte dela, na casa da Adriana Nascimento, junto com outros colegas da escola, discutindo, estudando e revisando o nosso trabalho para a feira de ciências no CEM.

O nosso tema seria O Universo, e com ele, ganhamos o 1° lugar na feira na categoria 7° série ao 2°grau, em segundo lugar ficou a Hellen, que desde o ginásio, recebia premiações sucessivas em todas as feiras. Isto é: vencemos a CDF da sala, e também os esnobes, os soberbos e os implicantes do 2°grau!!! Que vitória gostosa! No pódio eu era a que mais comemorava!!!! Eu era uma repetente da turma, ano passado, abandonei a escola por problemas de saúde, mas foi nessa turma, onde conheci a verdadeira amizade e a glória de ser popular. E quem diz que isso não fez a menor diferença em seus tempos de escola, com certeza tem o recalque de nunca ter sido notado ou famoso ou popular. Eheheheheeheh...

Nunca mais vi a Nascimento, não sei que rumo tomou a sua vida, ela era determinada, forte, obsessiva e nessas reuniões agia como um chefe. Cobrava, dava suas broncas; nunca levei para o lado pessoal o seu comportamento. Espero que em sua vida, tenha tido oportunidade, pois chefe, ela sabe como ser.

Findo a reunião, apesar da distancia, resolvi voltar pra casa a pé.

Aproximando-me do ferro-velho, vejo um dos funcionários de meu pai, do outro lado da rua, descarregando os sacos que estavam dentro da carroceria da Kombi, quando adentro ao estabelecimento, o menino já estava no meio do quintal, com os sacos no chão e meu pai da varanda gritando muito:

_SEU BURRO! SEU MERDA! SEU JEGUE! NUCA VÍ UM BICHO TÃO BURRO QUANTO VOCÊ! VOCÊ É UM IMPRESTÁVEL, SEU FILHO DA PUTA! VAI PRA PUTA QUE PARIU! ¨&%$$#$$#$$%¨%¨*&¨¨%$# _ e por aí vai...

Como as outras testemunhas do ato, aquilo me assustou, e antes que sobrasse pra mim e pudesse correr dali, ele me avistou:

_VOCÊ!!!! VAI LÁ NA *&¨¨%¨$##@#$$$ E MANDA TRAZER A *&¨%%$#$@###%%%!!!!!

_Mas pai, aonde?

_LÁ NA PUTA QUE TE PARIU! NA CASA DO CARalhO! NA PORRA DO CACETE!!!!

Como era de costume, não fiz uma segunda pergunta, pois a resposta para ela seria, na melhor das hipóteses, uma hora e meia de xingação ou ele pegaria algum objeto mais próximo a sua mão e correria pra cima de mim e me bater.

Escondida dele fiquei igual a uma barata tonta, pra lá e pra cá, procurando saber com os outros, para onde deveria ir, e o que mandar trazer, ninguém sabia, sem respostas, saí de casa com a intenção de não voltar mais ou não voltar tão cedo, passaria uns dias na casa de minha tia e depois veria se teria coragem de encará-lo de novo, mais calmo.

Imagine uma situação que tenha te deixado com muita, mas muita raiva, de preferência a uma situação em você não pôde falar o que gostaria, com toda essa raiva, grave seus desabafos e inclua os palavrões mais cabeludos que conhece junto a ele, em seguida, chame alguém e diga que gostaria de lhe falar alguma coisa, e reproduza suas palavras em uma caixa de som poderosa, de preferência a aquelas de baile funk. O decibel alcançado pela caixa, no volume máximo, não chega nem a 10% da poderosa voz de Seu Miro, e se a pessoa ficou assustada, trêmula, olhando para a sua cara de olhos arregalados, é mais ou menos assim a reação das vítimas dos infortúnios de Seu Miro...

Na esquina da rua, Almir me alcançou e me disse o que meu pai queria:

A *&¨%¨$$#%¨¨%$## era o bar em Belford Roxo, um negócio mal logrado que meu pai tentou manter no centro da cidade, e a *&¨%¨$#@#$$$ era os sacos de alumínio que estavam dentro da Variant, estacionada no bar...

Mais tarde sem a presença de meu pai no FV, todos tentavam consolar o garoto que estava arrasado, e depois me explicaram a razão da confusão e da fúria do “todo-poderoso”:

A empregada, o meu irmão, o pedreiro, os outros empregados todos criticavam a atitude de meu pai.

_Ele disse para o rapaz: “Vai lá fora e traz os sacos que estão no carro.” Como lá fora estava a Kombi, cheia de sacos com material esperando ser descarregada, o menino presumiu que era isso que ele queria. Ele não disse que era para ir ao bar e de lá, trazer os sacos de alumínio que estavam na Variant.

Meu pai foi um “adulto mimado” um “patriarca-déspota”, sua palavra era lei, suas verdades absolutas, só que nunca explicava direito o que queria, tínhamos que adivinhar, pois se perguntasse o que não entendeu...

Esse era o comportamento de meu pai mais temido por mim, acho que por todos, até mesmo uma boa notícia virava um tormento por causa das suas meias-palavras, você não entendia nada e não sabia como reagir, como ficávamos indiferentes, ele repetia já muito puto a “boa notícia” que queria passar. Assim, quando ele gritava “Nitinha” ou “Nita” (daí meu apelido Anita que criei no Face, em sua homenagem, pois ao longo da minha vida, ele nunca disse o meu verdadeiro nome) eu me aproximava já tremendo e nas pontas dos pés e prestava atenção, mas muita atenção em suas palavras, ainda assim, era difícil compreende-lo.

Ficaram traumas, mas também muitas risadas, boas lembranças que me ajudam a superar a parte ruim de ter sido filha dele, até hoje tenho dificuldade em conviver com meus parentes paternos por causa de uma surra que ele me deu em uma reunião da família dele. Não foi a única, foi a pior, meu pai adorava bater na gente com visita, parente ou freguês por perto, ele gostava de platéia, era como que se quisesse dizer: “vejam o meu poder de pai.”

 Mesmo aos olhos constrangedores das pessoas. 

Coisas que ele nem ligava, com gente perto, ele explodia, esse era o Seu Miro...

Todavia, era bem provável que todo esse comportamento, essa fúria e soberba, não passavam de um escudo da verdadeira fragilidade que ele tentava esconder.

Pois no maior desafio de sua vida, ele fraquejou, fingiu não ver o que acontecia embaixo de seu nariz, se fez de cego e entregou os pontos cedo, na verdade ele nem tentou lutar.

Com a morte de meu Tio Ito, poucos anos depois da morte de minha mãe, meu pai perdia o seu braço direito, pernas e alicerce nos negócios, apenas mais uma das pessoas que conviveram com ele e não tiveram o seu devido valor.

Pela ordem natural das coisas, quem assumiria a gerência do FV, seria o meu irmão mais velho: O Almir, já maior de idade e adulto, que ajudava meu pai em seu comércio, todo ferro-velho precisa de um gerente de estrema confiança e habilidade, para atender os fregueses e gerenciar o caixa, normalmente, o dono fica muito na rua, comprando e negociando preços e pagamentos com seus compradores e fornecedores atacadistas.

Tudo que Almir fez com o novo cargo, foi roubar. Aumentava os pesos, tirava dinheiro do caixa, dava vale falso, isto é, o “freguês” que nada trazia, normalmente algum garoto menor de idade com quem ele tinha intenções de “romance” recebia uma ordem de pagamento para receber mais tarde.

Um dos meus outros irmãos, vendo essa roubalheira ficou na dele, Alex tentou avisar meu pai, mas levou bronca do velho, era assim como ele reagia, o roubo era tão descarado que um dos compradores presenciou a armação e foi avisar o velho, levou um fora, quase foi expulso do escritório. E Tião Malhado da Reis e Filhos então respondeu:

_Se você não tomar nenhuma atitude, vai terminar falido e faminto, e ninguém mais desse ramo te emprestará dinheiro pra trabalhar!

Foi o que aconteceu...

Na única vez em que ele admitiu o que estava acontecendo em seu ferro-velho, foi pouco antes de ele morrer, com o comércio e a vida em frangalhos e o Almir vendo que não tinha mais o que roubar do próprio pai, o abandonou.

 Ele pensava estar sozinho em sua casa, então, chorando como um bebê desabafou para as paredes:

_Meu Deus, meu próprio filho me roubando.

Essa foi a triste história de vida de Seu Miro, não creio que a vida tenha sido justa com ele. Mas ele foi fraco, teve todos os motivos pra botar um filho ingrato na rua e não fez, talvez por amor, mas pode ser também falta de coragem, por muito pouco, ele  me expulsou de casa. Talvez o Almir, mesmo não sendo seu filho de sangue, tenha sido o seu preferido, a única atitude que ele tentou, para reverter a roubalheira foi montar um comércio para o Almir, montou fero-velho, montou um bar, mas este (éca) meu irmão gostava de dinheiro fácil, tinha uma outra família para sustentar (umas meninas que em troca de contas pagas, arrumava homem pra ele) e também garotos. Nesses tempos, não era crime transar com menor, e os meninos de 13 a 15 anos, só se aproximavam dele para conseguir roupas caras, um de seus “casos” um pouco mais velho, chegou a colocar a noiva para viverem juntos e serem sustentados na casa do Almir...

Levou os negócios a falência e um monte de dívida para o meu pai pagar.

Antes de qualquer coisa, antes que alguém diga que isso foi por causa de ele ser adotado, pedófilo e gay, nunca soubemos dessa história, que só foi à tona após a morte de minha mãe, uma pombagira fofoqueira falou essas merdas pra ele, e no dia seguinte minha tia apareceu querendo reconhecer o filho, meu pai, um homem das cavernas, sem estudo e sem educação nunca jogou na cara a sua homossexualidade, mesmo com o filho levando homens para dormir em casa. 

Ele teve carro, moto, uma casa montada, uma mesada gorda, um verdadeiro playboy. Ok, apanhou muito, as surras levadas por mim e Alex juntas, não chegam nem a metade das surras que ele sofreu, simplesmente por ser o mais velho, e no entendimento dos meus pais, o responsável pela casa e pelos irmãos.

Fez de tudo pra ficar com o ferro-velho e descobriu que sozinho ou com as pessoas que ele sempre sustentou, ele é um nada. Pois nem conta sabe fazer, agora, o que foi um dos maiores comércios de reciclagem da baixada está fechado, abandonado, ele vive o seu atual pesadelo: é porteiro de um condomínio do Minha Casa e Minha Vida, para um rapaz que se recusava a ajudar os irmãos no comércio, por não querer ser “empregado de ninguém” isso foi o fim.

Choro pela triste sina de meu pai, mas gargalho e muito, pela infelicidade dessa figura nefasta que infelizmente é meu irmão...

As fotos seguintes vieram junto com o copia e cola, sem eu perceber. Feira de Ciências 1989 e o quintal onde cresci e existia o ferro-velho.


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Nascimento e as meninas dessa vez ficamos em segundo lugar, ainda assim ficamos honradas com a premiação.



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Adriana Nascimento








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FIM

O muro da saudade. O rabisco que durou+10.




O pouco texto que digito aqui, é um martírio nesse celular todo aranhado. Imaginei escrever minhas histórias.,.


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