MOMENTOS BIZARROS DA VIDA DA ANITA





VALORES






Era bem criança, sentada no degrau da escada que levava à laje, entre alguma brincadeira com material reciclável, pensamentos fantástico de uma imaginação, fomentada na solidão de ser a única menina da família, e alheia ao que acontecia ao meu lado, barulho de martelo, conversas masculinas, fregueses sendo atendidos.

Entra um senhor magro e alto, pele parda, calça jeans, camisa de botão, azul, atrás dele um garoto.

Meu pai atendia os fregueses da sua varanda, esse homem nada trazia, mas foi logo se apresentando, falando quem era, sua reputação…


Falava alto, porém sem ser agressivo, forte, gesticulava muito. Típico de palestrantes, hoje, “coach”, era seguro de si.

Meu pai, surpreso, apenas escutava, de início sem entender nada.

Obviamente, me chamou atenção o que acontecia.

O homem queria dinheiro emprestado…

Uma emergência que seria paga logo mais.




Meu pai, além da reciclagem, possuía negócios que completavam a renda. Penhor, por um momento ele chegou a comprar ouro, mas por causa de assaltos parou.


Se hoje temos lojinhas que oferecem empréstimos a torto e a direito, e escritórios com aparente legalidade, oferecem os mesmos serviços, e sabemos destes, pelos panfletos distribuídos nas portas dos bancos, antes, empréstimos via instituição financeira eram inexistentes


Nem os grandes bancos ofereciam tais serviços.

A inflação galopante impedia planos a longo prazo.

Além de trazer comodidade aos bancos que preferiam usufruir com ganhos rápidos e de baixo risco.

Tanto que, com o fim da hiper, mega, super inflação que assolou o país por décadas, vários bancos quebraram. 

Apesar das críticas pesadas, se não fosse o PROER, as coisas ficariam :ainda piores. Lembremos: Quando um banco quebra, O SEU DINHEIRO DEPOSITADO TAMBÉM VAI PARA O BELELÉU.

Com o fim da inflação, os bancos tiveram que retomar as suas funções originais: guardar, emprestar, criar investimentos de retorno ao cliente.

A liberdade de investimento mesmo, só veio com os bancos digitais.

Abrir uma conta corrente era tão ou mais difícil que abrir legalmente uma empresa. Muito papel, assinaturas, comprovantes…

E tudo que eles ofereciam era a hoje a derrocada poupança, que é uma espécie de FGTS do povão, com mais liberdade de mexer no dinheiro, mas no quesito rendimento, é tão ruim quanto. E os títulos de capitalização, verdadeiros pega-trouxas. Ainda hoje oferecidos como barganha para o pobre do correntista que procura por mais serviços do banco, como aumento de limite de crédito, juros menores…

99,99% dos brasileiros viviam à parte do mercado financeiro. Os bancos só abriam as portas para os milionários. Nem os ricos através tinham acesso ao mercado de ações, ou outros investimentos pelos bancos.

Hoje em dia, com um real, tu podes investir em CDI e outras letras que rendem mais que a famigerada poupança. 





Para o povo comum, sobrava o agiota, e os pequenos comerciantes que de forma “não profissional” faziam algum empréstimo aqui ou alí, além de trocar cheques.

Meu irmão mesmo, por ser um comerciante conhecido, de vez em quando recebe visita de alguém duro, oferecendo celular ou pedindo dinheiro emprestado…


Embora atualmente a oferta de empréstimos em instituições financeiras seja hoje mais farta, ela ainda é bem restrita. (funcionários públicos e aposentados) ou pelo cheque especial ou cartão, que arrancam suas tripas em forma de juros.

Como ouvi uma vez, “é fácil pegar empréstimo em um banco, basta provar que você não precisa do dinheiro pedido.”

E não se enganem. Esses escritórios com recepcionista/secretária, sorriso largo e tom de quase caridade, são tudo “agiotagem gourmet”. Juros impagáveis e ameaças de morte, mesmo que o empréstimo já tenha sido pago dezenas de vezes.




O cara falou suas intenções no meio do discurso de apresentação, meu pai não reagiu, então o homem invocou sua fama nos arredores apontou para um dos funcionários do meu pai, perguntando se não o conhecia, Adelmo ficou calado.

Isso não o intimidou, insistiu na sua índole e apresentou a sua garantia de pagamento para logo mais: seu filho.


Ou ao menos era assim que o cara apresentou a criança, que o tempo todo ficou calada e imóvel, só mexia os olhos, diante da negociação do seu pai(?)


Depois de apresentar a proposta, frente a inércia do velho Miro, ele continuava a falar e falar.

E eu, assim que soube do bizarro penhor do homem, comecei a encarar o pobre do menino.

Não sei se ele percebeu. Ele estava muito quieto. paralisado, braços para trás, segurando as mãos, cabeça erguida, olhos um pouco nervosos, atentos, sua íris circulava para todos os lados. Entretanto, em nenhum momento ele me encarou.

Embora estivéssemos um de frente para o outro, só que ele em pé e eu sentada.

Assim que ouvi que o cara deixaria o menino como garantia de pagamento, me revoltei.

Calada, mas muito brava.

Encarava a coitada criança, uns anos mais velho que eu, odiando o fato de “ganhar mais um irmão”!

Sim, eu pensei isso.

Não quero!

Não quero!

Não quero!!!




“Eu não quero mais um irmão! _ Eu tinha 3!

Não quero ele!

Chega de irmão homem!!

Que meu pai não  aceite este menino pra ser meu irmão!!”


Diante de tamanha atrocidade, e nada convencido da apresentação do homem com bizarra proposta de “empenho”, meu pai disse:

_ Te empresto sim, mas aceito sua camisa como garantia,

_ O quê?! Minha camisa!! A minha camisa?! É isso mesmo?!

O homem ficou indignado!

Queria porque queria deixar o “filho” como garantia de pagamento, e quando o meu pai ofereceu o empréstimo exigindo a camisa dele, o homem ficou bolado mesmo.

Tirou a camisa, entregou e com o dinheiro na mão partiu muito puto, e o garoto atrás.

Eu, sem entender na época a esquisitice da situação, fiquei aliviada.


Que bom! Não vou ganhar mais um irmão!




Não sei se o palestreiro retornou para buscar a camisa, talvez sim, mas relembrando hoje, a certeza que tenho era que ele jamais apareceria para buscar o “tal do filho dele” que ficaria como garantia de pagamento. Afinal, a camisa me pareceu muito mais cara e valorizada.






CEF






Não ganhei a mega da virada.

Sabe que isso pode ser bom?

Afinal, quando se ganha uma bolada dessas, ou qualquer outra, a nossa única alternativa no primeiro momento é 

ABRIR UMA CONTA NA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL






Abrimos uma poupança na CEF, era nossa alternativa, precisávamos de uma conta corrente, mas era quase impossível pelas exigências dos bancos na época.

Assim que recebemos o cartão, houve problemas.

a data de nascimento não entrava.

Alex tentou, eu tentei em várias máquinas e dava data incorreta.

Nunca conseguimos fazer nada com ele.

Fui a CEF, que mesmo em dias de pouco movimento, é demorada no atendimento.

Na fila,  as reclamações de sempre.

Fiquei calada por todas as horas, na minha vez, ao explicar o que estava acontecendo, as máquinas da CEF, antes da senha, pedia a data de nascimento, e era aí que estava dando problema.

o atendente, em tom debochado e de total desprezo/desrespeito, assim que expliquei o que acontecia:

_Você não sabe o dia em que nasceu não, garota?!

Fui pega de surpresa com a reação do funcionário.

Todo mundo na fila reclamando dele, falando coisas horríveis. E o infeliz trata mal a boboca que se calou.

Por todo o atendimento para desbloquear o cartão ele ficou cantarolando que nada estava errado e que a data de nascimento estava correta. O problema era eu

Catatônica com tamanho coice gratuito, parti com o cartão na mão. Fui ao caixa eletrônico e…

A mesma bosta. Ele não aceitava a minha data de nascimento.

Naquele dia estava cansada. Não retornei à agência.

Porém bem cedo, no dia seguinte, estava lá. antes de abrir. Por isso, fui logo uma das primeiras a ser atendida.

A intenção era sacar tudo e encerrar a conta.

O caixa atendeu ao meu pedido, porém, quando viu que a poupança não tinha nem 10 dias de aberta, perguntou que havia acontecido.

E até tentei falar alguma coisa, mas comecei a chorar. 

Ele insistiu, disse o nome de alguém, realmente ficou chateado com a situação, entretanto eu estava determinada.

Nunca mais quis saber da CEF. Vou dá trabalho a eles quando for resgatar a minha bolada, pois não vou querer saber da instituição.

Não foi essa a única experiência ruim com esse famigerado banco, como da vez que fui penhorar uns brincos de ouro e perguntei a nobre concursada onde era a seção de EMPENHO, vagabunda, tipicamente embriagada com a sua arrogância que todo funcionário público tem, diante do cidadão que paga o seu salário, encheu a boca pra dizer de forma explosiva: “PENHOR!”, ESSE FOI SOMENTE O PRIMEIRO PERCALÇO NESSE FAMIGERADO DIA. mas por enquanto somente essa historinha.

Vamos começar o ano novo com notícia boa, né?




Anthony, vem aí!


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Comentários

  1. A Caixa é tão banco do povo quanto o Mercedes Classe A é carro do povo... Pelo menos o Classe A cumpre com o que promete.

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    1. Tenho outras histórias cabeludas com a Caixa. Uma delas remete bem isso que vc falou, onde a estagiária me deu uma esnobada ao perguntar sobre abertura de conta. Os bancos digitais sugiram a partir dessa burocracia que barrava quase 80% do brasileiro de ter uma simples conta corrente.

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