OS CRENTES E EU



Não tenho rancor ou implicância com os crentes. Ao contrário, os trato muito bem. O erro que cometia, e que muitos cometem, e abri a porteira da casa, logo que se ver um crente, por achar que o cara, sendo cristão, é 100% confiável. E não são. Caráter não depende da religião.

Ainda assim, fui criada dentro de um ranço familiar de “não gosto de crente.” “Crente é raça que não presta.” Por causa dos meus pais.
Não sei qual a razão do Seu Miro não gostar deles. Não sei quais foram as suas más experiências com essa gente, mas o ranço da minha mãe era nítido: O seu padrasto.
O “Seu Erpídio”, homem de quem nunca considerei avô, nem postiço, e minha mãe nunca me cobrou por isso, era pastor da Assembléia, um cara que nunca gostou de trabalhar, quando minha avó adoeceu, não podendo mais trabalhar na roça que ela tinha, trocou um gigante terreno, por um minúsculo de barro e água de poço. Quando minha avó morreu, no dia seguinte foi morar com a amante, que já tinha um monte de filhos seu.
Um resumo da canalhice desse velho, que vira-volta, visitava D. Aparecida pra pedir dinheiro... Ela nunca recusou.
O fato dos meus pais serem ligados a umbanda, também pode ter contribuído para o ranço que eles tinham pela religião e seus devotos.


A Família de Crentes ladrões e Caras de Pau
A água do sítio, que era situado num morro, era distribuída pelo Seu Severino. A água da CEDAE não subia o morro.
Porém, a água nunca vinha. Só aparecia as contas. Quando Seu Severino ia entregar, minha mãe pagava, mas xingava muito o cara.
A vizinha crente, simplesmente desviava a borracha para a cisterna dela.
Como o cara não tomava nenhuma atitude em relação a safadeza da velha, meus pais construíram uma cisterna com bomba e passamos a usar água apenas da CEDAE. A velha na cara dura, chamou minha mãe pra conversar, queria propor sociedade na nossa água.
Fico imaginando a resposta que D. Aparecida deu pra essa mulher...


Festa de Crente
Eu achava que foi pouca sorte minha, mas conheci um casal que vieram de um casamento de crentes, e reclamaram a mesma coisa. Em suas festas, somente os membros da igreja comem.
O cara dizia que ficou horas na base do bolo e do guaraná, enquanto os outros pratos eram servidos aos membros da igreja.
Minha tia, em uma festa de 15 anos, ao se despedir da aniversariante, a mesma a levou para a mesa de lembrancinhas.
Quando a debutante separou algumas para entregar a minha tia, apareceu o seu cunhado, dando o maior esporro na menina:
_Tem que guardar as lembranças para os crentes que estão na festa!


O Enterro de Zinha
Zinha foi uma velhinha a quem me apeguei bastante. Infelizmente os seus últimos dias foram tristes. Por causa da sua idade avançada, ela foi morar com a filha Rosane. Ambas convertidas recentemente. Um barraco de dois cômodos e sem banheiro. Sua cama era uma poltrona. Rosane a acolheu na má vontade. Zinha vivia reclamando dos foras que levava da filha por tudo e por nada. Vivia triste.
Antes disso, ela chegou a morar com a filha Rosa, quando esta, alugou uma mini casinha. Infelizmente, com essa mania da Rosa de convidar qualquer um para morar com ela, acolheu um casal com dois filhos, que fizeram um inferno na casa. Acabou ela, a Rosa, se mudando pro seu barraco, tão precário quanto ao de Rosane, para livrar-se do casal (!?)
No seu enterro, estava presente os membros da igreja. Uma garota começou a recolher donativos para comprar flores para o seu enterro.
Eu só tinha uma nota de 5 reais no bolso, (uns 20 reais hoje, em valores) não tinha nem uma moedinha. Não tinha como doar.
A garota de maneira grossa respondeu:
_Não precisa se explicar, se não quiser doar!
_Eu nunca negaria nada a Zinha, e você não me conhece pra falar isso de mim!!
A Rosa, que também não gostava de crentes, pegou o meu dinheiro e tentou trocar entre os presentes.
Ao entregar a garota a minha doação, ela recusou, alegando já ter o suficiente...

Dona Socorro
Conheci pessoas boas e más, crentes ou não. D. Socorro é uma vizinha que viu a gente crescer.
Sempre me chamava para os encontros da igreja, mas meu trabalho sempre impediu.
Sempre separa umas roupas do bazar da igreja pra mim, para eu comprar, ela sabe que curto um brechó. Sempre compro.
Uma vez ela me chamou para aplicar um remédio no meu inflamado ouvido. Ela é um exemplo de que pessoas boas podem ter qualquer religião. As más também.
Que Deus abençoe D. Socorro. O carinho que ela tem por mim, até me emociona.
O fato de termos ficados órfãos cedo, de um casal tão amado pela vizinhança ajudou um pouco nesse carinho que alguns vizinhos têm por nós, até hoje.





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