MOMENTOS BIZARROS DA VIDA DA ANITA

A Macumba de Vigário Geral



Não sei precisar se isso aconteceu antes ou depois daquela chacina horrorosa, onde policiais invadiram uma favela em Vigário Geral, atirando a esmo, em pessoas inocentes, onde famílias inteiras foram executadas, em vingança ao assassinato de policiais no dia anterior.
Mas foi por aí, no comecinho dos anos 90.

Dona Eulina, iria tocar uma macumba no barracão da sua nova filha de santo.
Um tipo de filho chamado de “enxerto” entre o meio. Filhos de santos iniciados e raspados em outras casas, e que acabam saindo desta, fazem suas obrigações em outras.
Eulina convocou seus filhos a irem também, Rosa, como sempre, a contragosto foi.
Ao chegarmos, a macumba ainda não havia iniciado, não por esperarem Eulina, mas porque a casa não tinha ogãs.
Casa que não tem ogã, fica dependendo de ogãs de outras casas. A maioria, só comparece nesses casos, se forem pagos para isso.
Ninguém apareceu, o jeito foi apelar para minha prima Fatinha, que é rodante. E um loiro cabeludo, que não sei se era iniciado, era filho carnal da mãe de santo do barracão.
Os atabaques soaram atravessados, tortos e desafinados, mas não tinha o que se fazer. Até que chegou um ogã, que não era filho de Eulina, era esposo de uma de suas filhas de santo.

O toque era de erê, mas como todo início de toque, toca-se o xirê, que são os cânticos dos orixás.
A primeira saia justa da macumba:
A mãe de santo era de Yemanjá Ogunté, estava presente, uma filha de santo de Eulina, recém raspada, ainda no Kelê, resguardo pós feitura de santo, também de Yemanjá Ogunté.
Era algo, no mínimo estranho que acontecia nos candomblés.
Acredito que a causa disso foi a pequenez que dominou a religião.
Gente sem conhecimento, começou a abrir seus barracões, e qualidades de Yemanjás desapareceram. Se havia alguém de Yemanjá, essa Yemanjá era Ogunté.
DUAS YEMANJÁS OGUNTÉS se manifestaram ao mesmo tempo no barracão!
Os ogãs pasmados e sem graça, assim como todos os presentes. Quem entendia do ramo, dizia que não tinha Yemanjá nenhuma ali.
A mãe de santo fez uma cara de santo virado que não convencia ninguém, a filha de Eulina, que também era sua amante, com pouco tempo de santo, também não convencia. 
“Essa Yemanjá é muito metida à besta.” Era o borburinho entre os iniciados da religião.

Fora um Obaluaê que veio da umbanda, que, manifestado, sempre ficava com um olho aberto, para enxergar por onde pisava, no candomblé, orixás não abrem os olhos de seus cavalos, quando alguém notava e olhava para ele, ele fechava rapidinho, mas logo abria o outro...

No finalzinho do xirê, entrou uma senhora com exército atrás. Tinha gente com armas escondidas, como facas e 38. Não maldei nada na hora.
No intervalo, me chamaram para o roncol, o quartinho onde os orixás são vestidos. Achei estranho, pois o roncol é um quarto sagrado para iniciados...
Os filhos de Eulina olhavam pela fresta da cortina assustados. Era umas 30 pessoas mau encaradas, algumas, como disse antes, armadas.
Devem ter me chamado para me proteger, acreditavam que alguma merda braba estaria para acontecer a qualquer momento. Talvez acreditassem que ali dentro estariam protegidos.

Começou a segunda parte do toque, iriam começar os cânticos pra chamar os erês, espíritos de crianças, foi quando a senhora com seu exército levantou-se e sua tropa junto, e a senhora se dirigiu a D. Eulina, e o exército atrás.
Ela começou a questioná-la.
Parece que na última vez que Eulina esteve no barracão de Lió, oseu enxerto, jogou uma indireta para umas mães de santo que estavam presente na festa, duvidando  do axé das mesmas. Elas na hora, não maldaram, MAS ALGUÉM BUZINOU NO OUVIDO desta mãe de santo, que a indireta foi para ela.
A mulher estava brabíssima, falou toda sua genealogia no candomblé, chegando até ao escravo vindo da África.
Eulina ouviu calada, não discutiu, depois desmentiu tudo e se prontificou a pedir desculpas de joelhos, se fosse necessário para desfazer o engano.
A mãe de santo ofendida, não exigiu tanto, e foi embora satisfeita com a desculpas de Eulina e seu exército partiu junto.

Óbvio que deu um blá blá blá tremendo!
Todos que estavam no toque anterior concordavam em um ponto:
Eulina realmente falou aquelas merdas.
A dúvida:
Quem caguetou Eulina?
Como o “erê” de Lió estava atento às conversas alheias, todos se calaram na hora e tiveram a sua dúvida respondida...



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