A LIBERDADE DE SER MEDÍOCRE


O Cachorrão é esse com roupa de lenhador,



O Cachorrão, era um dos alunos mais extraordinários que eu conheci e os professores também.
Desenhava, fazia caricaturas fazia imitação dos outros alunos, (até de mim!), no jornal da turma, que foi censurado pela escola, para não competir com o jornal do segundo grau, que ninguém sabia que eles lançariam, pra depois, a escola acabar com ele também, por economia de despesas. E quem bancava o nosso era a nossa turma, totalmente independente da escola... Ele foi a grande mente por trás dele. Principalmente com as piadas e seção de cartas.

Tinha professor cabreiro com o trabalho dele. Ao ver o rascunho da seção cômica e de abobrinhas do jornal, eles morriam de rir, mas fechavam a cara logo em seguida e avisava:
_Se tiver uma única menção do meu nome no jornal, vou tirar ponto de todo mundo!

Não havia quem não concordasse:
Cachorrão vai ser jornalista/colunista/humorista/chargista... Algo do tipo.
Trinta anos depois quem eu vejo e o que vejo:
Cachorrão no caixa do banco, vestindo o uniforme de funcionário do DETRAN.
O cara fez concurso, passou, e trabalha para uma das instituições mas corruptas do Rio de Janeiro, se não for do Brasil.
O cara sufocou ou não acreditou no grande talento que tem, para viver o sonho brasileiro (faça uma analogia ao “sonho americano”).
Passar em concurso e adquirir a tão sonhada estabilidade.

Ele escolheu a mediocridade.
Não vou dizer o caminho mais fácil, pois passar em concurso é uma pedreira.
Conheci CDFs, como o próprio Cachorrão, que ficaram até cinco anos fazendo cursinho pra passar em faculdade. Nesse meio tempo, eles tentavam concursos. E todos passavam no concurso primeiro, antes de conseguir uma vaga na faculdade pública. Mesmo o concurso nada tendo a ver com a profissão escolhida. Muitos desistiam da universidade. A vida lhes cobrava um rumo, não havia mais tempo para estudos.
Antes de ENEM e companhia, era muito difícil ser universitário.

Ao longo do nosso crescimento, somos tolhidos em nossas ideias e planos. Não há um adulto que não aconselhe um jovem a “estudar, passar em concurso e adquirir a sua estabilidade para o resto da vida”.
Se escolhemos uma carreira... Faça um concurso, passe e adquira a sua estabilidade
Se terminamos o ensino médio: Faça um concurso, passe e adquira a sua estabilidade.
Se estamos indo bem no nosso pequeno negócio... Se eu fosse você, eu faria um concurso, passava e conquistava a minha estabilidade, só por garantia É muito mais seguro, não sabemos o dia de amanhã e blá blá blá blá

Talvez, não! Tenho a certeza que foi isso que aconteceu com o Cachorrão.
Somos tolhidos, reprimidos, desacreditados em nossos sonhos e talentos.
Ok, aqui não é bem o país das oportunidades. Porém o fato de termos uma elite estatal, com direitos totais e absurdos, e essa mesma elite, mandar no congresso, mamar no país.
Qual brasileiro não quer fazer parte dela?
Por que eu tentaria uma carreira na iniciativa privada ou arriscaria no empreendedorismo, se além de ser um caminho muito mais difícil, eu nunca terei o reconhecimento da sociedade como vencedor?

O risco de ser uma Anita na vida é grande. Velha, feia e fracassada em todos os planos e sonhos que um dia almejou na vida.



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