O DIA EM QUE ACOMPANHEI ROSA NA SUA
MANDINGA.
Eram tempos de porraloka.
Vivia em macumba e tinha Rosa como
amiga.
Uma vez, no morro de Cavalcante,
houve um grave incidente entre ela e o seu irmão, por causa da cunhada dela.
O cara, muito louco, começou a chutar
a porta da casa de Zinha, onde dormia Rosa, armado, para matar a irmã.
A sua pomba-gira, a selvagem Maria
Molambo das 7 encruzilhadas, um espírito que tentou jogar Rosa do trem, que
manifestou em uma rua e tentou arranhar a cara de seu cavalo no arame farpado,
eu conheço essa maldita de outras cabeças. Ela era a pomba-gira da sofrida tia
Maura, a mesma que deixou minha tia nua, enquanto rastejava o corpo do seu
cavalo na lama.
Dessa vez, talvez sob ordem de Oxum,
a Molambo se manifestou e começou a bater na porta, em resposta aos chutes o
irmão. Junto a sua risada característica.
_Tá dando santo! Saiba que santo
também morre!
Fatinha pulou a janela e correu pra
boca de fumo, pedir ajuda aos meninos do tráfico. Que correram a tempo e
renderam Nivaldo.
Rosa sabia que sua vida estava em
perigo. Então procurou a ajuda de Dona Molambo da Lixeira, para se livrar do
irmão.
_Vamos comigo caçar encruzilhada pra
fazer a macumba?
E fui...
Eu era uma besta.
A Rosa e Fatinha, macumbeiras de
carteirinha, tinham vergonha de fazer mandingas em encruzilhadas. Nos
embrenhamos por diversas ruas de Areia Branca, e apesar de ser meio de semana,
era uma noite quente, e todo mundo estava nas ruas, nos portões de suas casas,
de bate-papo com a vizinhança e amigos.
Chegamos até a presenciar uma ameaça
de morte. Um carro parou ao lado de um coroa e disse que seus dias estava
contados e partiu tão repentinamente como apareceu.
A rua mais deserta que achamos, havia uns
caras no portão de casa e umas crianças.
_Vai ser aqui mesmo.
Sem olhar pra trás, ela fez a
primeira parte da mandinga.
Um menino começou a ir em nossa
direção, mas o pai o chamou assustado:
_Volta! Volta, moleque!
Fatinha acenderia a vela para
malandro e Rosa para a sua pomba-gira, mas titubeou. Deu pra Rosa acender, como
Fatinha carregava o cara, ela temeu que ele se manifestasse ali mesmo. Derramou
a garrafa de cachaça, e fez o seu pedido. Não participei, era apenas
acompanhante.
A segunda parte foi mais tranquilo.
Foi Fatinha que fez. Acender uma vela, invocar Molambo da Lixeira e fazer o
pedido ao contrário.
E fomos pra casa.
Houve resultado?
Demorou quase sete meses, porém,
contudo, todavia... O emprego de Nivaldo era vender maconha na boca de fumo.
Cedo ou tarde, ele teria um fim tenebroso. E foi o que aconteceu. Morreu com
requintes de crueldade.
Lembro que Rosa, como mandingueira
fez outros feitiços, mas nenhum deles funcionou.
O abestalhado do meu pai, a procurou
para fazer feitiço para matar a minha madrasta. Ela recusou, quem aceitou o
serviço, foi Fatinha, e Ângela tá viva até hoje e vai muito bem obrigada.
Em outro, tentou fazer uma espécie de
proteção ou mesmo uma forma de matar os bandidos que estavam matando um por um
os homens da família da sua comadre.
Não adiantou nada.
O pai e os 4 filhos foram mortos em
emboscada, um a um.
Ela nunca me contou a razão de tanto
ódio à família. Apenas me disse que como o patriarca era dono de oficina de
carro, e oficina era máfia(??!!)
Meu, minha família há mais de
quarenta anos tem ferro-velho e nunca fomos perseguidos por bandidos. Já
escutei várias promessas de morte de freguês insatisfeito, tive um que foi à
boca de fumo, reclamar de mim e pedir a minha caveira, foi Mazinho, um outro
freguês, que me defendeu para os bandidos, e eles deixaram pra lá.
A única situação parecida que
tivemos, foi com o sítio e por causa dos caseiros. Mas desde cedo, como já
contei em um artigo de blog, o sítio era uma tragédia anunciada. Meus pais
inexperientes, nunca deveriam ter se interessado pelo imóvel.
Coincidência ou não, no terreno
estavam enterrados uma dúzia de exus que juraram expulsar meus pais, na certa a
pedido de um dos filhos do caseiro que era macumbeiro.
Nada a ver com a reciclagem.
Acredito que até dono de padaria,
deve escutar impropérios de freguês, que por algum motivo qualquer, fala um
monte de ameaças. Todavia, é muito raro elas virarem realidade, é mais fácil um
corno sair com revolver na mão pra matar a mulher e o amante, do que um cara ir
matar toda uma família, um por um, por causa de uma oficina de carro.
O chato que a mesma macumba que não a
protegeu a família, foi a mesma que tentou avisar do perigo.
Uma entidade aconselhou a matriarca a
se mudar junto com o marido e os filhos e não dá o endereço pra ninguém, se
quisessem viver, pois todos estavam jurados de morte.
Ela se sentindo ofendida, abandonou a
macumba e se converteu a uma religião evangélica, Onde o pastor atestou que
toda família não correria perigo, a maldição de satanás estava quebrada...
No que acreditar?
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