MARTA



A Marta foi entre tantas, uma das muitas empregadas que passaram lá em casa.
Até onde sei, foi a que mais fez estragos na vida de D. Aparecida. Já publiquei aqui, o delicado tema empregadas domésticas. Que mesmo os meus pais sendo de origem extremamente humilde, não abriram mão de se comportarem como sinhô e sinhazinha em relação as suas empregadas.
Folgas quinzenais, dormir no emprego, sem hora pra pegar ou largar.
E por causa disso, apenas moças adolescentes ou mulheres solteiras trabalhavam lá em casa. A maioria não ficava muito tempo, outras apareciam, conversavam, aparentemente, aceitavam o emprego, e desapareciam. Essas eram as espertas.

A relação dos meus pais com suas empregadas eram as piores possíveis. Uma vez meu pai incitou o meu irmão Alex a levantar a saia de uma delas, com o seu brinquedo “mão biônica”, a coitada chorou feito neném, e meu pai com a sua gargalhada espalhafatosa.
Minha mãe era uma chata de galochas. Minha própria tia confirma isso, e uma vez achei uns escritos da terrível Zenilda reclamando do emprego e de D. Aparecida. Uma patroa que ficava o dia inteiro reclamando no seu ouvido. Não que Zenilda fosse santa. Era uma peste de pessoa. Horrenda, a pior possível, mas ela não é o tema desse texto.


Seu Miro foi um homem do seu tempo, portanto infiel. Não sei se ele teve caso com outras empregadas, mas com Marta foi um caso confirmado pela minha mãe, com os olhos cheios de água.
Os homens não evoluíram muita coisa. Os homens da minha geração são como meu pai.
Lembro que levei chifre do meu primeiro namorado!
Não que fosse algo traumatizante, ou importante pra minha vida, e fui saber bem depois do término do namoro.
Mas ele era adepto da filosofia animalesca, de que:
Se uma mulher dar mole, O HOMEM TEM QUE PEGAR!
Simples. Estúpida, grotesca, mas era ou é regra dos homens. Dane-se os sentimentos da parceira.
Ou:
Sou casado, mas não capado.

Vi noivos com casamento marcado, colocarem mulheres em suas casas. Noivos que eram noivos de outras meninas, com namoradas extras...
A desculpa era a mesma: sexo. Em tempos em que se exigia virgindade pra casar, a namorada oficial, a noiva possuía uma coleção de chifres na cabeça. Apesar da desculpa, depois do casamento, as coisas não mudavam muito.
Meu pai era esse homem.

O problema é que ele não tinha limites. Assediava as cunhadas. Tia Leninha, ainda bem novinha, foi vítima desse assédio. Na sua ingenuidade, foi reclamar com a irmã. O resultado? O clichê de sempre.
Meu pai negando tudo, e minha mãe culpando Leninha pelo comportamento do seu Miro.

Marta foi uma espécie de mea culpa da família. Ela era um dos 9 filhos da caseira que morava no sítio recém comprado pela família, obviamente, não teria como manter essa mulher na casa. Ela foi demitida, teve que se mudar com a filharada depois de 17 anos no emprego.
Então meus pais contrataram Marta para trabalhar na casa, e seu irmão Ronaldo como o menino para cuidar do quintal.
Grande erro!
Marta vivia quebrando as coisas, queimando, estragando comida e seu irmão não ficava atrás, e ela e seu irmão ainda comia toda a carne da família escondido.
Em uma foto de natal, ela aparece colocando chifrinho em D. Aparecida. Ela sabia o que estava fazendo. E sua mãe, a ex-caseira, espalhou por todo Retiro Feliz, que sua filha havia arrumado marido rico.
Quando ela finalmente foi demitida, minha mãe teve liberdade de confrontar Seu Miro. Ele apenas sorria calado, deixando a esposa falar.

Ronaldo morreu eletrocutado pela cerca elétrica de uma casa que tentou invadir pra roubar. Ou afogado. Ele levou um choque e caiu na piscina da casa, onde foi encontrado morto.
Marta foi vista pelo meu pai, pouco antes de ele morrer. Ele me falou que estava mais gorda que uma vaca.

Tia Nair que tinha uma casa tão grande quanto, e um marido que ganhava muito bem. Nunca quis saber de ter empregada.
_Adriana, sua mãe foi a maior prova de que empregada em casa é problema! Ela vivia tendo ataque dos nervos por causa delas.
E era verdade.
Eu morando sozinha, o máximo que tive foi diarista. Não é bom ter um profissional estranho presenciando sua vida, seu dia a dia.
E olha que mesmo assim, eu me aborreci com várias...




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