MOMENTOS BIZARROS DA VIDA DA ANITA


Estão problematizando tudo, para o maior controle social das pessoas e censuram uma simples conversa entre pessoas comuns.


 

RACISMO

 

QUANDO AS CRIANÇAS MOSTRAM AS CAVEIRAS OCULTAS DOS ARMÁRIOS DOS SEUS PAIS.

 


AS MÃES

 

Minha mãe por uma razão completamente desconhecida, bizarra, e completamente sem lógica, fazia com que a gente fôssemos expulsos de casa ao meio dia em ponto, para chegar à escola por volta de meio dia e quinze e assim, ficássemos de pé até uma hora da tarde para os portões se abrirem, e a gente entrar. Sendo que os portões fechavam somente as 13:20hra.

Uma tortura diária, e por causa disso, ainda era zoada na escola. Qualquer criança entendia a anormalidade dos horários de D. Aparecida.

Não tinha nenhum amigo comigo nesse horário.

Uma vez ao entrar na escola, puxei conversa com uma conhecida, afinal, havia ficado mais de meia hora em pé, em completo silencio, na fila para entrar no portão. Fui completamente ignorada pela garota. Ela viu alguém, gritou o seu nome e correu para ela. Ela estava do meu lado. Sorte que apenas havia feito uma pergunta boba pra puxar conversa. O mesmo aconteceu com a Eulália. Ela estava de papo com uma garota mais velha, de uma série acima, eu sentada percebi que o olhar da menina estava longe, e Eulália falando, conversando como se fossem íntimas. A garota fez o mesmo. Ignorou a Eulália, cumprimentou a amiga que estava no outro canto e se apressou pra sair do lado da Eulália, que continuou a caminhar sorrindo sem graça...

Uma vez, quando cheguei, ainda havia gente do turno da manhã indo embora.

D. Aparecida sabia do horário da escola, mas essa ansiedade em nos fazer chegar cedo demais, talvez  revelasse, que no seu íntimo, tudo que ela queria era a sua paz. A nossa ausência diária na parte da tarde deveria ser o seu momento “paraíso”.

Não sem razão. Mais acho que ela amava tanto a nossa ausência que não se importava em se livrar de nós uma hora mais cedo que o horário da escola.

De carro, a ida à escola não passava de 10 minutos, isso pegando todos os sinais vermelhos ou engarrafamentos.

 

Em mais um início de horário escolar, eu em pé, na calçada da escola, esperando o portão que demoraria a se abrir.

Havia mães que faziam o mesmo rito, porém, estas acompanhavam seus filhos pequenos e ficavam esse tempo todo com ele na fila.

Não sei se procuravam papo com outras mães, distrações, um descanso dos afazeres da casa (na visão delas). Eram donas de casa. Fico imaginando a sua vida tediosa e laboriosa de uma esposa simples nos anos 80.

Negro que é negro, não casa com branca! Pardos são peões nesse jogo de narrativa dos movimentos sociais.


 

Duas mulheres conversavam.

Uma negra, com sua filha, uma branca com o seu filho. Todos da mesma idade.

Não sei se eram da mesma sala de aula.

Em um momento os dois se estranharam, e o garoto começou a gritar com a garota:

_Negona! Preta! Neguinha!!

Até eu, uma pré-adolescente ainda em formação intelectual, arregalei os olhos.

A mãe branca imediatamente deu um carão no filho. Mas logo em seguida ele voltou a gritar com a “coleguinha”.

_Negona! Preta !

Eu lembro bem, ele não usou outros adjetivos comuns na época como: “preta de carvão” ou coisas piores.

A mãe brigou de novo, com mais veemência.

A mãe negra não reagiu, não defendeu a filha, apenas ficou calada. Era a mãe branca que deveria corrigir o seu filho.

Porém, esta calmamente conversou com a criança, perguntando se havia um negro na família.

_Tem sim, o meu tio.

_Pois é o seu nariz é “claramente” um nariz de negro.

O garoto passou o dedo por cima do nariz e respondeu.

_Mentira! Meu tio é moreno!

_Ah... É moreno agora...?




 

 

 

AS CRIANÇAS NÃO APENAS RACISTAS; INSUPORTAVELMENTE MAL EDUCADAS

 

Morador novo na casa acima da minha.

Neste tempo eu morava na beira de um morro, o morro da solidão, o morro do cemitério de Belford Roxo.

Num país como o Brasil, eu não aconselho a investir em imóveis.

Mesmo aqueles de alto padrão, em bairros nobres podem se desvalorizar de forma inimaginada quando no momento da sua compra.

Um grande fator a favor da sua desvalorização é a segurança e a política de habitação dos prefeitos que não se importam com a favelização ou com a construção de condomínios piratas, desde que os construtores sejam milicianos, ninguém vai se meter, e em breve, eles baterão na sua porta, exigindo contribuições para a “segurança do bairro”.

Um grande exemplo disso é a Região dos Lagos, principalmente Angra dos Reis e Búzios.

Se não comprou uma ilha particular, isolada do resto da cidade, se tá fudido.

Comprar para alugar também é muito ruim. Muitas leis, intervenções e a incapacidade de muitos juízes colocar pra fora uma família que não paga o aluguel há mais de um ano.

E lembremos do “caráter social” de uma propriedade particular que a constituição atual (a pior da história do Brasil) exige.

Vejo pessoas que herdaram condomínios, pequenas vilas de quarto ou casas, que não querem saber desse ramo, e sabe o quanto difícil e demorada será a venda dessa construção.

É mais fácil quebrar tudo, pois sempre há o perigo de um imóvel vazio ser invadido e você não conseguir ele de volta, devido ao caráter “social” do crime, e vender o terreno.

As únicas pessoas que investem nesse ramo e se dão bem, são os milicianos e policiais.

Duvido que o inquilino apareça com historinha na hora de pagar o aluguel, quando este bate a sua porta, cobrando-lhe com uma arma na cintura.

 

Uma vez na Receita Federal vi um cara deprimido, desesperado por não conseguir fechar a sua empresa, que há muito tempo não dava lucro.

Disse-me que possuía quatro casas alugadas, e estas lhe davam mais retorno que a sua empresa. Então contei a ele a minha péssima experiência com inquilinos, sucessivos caloteiros e destruidores de imóveis.

_Tem que saber pra quem aluga.

Mas não era esse o trabalho da imobiliária?

Se abrir uma empresa nesse país é um pesadelo, ao menos atenuado pelo atual governo que desburocratizou muita coisa a nível federal, fechar é ainda pior.

 


Meu pai tomou fumo em todos os imóveis que comprou. Nunca teve retorno nenhum.

O terreno no centro de Bel vendeu antes da sua valorização, quando a cidade torna-se município de fato, no sítio, fomos expulsos por bandidos (ex-caseiros) e ele vendeu a preço de banana, provavelmente ne recebeu o dinheiro, pois quem comprou, também foi expulso do imóvel,

O único imóvel que restava era a avenida (que ele xingou muito, outro imóvel sem retorno) e o próprio terreno da casa.

Estavam a venda, mas ele morreu antes. Aconteceria o que aconteceu com o imóvel no centro de Bel.

O dinheiro não o salvaria da falência e da fome.

Estas casinhas eram horríveis. Construídas no barro, apertadas, num lugar ruim.

 

Os novos vizinhos eram um casal interracial.

Ela branca, com cabelos bem negros e lisos, ele um negro, não era marrom bombom, nem preto comum, ele era aquele negro conhecido nos anos oitenta como “azulão”. Tão preto, mais tão preto, que parecia azul.

Ele era pra dentro, sem papo, a esposa, com a sua presença em casa, se comportava igual.

Vizinhos batiam no portão por alguma razão, chamavam, ele ignorava.

Digo que essa ojeriza partia dele, pois quando ele não estava em casa, sua esposa interagia com a vizinha, e tornaram-se até amigas.

Essa amiga por sinal era mulata. Sua pele era um café com leite mais forte, parda, e o seu cabelo tão liso quanto o indígena.

Uma vez os pais não estavam em casa ou se estavam, estavam pra dentro, e não sabiam ou não se importavam com as crianças fora dela. Suas idades deveriam ser seis anos, o menino e cinco a menina.

Brincando no corredor que dava acesso ao morro. A vizinha que conhecia a família e se achava um pouco mais íntima deles disse oi para o garoto.

Ele não respondeu, fechou a cara.

Ela, cheia de amor, daquele jeito como algumas pessoas falam com crianças repetiu.

_Oi, tudo bem? Cadê a sua mãe?

Sua cara ficou ainda mais feia.

_O que foi?

_Não falo com preto.

Surpresa, mas ainda em tom amigável e no tom de se falar com uma criança:

_Mas seu pai é preto.

_Só meu pai que é preto. Minha mãe é branca.

Ela me disse que tentou contornar a situação. Brincando com o garoto, mas ele continuava com sua cara de repulsa.

Foi a própria vizinha que me disse isso, sendo que ela, era bem mais clara que os filhos do casal e tinha um cabelo liso, bem diferente dos crespos das mesmas.

Era comum eles ficarem no portão da casa e falarem grosserias para quem passava em frente.

A sorte é que ninguém dava bola, mas com certeza fazia um julgamento sincero e honesto de quem eram os seus pais.


Abaixo, links com mais crônicas da série "Momentos Bizarros da Vida da Anita". Divirta-se!

 A bizarra cueca de oncinha do meu irmão


Esse é bizarríssimo!

A bizarra academia dos horrores


O texto da série mais lido até agora

 

 

 

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