COMÉDIA DO PATRIARCADO PRIVADO
Stand up Comedy
Minha casa era uma eterna casa de
comédia. No estilo Costinha, Ary Toledo. Comediantes que faziam sucesso com
seus discos ou fitas cassetes com piadas cabeludas.
Era o meu pai, meu irmão, meu tio e
até uma visita, que quando se uniam na varanda ou sala de estar, danavam-se a
contar piadas e todos explodiam em altas risadas.
A mais poderosa era a do meu pai.
Dava pena do desavisado ao seu lado que quase sempre se afastava tampando os
ouvidos doídos por causa da poderosa garganta do velho Argemiro.
Enquanto ele gargalhava, ao mesmo
tempo (sempre), ele afastava uma das pernas, a levantava levemente e roçava o
pinto com a mão, (por cima da roupa, claro!).
Era muito legal. Era divertido.
Então um dia, quis fazer parte da
algazarra, da alegria.
Entrei na roda e contei a minha
piada. Bem pesada, cabeluda, pura sacanagem explícita.
Ri sozinha...
Todos me olharam com olhos de
reprovação, cara feia, indignados.
_Com quem você aprendeu essas
sacanagens, garota?!
OS BABACAS DA MOTOCICLETA
Era o aniversário dos trigêmeos.
Dezesseis anos!
Aldo, Claudio e Aluiza.
Seus presentes respectivamente foram:
Moto, moto e bicicleta.
Os garotos todos felizes!
Aluiza olhava para os irmãos e para
sua bicicleta, para bicicleta e para os irmãos...
Agradeceu ao pai e foi passear com
ela.
Os meninos também. O presente foi uma
total surpresa, nem bicicleta eles tinham e de repente, ganhar uma moto novinha
do pai...
Aldo voltou mais tarde com a polícia,
foi pego numa blitz, e levou ao pai para o próprio morrer num dinheiro.
Claudio não voltou. A família recebeu
um telefone do hospital, dizendo que ele chegou inconsciente e com fratura exposta
ao bater de frente a um poste...
O ASSOVIO
Todo dia Helenice passa pelo mesmo
martírio. Nunca entendeu porque não lhe dão a chave do portão.
Chega da escola e lá vem meia hora de
gritarias para que alguém a ouça e abra o portão para ela.
Olha que a casa é cheia, sempre:
Mãe, irmãos, tios, avós...
Sua situação fica ainda mais
desesperadora quando alguém liga o rádio no último volume para escutar funk,
ainda por cima proibidão!
Ela grita até sua garganta secar, usa
todas as forças de seus pulmões. Tenta escalar o muro, cai, se rala toda na
calçada.
Só quem sai pra trabalhar é o seu
pai. Que para sua sorte, está vindo almoçar.
_Que bom que veio, pai!
O pai a encara, nada satisfeito:
_Nossa, você é incapaz pra tudo!
Ele apenas assovia.
Desliga-se o rádio e metade do clã
corre para abrir o portão...
O GLUTÃO
A hora do sagrado almoço da família.
Geralda sempre acompanha os filhos pequenos à mesa, com a mesma ladainha de
todos os dias:
_Mastiga mais, Rui!
_Fecha essa boca Alessandro!
_Come devagar, pra que essa pressa? O
prato não vai sair correndo.
Enquanto isso a empregada vai
servindo o seu marido. Ela leva o prato até ele. Assim que o prato é colocado a
sua mão (ele almoça na sala vendo TV), Argeu começa a botar comida na boca em
alta velocidade, uma montanha na colher, e dentro da boca, nunca menos de três,
engole parte da comida e vai colocando cada vez mais. Mais, mais, mais, mais
mais...
Até que cai de lado engasgado, com a
empregada já vindo com a garrafa de água.
_Seu Argeu!
Dona Geralda aparece para socorrer o
marido. Passado o susto, sobra para a funcionária do lar:
_Eu não disse que a água tem que ser
servida junto com o prato!!
_Dona Geralda, eu não demorei nem
meio minuto_o que era verdade_entreguei o prato e fui pegar a água.
_Eu te disse que ele engasga!!
_Senhora, ele é um adulto, não é um retardado!
_Ele é meu marido! Meu marido!
MATARAM A PESSOA ERRADA
_Mataram o Palito!
_Palito morreu crivado de tiro!
Foi o assunto do dia no bairro.
Sua morte repercutia (ou não):
Muitos davam de ombros, outros
sorriam de forma malévola, havia quem desse graças a Deus...
No bar, acontecia uma reunião das
vítimas de perseguição da mãe do Palito:
As senhoras com mais de quarenta
anos, solteiras mas com vida sexual ativa, que frequenta bar e que vestem
shortinhos.
Estavam combinando a surra que dariam
na mãe do Palito, a Dona Tiana.
Dona Tiana era uma velha que se
sentia a detentora/defensora/juíza da moral e dos bons costumes.
Suas vítimas preferidas eram essas
mulheres.
As senhoras com mais de 40 anos,
solteiras, com vida sexual ativa, que frequentam bar e vestem shortinhos.
Sempre que uma delas cruzava com Dona
Tiana, a velha começava a xingar as senhoras, fazer escândalo, o diabo a
quatro!
Iniciava-se um bate-boca sem fim!
As mais exaltadas partiam para cima
dela, querendo dar uma porradas, era aí que a coroa batia no peito e dizia:
_Sou mãe do Palito!! Se encostar o
dedo em mim, eu chamo meu filho!
E caladas elas continuavam o caminho
pra casa ou saiam do bar com a cerveja na mão, indo beber em outro lugar.
Infelizmente, muitas vezes nem em casa tinham paz.
Era comum Dona Tiana ir à porta de
suas casas para xingá-las.
_Conta essa história direito! Como
assim pegaram o Palito?
_Dizem que estavam atrás da irmã
dele, a Ana.
_Da Ana? Qualé?! O cara passa vinte
anos da vida dele dando golpe, passando a perna em todo mundo. Era um baixinho
magrelo marrento, escroto, mitido, vivia apontando o revolver nos outros,
fingindo que daria tiro. Um bosta de gente que não respeitava ninguém, parecia
que cagava ouro, e queriam era matar a Ana?
_A Ana é uma piranha que traía o
marido descaradamente, se esfregava com os homens no pagode, e estava se escondendo
na casa dele, depois da separação!
_Ahhhh... tá... (?!)
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