O BIZARRO TIO EUCLIDIO

 Olha só, povo infiel.

Com tempo, sem nada pra fazer, com tudo a perder e sem fumar.... Escrevi um texto no celular.

Estava com muita paciência.

Horas sem nicotina dá nisso?

Texto sem compromisso, sem ligações com nada e sem nada a dizer.

Entretanto, há coisas que desejaria registrar antes de morrer.

O sinistro tio EUCLIDIO é uma delas. Infelizmente, o fato de ele ser um parente meu, é assustador.

O título deveria ser :

EUCLIDIO, O MENTOR DE LENINHA!

O BIZARRO TIO EUCLIDIO

O falecido tio Ito, a desaparecida prima Kátia e o dedo do Almir na lente. Nobre em queimar ou estragar todas as fotos da família. E pensar que na primeira vez que bati uma foto,meu pai prometeu me bater se ela queimasse. Chorei pelo resto do Natal...



Minha família teve nomes que você jamais ouvirá por aí.

Jales

Juaci

Ciro 


Esses próximos são ainda mais estranhos, até pra quem é da antiga geração

Erpidio - Esse não é bem família, foi o pastor/cafajeste/Padrasto da minha mãe/marido da minha avó:

Umbelina


Euclidio era aquele parente sumido, afastado. De quem ninguém nunca mais ouviu falar ou sabe onde mora.

São parentes que desapareceram porque a vida os levaram para um caminho distante. Oposto.

Não necessariamente por terem saído da convivência da família por alguma mágoa ou richa.

Com o primo Carlos foi assim.

Figura presente na minha infância, ele simplesmente desapareceu. Até reaparecer mais de uma década depois. Por acaso. Estava num ônibus que passava em frente a nossa casa e resolveu descer. Pouco antes do meu pai morrer.


Desapareceu novamente, até Prima Elvira encontrar ele na marra, e nem sei como, pois nesse tempo, não havia internet.


Euclidio -(que nome horrível! Parece apelido para clamídia ou para o próprio clitóris 😫)-, ouvi notícias dele quando fui visitar Rosa. Ela morava no mesmo quintal que a minha tia-avó: Etelvina. Esse nome é título de um samba breque. Então.,.

Ele era irmão dela, então, meu tio avô.

Nunca o vi.

Suas visitas eram rápidas 

Depois de décadas sem dá notícia, sendo até dado como morto pra irmã, reapareceu para visitar a irmã e as sobrinhas e dá dinheiro para elas.

Neném, Henrique que me roubou 50 reais e desapareceu, Luciano que foi assassinado. O garotinho era vizinho deles. 



Fatinha comprava comida, no natal, comprou presente para os afilhados.

Maria, apaixonada por um cara, que seria seu segundo marido, ia pro motel meter.

Sendo que Maria, tia Vina e as duas crianças, viviam de arroz, feijão, farinha e angu.

Pois tia Vina recebia Funrrural, que era menos que o salário mínimo.


O cara, tachado como maluco pela tia Vina, pois reapareceu dizendo que comprou terras no interior de São Paulo, e viveria de roça.

São Paulo é o Estado originário da minha família materna. Acho que a cidade é Miraflores.

Rosa ria da ingenuidade do velho, pois ele aconselhou Fatinha sobre os perigos de morar com amigo/conhecido “gente que a gente não conhece direito” dentro de casa.


Meu pai a vida inteira trabalhou de domingo a domingo. Sem folgas e férias.

Era mais um domingo cedo, acordo, vou à varanda, e vejo o velho limpado sucata na bancada. Sentado no banco de madeira ao meu lado, quieto , o tio Euclidio. Se não fosse meu pai falar, eu não teria percebido.

Nenhum dos dois nada falavam.

Meu pai sem saber o que fazer com alguém que talvez não via desde o casamento dele com minha mãe, um completo estranho, me pediu para levá-lo a casa da tia Leninha.

Ele se lembrava que Leninha adorava ele, e que pagou pelo seus estudos.


Ele me acompanhou. Chegamos. Leninha ficou muito feliz, acho que ele também, depois pediu para ir embora e no caminho, descemos na casa da tia Vina, mas só estava Rosa presente. Então ele falou que depois voltava e como gente antiga que era, fez questão de me devolver a casa do meu pai.



Ingênua sou eu.

Burro era ele.

Quando reviu as sobrinhas, começou a descer o cacete em mim, no meu pai e até na Leninha, quem ele não queria ver nem pintada de ouro!

"Estava cansado.

Não pediu para ir a lugar nenhum.

E só apareceu no Miro, por achar que encontraria as sobrinhas lá.

Se sentiu mal tratado.

Não respeitaram ele."

O homem ficou muito puto. Com muita raiva.

Comentei com meu pai.

Ele surpreso, disse que não entendeu a “aparição” súbita do tio da falecida.

Que nunca foram amigos e nem íntimos.

Que ele chegou e ficou sentado na varanda, de frente pra ele, olhando-o trabalhar .

Não havia conversa e nem assunto.

Mesmo com décadas e décadas de sumiço do parente.

Prima Maria. Essa ai nem faço questão de procurar.




“Não sabia o que fazer com aquele homem. Achei que ele gostasse de ver Leninha. Os dois eram apegados.”


Gente, presta atenção: meu pai não era inibido. Se não houvesse conversa ou assunto, ele inventava, contava piada, mesmo que fosse pra gargalhar sozinho. Nada travava aquele homem, acostumado com atendimento ao público. Sua aparência não era boa, e ele sabia disso, e sempre fez o possível para ser simpático.


Mas com o tio Euclidio, tudo foi constrangimento, sem um único pio…


Comentei até com a tia Leninha, sobre a deselegância do parente distante. 

Ela não acreditou. Porém, seu marido assinou embaixo. Apesar do clima ameno de saudades, ao menos por parte de Leninha, ele viu a falsidade estampada na cara do velho.

Nisso ele foi certeiro. Afinal, ele casou-se com a criatura mais falsa e fofoqueira que caminhou na terra.

Ele se casou com a tia Leninha, e tive a certeza que falsidade é o veneno hereditário dos Ferreira Pinto.







Tia Vina e Rosa. Mexendo nas fotos antigas, revi a foto que sobrou do meu aniversário de um ano. Não houve festa. Tiramos fotos atrás de casa. Estava no colo da tia Gracinha. Comecei a chorar.

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