Maria Ercilha Dalte Crem

 Meu blog continua recebendo novas visitas todo mês. Entretanto, não são esses textos escritos ou salvos do celular que vem atraindo a atenção. São os contos e séries, que estão terminantemente parados  Não dá pra escrever uma série, saga ou conto do celular. Desculpa. Publico aqui escritos, com leitura leve, quase a transcrição do meu pensamento no momento. Não são longos. 

No note eu salvo, corrijo, reescrevo, releio. Não dá pra fazer isso no celular.

Preciso de um notebook. Novo ou usado.

Compre meus contos na Amazon ou faça um Pix. Desde já agradeço.

Pix 21968843843 banco Inter

Não liga pra mim.

Não vou atender.

Não me adicione no ZAP, não vou responder.

Eu nem faço isso com meus parentes, nem farei com leitores.  

O meu note foi roubado.



ODE MY GRANDMOTHER


Dona Aparecida eu e Alex


O nome da minha avó paterna é uma charada: Maria Ercilha Dalte Crem.

Pesquisei esse sobrenome e não encontrei nada.

Jogo no tradutor e ele joga qualquer língua, romena, catalão, italiano…

Ela se casou com um italiano, e seu pai era alemão.

Desconfio se o seu sobrenome foi aportuguesado. Quando obtive a segunda via da minha certidão de nascimento, a moça perguntou se esse era mesmo o sobrenome da minha avó.


Como 99% do Brasil, tenho ancestralidade européia e africana, com indígena no meio.

Sou uma mestiça. Não nasci mulata, não conforme o padrão. Pois mulata e mestiça é a mesma coisa no seu significado original. Mulata não vem de mula, como apregoa os idiotas da lacração.


Não tenho quadris largos, a bunda grande, a pele escura e os cabelos cheios e esvoaçantes. Meu cabelo é uma bosta, minha bunda é seca, e meus seios são enormes.


Minha avó, viúva e com idade avançada, virou o que quase todos os velhos se tornam no Ocidente: um fardo.

Ela morava com o meu último tio solteiro, o tio Ciro. Todavia ele resolveu se casar. E não “poderia” mais morar com a minha avó, sua mãe. Família se reúne e decidiu-se que ela moraria com meu pai, o mais bem sucedido dos irmãos.


Ela moraria com a nora que sempre rejeitou. Ao menos nas palavras de D. Aparecida. Acho que a falta completa de relações que tive com minha avó foi por causa da minha mãe. Que falava muito mal dela na minha frente. Horrores mesmo.

Que ela rezava o terço de trás pra frente nas costas de D. Aparecida

Que ele rejeitava seus netos (eu e meus irmãos)

Que ela não gostava da presença da minha mãe em casa

Que ela roubava coisas de casa para dá a filha Gracinha.

De sandália a lata de guaraná em pó.


Meu pai que tinha um quartinho vago, com pia e banheiro, acolheu a mãe.

No primeiro dia, minha mãe mandou dormir com ela. Seria a primeira vez que ela dormiria sozinha, talvez em décadas.

Tudo que pedi foi um ventilador. Que ficou totalmente virado pra mim.


Nos dias seguintes, minha mãe ficou reclamando com as visitas,dizendo que a sogra pediu para não me levar mais. Pois o ventilador irritou a garganta dela.


Foi uma crueldade com a velha. Uma senhora que sempre trabalhou e viveu da sua roça, e na casa do tio Ciro, ela tinha a sua horta, com bertalha, cebolinha, couve e até milho.

Ser obrigada a viver num quarto de avenida, sem lugar para plantar.


A gente sempre criou galinhas  E quando os ovos de uma ninhada agourava quase todos, minha mãe culpava minha avó. Dizendo que ela sacudia violentamente os ovos um por um, pra matar o embrião.

Não sei se era verdade. A rivalidade das duas era quieta. Nunca vi elas brigarem, entretanto…


As galinhas. 



Após a morte da minha mãe, vovó fez questão de destruir o jardim que D. Aparecida havia plantado e cultivado na entrada da avenida. Para ela, rosas e outras plantas ornamentais era desperdício. Ao menos foi o que eu entendi. Entretanto, ela não plantou a sua horta ali.

No lugar, a revelia, um saudoso pé de amora, e depois dois pés de goiaba. Todos não existem mais.



Uma noite, saindo do meu quarto, minha avó vem falar comigo muito assustada.

Disse que o cachorro Valentim foi atropelado. 

Ele estava dentro do quintal. O animal havia vomitado uma grossa massa amarela e sua perna, apesar de sem cortes, estava completamente moída por dentro. Ela disse que abriu o portão, achando que era meu pai chegando e o cachorro, acostumado a completa liberdade no sítio, fugiu.

Voltei para o meu quarto e me escondi por baixo da cama.

Aquilo não acabaria bem 

Dito e feito.

Quando meu pai chegou, gritou muito, muito mesmo e alto com a mãe dele. A velha chorava se explicando e se desculpando.

Depois descobri que, quem havia aberto o portão, foi Alex, que estava ao lado da minha avó, muito assustado, quando ela me chamou .

Alex, desobedecendo o pai, iria para rua escondido, cachorro fugiu disparado para rua.

Se a verdade viesse a tona, não sei o que seria do Alex.

Foi a maior prova de amor de uma avó pelo seu neto.

Então, amor ela tinha por nós.

Se nunca se aproximou dos filhos do Seu Miro, talvez fosse pelo rancor dela com a nora, e pela nora por ela.


Difícil, né?


Ainda mais que fiquei sabendo que, diferente do tio Ciro. Seus filhos homens saíram de casa, e só voltaram a ver a mãe, já casados.

Não houve pedir a  bença pra casar e nem convite para o casamento.


No velório do meu pai, fiquei na minha.

Vi minha avó num relance. Sentada na sala onde se velava o corpo de S. Miro.

Ela viveu o suficiente para presenciar a morte de um filho.

Seu olhar perdido, falava poucas palavras de lamentação. Quase não conseguia se ouvir.

Seu Diogo, dono da Bakprensa perguntou se ela era a mãe do Miro. Disse que sim. Ele ficou bem surpreso.


Ela nunca mais foi a mesma. Ficou vagando entre a casa de tia Gracinha e tia Jandira, e para piorar ainda mais o seu fim de vida, o presidente Fernando Collor cortou u FunRural dela. Que era menos que um salário mínimo.

Ela morreu com o trâmite ainda na justiça. 

No governo desse cara, ou suicidava (houve milhares, a taxa subiu realmente), ou ia a falência ou perdia o emprego ou ficava doente. Pergunte ao seu avô.














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