Os Figurantes

Os Figurantes

Hoje eu revi o vendedor de mel. Bem diferente do que sempre foi. Em vez de ativo, cheio de energia, dando suas voltas em torno da cidade com sua garrafa na mão e alardeado os pedestres com seu grito

Olha o mel!

Ele estava estático, tímido, sussurrava: Olha o mel...

Que sua ausência de entusiasmo seja passageira. Já vi esse filme antes, várias vezes, em idosos principalmente, e ele não termina bem.

Lembro de um velhinho, bem idoso, negro, magro, alto, porém, as costas e as pernas curvadas, apequenaram sua altura, rodava o centro de Bel, começando bem cedo, com um saco de bananada na mão, a oferecer seu doce, entre os pedestres e os clientes das lojas.

Não gritava, oferecia no sussurro ou estendendo a mão com o doce para um potencial cliente. Sempre sorrindo.

Vendedores assim, acabam virando referência de suas cidades e moradores, ao ponto de acreditarmos que são imortais. 
Ate chegar o dia em que eles não aparecem mais. Desaparecem para sempre.
Nos causando uma falta, uma saudade vazia e ambígua.
Porque sentimos saudades de um estranho.
A saudade de algo ou de alguma coisa. Imagem, voz, presença.
De Alguém com quem nunca falamos, compramos, de forma inconsciente, nunca reparamos. Até ele desaparecer.

Chego a me sentir culpada.

Nunca imaginei que aquele sorriso, um sorriso sincero, teimoso, rebelde, me faria tanta falta.

Eu nem sei o nome dele, para ao menos, titular nessa homenagem.

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