CAROL E A SEXUALIDADE
Carolina só começou a namorar porque
todas as meninas da sua idade, já estavam namorando. Embora os mais
contestassem a idade que atualmente as garotas iniciam o namoro, para sua
geração, 13 anos era idade para se ter até mesmo alguma experiência em
namorados.
Hoje em dia, 13 anos já iniciam a
vida sexual...
Na rodinha das coleguinhas ela só
ouvia. Não tinha o que dizer, a não ser uma mentira, quando perguntada sobre
namorados.
As garotas namorando escondido, no
portão, beijando na boca, brincando de salada mista, indo pra baile escondido e
ela...
_Tá namorando, Carol?
Silêncio, suspense...
O quer dizer?
Se disser que sim:
_Quem?
_Onde?
_Quando?
_Apresenta pra gente!
Carol odiava esses segundos que pareciam
horas. Os olhares de curiosas, a cobrança por namorado. Se descobrissem que ela
ainda não namorava, poderia ser esnobada e ignorada pelas amigas.
_Não. Só dando uns beijinhos por aí.
Semana passada dei uns beijinhos no amigo do meu primo, na festa de aniversário
dele!
_UUUUUUUUHHHHHHHH!!!!
Uma ou outra faz cara de desconfiada,
mas finge que acredita.
O corpo de Carol se desenvolveu cedo.
Ir para escola ficou um pouco
complicado.
No ônibus é o assédio do motorista,
do trocador e dos passageiros, na rua, desconhecidos se aproximam dela para
dizer pornografias sobre seu corpo.
Paqueras mais comportadas até
acontecem, mas ela não tá muito a fim.
Seus pais deixaram bem claro que ela
está proibida de namorar. Na infância teve experiências perturbadoras com o
assunto.
Quando ela tinha nove anos, conheceu
o seu primeiro crush.
Nada pesado ou pornográfico. Um
garoto da sua idade que “se apaixonou” por ela, havia até lhe dado seu trabalho
de atividade artística pra ela de presente. Carol nunca maldou o gesto.
Acreditava apenas ser a demonstração de carinho de um amigo.
Seu irmão presenciou tudo.
Caguetou para seus pais.
Começou o tormento de Carol. Por
quase um mês, sempre que chegava da escola, sua mãe ficava falando do crush de
Carol ( que em momento algum, ela o viu como namorado), até a sua hora de
dormir, em tom sarcástico, debochado, porém, bem ameaçador, sobre a surra de
cinta que ela levaria, caso namorasse o menino.
Com doze anos, quando seu pai
resolveu agir nesse assunto foi ainda pior.
Estava ela, numa roda mista de
meninos e meninas, conversando na rua. Seu irmão viu.
Achou aquilo perigoso, errado e achou
o comportamento da sua irmã, que conversava e ria completamente fora do padrão.
Foi reclamar com seu pai.
Furioso ele a chamou pra dentro de
casa. Começou a berrar loucamente, furioso, com gritos que doíam os ouvidos até
de um DJ, fazia acusações à filha sobre suas intenções:
“Piranha com fogo no rabo querendo
distribuir o cu para todos os machos da rua.”
Carol chegou aos quinze anos e ainda
não havia namorado ninguém.
Já começavam os rumores, até entre
sua família, da probabilidade da filha ser sapatão (?)
Um dia apareceu no portão da sua
casa. Outro crush no qual ela nunca deu bola. O rapaz era insistente. Ela não
sabe como descobriu a sua casa. Ela acordou com frases de seus irmãos:
_Tem um rapaz lá fora, dizendo se seu
namorado. Quer ti ver.
_Namorado?
Era o Alexandre.
Bem, pra tudo tem a primeira vez. Que
seja o Alexandre então...
Começou-se então, uma prática,
atualmente abandonada. O namoro de portão.
Seu primeiro beijo de língua foi uma
decepção só.
_Júlio! Oh Júlio! Sua boca tem gosto
de morango bem azedinho!
_A boca do Marcos tem gosto de uva!
Era o que ela escutava das primas e
amigas.
E tudo que um beijo de língua lhe
proporcionou foi saliva na sua boca, um horrendo gosto de cuspe, que ela cuspia
tudo fora e ainda esfregava a língua com a camisa, assim que Alexandre ia
embora.
Direito conquistado!
Tá certo, que era um direito no qual
ela nunca lutou por ele.
Paz?
Não. Iniciava agora um novo tormento.
Seu irmão gay, desde o Alexandre, seu
primeiro namorado, fazia questão humilhá-la na frente de amigos, parentes,
desconhecidos e até inimigos, gritando, alardeando para todos que seu namorado
atual era viado.
_Eu sei! Eu vi!
_Ele cantou meu amigo!
_Ele foi flagrado com dois homens no
banheiro da escola!
_Ele frequenta bares gays.
Todo e qualquer homem, mesmo
conhecido há décadas pela família, sem ninguém nunca desconfiar de sua
sexualidade, se começasse a namorar Carol, seu irmão começava a gritar para
todos que a irmã namorava um viado.
Ronildo só parou com essa mania
quando, conversando com uma cunhada sua, irmã de seu marido, sobre um homem que
ela acreditava estar afim dela, um crush, ele detonou as esperanças da cunhada.
_Afim de tu? O negócio dele é homem.
Vivia me cantando, antes de eu casar com seu irmão.
A garota desiludida, foi perguntar ao
rapaz.
_Afinal, Sérgio? O que quer comigo?
Qual é a sua?
Ronildo falou que você gosta de
homem, que já foi até a fim dele...
Na mesma hora, Sergio saiu, pegou seu
revolver em casa, na intenção de matar Ronildo. Mais controlado, deu apenas
porradas no venenoso homossexual, até sangrar, no destruidor da alegria alheia,
com arma na mão, pra ninguém se meter. Treinado pelo exército, deu tiros rente
ao seu ouvido e a sua genitália. Pra traumatizar mesmo, e calar a boca do
mentiroso, arrogante.
Décadas depois, Carol descobriu que
foi chifrada pelo Alexandre, seu primeiro namorado, num namoro que não chegou a
ter um mês de duração.
Nada que a abalasse...
Porém, todavia, contudo, Alexandre a
traiu com outra menina!
Tempo passando, a idade avançando, se
a questão antes era o namoro, a de agora era a virgindade.
Suas amigas, mesmo as solteiras não
eram mais virgens. Isso não preocupava Carol. Embora ela ainda se mantenha
virgem, era por pura falta de oportunidade.
Nunca quis casar, tão pouco se
guardava para o “homem certo”, sabia que não existia homem certo.
Beirando os 30, sua situação começou
a lhe incomodar. Começou a namorar um cara, repugnante, velho, mas era o único
que se interessara para ela.
Transaram, e ele morreu sem saber que
ele foi o seu primeiro homem.
“Nossa. Falam maravilhas dessa coisa!
E não é tudo isso. Posso viver sem ele.”
Carol deu graças por nunca se
escravizar pelo sexo.
Ela viu mulheres apanhando, passando
fome, vivendo verdadeiras humilhações, apenas para ter um homem dentro de casa.
“Piroca vicia e faz mal. Tira por
completo a racionalidade da mulher.”
Transava de vez em quando. Na farra,
num relacionamento aleatório, apenas corporal.
Apareceu outro dilema na vida se
Carol.
A sua incapacidade de se apaixonar,
de amar.
Apesar da sua vida ser bem diferente
das meninas da sua geração, somente agora ela se questiona sobre a sua
normalidade.
Ela trabalhava, se divertia, fazia
sexo de vez em quando, mas não amava, nunca amou...
_Já imaginou que tudo isso seja
consequência de uma homossexualidade reprimida e enrustida que tens?
Deus do céu!!!
Oitocentos reais por sessão, para
esse idiota me dizer isso??
Que sou gay???
Sempre tive orgasmos! Faço sexo
melhor que muita mulher casada e vivida, só não é diário; semanal ou anual! E
ele diz que sou gay?!!
Carol soca a cara do analista e vai
embora para nunca mais voltar.
Tudo que ela queria era ser normal.
Agora ela tá satisfeita com a
normalidade que encontrou na sua vida.
Que venha o próximo dilema!
Fodam-se as convenções!
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