A Triste História de Ciro
O velho Ciro estava em franca
decadência financeira. Acreditando que o problema fosse o ferro-velho, que não
rendia mais como antes, ele tentou diversificar seus negócios.
Um deles foi um bar que ele alugou. O
ponto parecia bom. Ao lado de uma escola, de frente a uma maternidade, no
centro de Bel.
No fundo, o que Ciro queria era
encaminhar os dois filhos mais velhos. Todos formados, barbados, um deles até
casado, que de “presente”, ganhou o direito de receber os aluguéis de uma
cabeça de porco que a família havia comprado anos antes.
Ambos não quiseram fazer faculdade,
continuaram todos, “trabalhando” com o pai na reciclagem. “Empregados” caros
que só davam prejuízo.
A fartura do bar durou pouco. Seus
maiores clientes, eram de uma indústria química, infelizmente, a mesma abriu concorrência
para pequenos comerciantes em seu parque industrial, e agora, os funcionários almoçam
nos restaurantes de dentro da empresa.
O bar ficou legado às moscas. Ainda
mantendo a estrutura de antes. Uma cozinheira para a pensão, uma salgadeira.
A cozinheira era o pesadelo de
qualquer dono de restaurante. Sua família inteira, e a família era grande, ia
almoçar todos os dias no bar, sem pagar. Amigos de mesma, aparecia para comer e
beber fiado e não pagavam.
Colocou o seu primogênito para tomar
conta do bar. Como a casa estava sem empregada, o pai mandava os dois mais
novos almoçarem no bar. Chegando lá, eram destratados pelo irmão (que
novidade!), que acusava os pequenos de darem prejuízo ao estabelecimento.
Nunca houve retorno.
Olívio que odiava quando os irmãos
iam ao bar, não pensou duas vezes em vender fiado pra sua turma de amigos: o
morro da galinha inteiro comeu, bebeu, acho que até pegou dinheiro emprestado e
nunca pagou!
Quando estava sem paciência, começava
a lavar o chão do bar, para expulsar os poucos clientes (pagantes) que
compareciam e ficavam bebendo.
O segundo filho teve a sua
oportunidade. O ponto já estava destruído, então o filho propôs uma reforma
total.
Deixá-lo apresentável, dá uma cara
nova e atrair os clientes de volta.
Ciro acreditou, e deu uma enorme soma
de dinheiro na mão de Gilberto.
O bar não recebeu nem uma nova camada
de tinta nas paredes. Nada! Tudo ficou como antes no bar de Abrantes!
Coincidentemente, sua esposa colocou
silicone na mesma época...
Ciro ainda acreditava no bar, porém,
ele tinha toda uma área aberta, coberta, inativa.
Ideia: comprar sucata. O mini
ferro-velho ia bem. Até Gilberto ser flagrado vendendo maconha e cocaína
nele...
Foi preso em flagrante, e em um
momento onde as coisas não iam bem há muito tempo. Lá vem o velho Ciro salvar
seus filhos novamente...
Detalhe: Eles expulsou a filha de
casa, quando soube que ela não tinha mais cabaço...
Dessa vez não havia mais condições de
manter o ponto. Os policiais iriam todos os dias bater o cartão para extorquir
e ameaça quem estivesse no bar, já que para eles, aquilo era agora uma
conhecida boca de fumo.
O bar fechou. Melhor assim. Muito
dinheiro perdido. Dinheiro que Ciro não podia perder, talvez nem tivesse mais,
quando resolver apostar no negócio.
Mas algo deveria ser feito. As
finanças afundando, ele se endividando cada vez mais. Perdendo prestígio entre
os seus. Agora dependendo de outros tubarões para manter o negócio, e como
consequência, ser humilhado, destratado por quem financia seu ferro-velho.
Era um problema crônico, que se
houvesse alguma solução, ela teria que ser radical.
Mesmo que ele acertasse numa sena, o
dinheiro não o salvaria.
Ciro não tinha tino para os negócios,
e quem trabalhava com ele, o roubava.
Seus alicerces se foram: sua mulher e
seu cunhado. Pessoas nunca valorizadas em vida.
Ciro estava sozinho.
Quando alguém de fora, testemunhava a
baderna que acontecia no ferro-velho, ele não acreditava e agredia a pessoa
verbalmente:
_Ciro, eu vi. Seu filho está te roubando.
Na cara dura!
_Mentira!
_Se continuar assim, vai falir em
meses!
_Você que vai falir! Fofoqueiro
mentiroso, filho da puta!
Como tantos em momentos tão delicados
da vida. Ciro procurou auxílio e conforto na religião.
Tornou-se até um fanático, que
infelizmente, caiu nas mãos de picaretas.
Pais/mães de santo que cobravam uma
fortuna para os seus trabalhos com resultados zero.
Uma vez, Daniele saiu de seu quarto e
se deparou com uma dúzia de velas acesas.
_Pai, o que é isso!
_É vela para as almas, filha.
Daniele passou mal a noite toda...
Era o momento dos terrenos que ele
comprou em tempos de vacas gordas, lhe darem algum retorno.
Abriu outro ferro-velho no centro de Bel.
Até que ia bem, porém...
Bel estava num momento muito
violento. Assaltos eram constantes.
Ciro mesmo estava sendo assaltado
quase todo mês no ferro-velho, quando não na rua, em saidinha de banco.
E como ele praticamente testemunhou o
latrocínio do seu vizinho, e um pai de santo lhe convenceu que o alvo era ele,
Ciro desistiu do comercio. Vendeu o terreno, e como já era esperado, o dinheiro
não mudou em nada a sua situação.
As coisas chegaram num momento grave,
péssimo. Ninguém mais queria emprestar dinheiro para Ciro para ele continuar
com o ferro-velho aberto.
Os dois mais velhos, não tendo mais
onde sugar, partiram.
Gilberto arranjou emprego, Olívio foi
viver na aba do irmão caçula.
Morreu velho, doente.
Só admitiu a tragédia que acontecia
em sua família horas antes de morrer.
_Deus do céu! Meus filhos me roubaram
tudo.
“Até a sua dignidade, Ciro!”
Ciro, acreditava que era médium, ao
ouvir essa voz, seguida de risadas zombeteiras e diabólicas, pegou o velho 38 e
se matou com um tiro na cabeça.
FIM
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