A PISCINA DA RUA ARGENTINA





Longe da praia e de uma cachoeira, porém perto do inferno. Esse é o resumo da Baixada Fluminense no verão principalmente nos anos 80.

Onde moro por exemplo, pessoas iam com toalha de praia, roupa de banho e até bronzeador para um bicão, que ainda existe até hoje na linha do trem. Quando não furavam um dos canos da CEDAE para fazer dele um chafariz.

Clubes nesses tempos eram coisas para ricos e esnobes.

Uma ida à praia era quase uma operação de guerra. Começando pelas crianças da casa, que ficavam ao menos 30 dias aporrinhando seus pais com:
"Vamos pra praia!
Vamos pra praia?"
Depois fazer um poupança para os gastos com a "viagem", e levar muita comida nas bolsas e mochilas.
Somos sim farofeiros, damos jus a essas denominações.
Somos odiados e evitados pelo povo das cidades praianas e com uma certa razão.



Imaginem a euforia de todo um bairro e adjacências quando um classe média fodido em suas contas, decide abrir sua piscina particular e alugá-la para o público.
Era como formigas atraídas por açúcar.

Essa era o piscina da rua Argentina.

Era uma casa com duas piscinas.
Virou uma febre entre a meninada. Meus irmãos só falavam dela.
Só a visitei uma vez.
Muito aborrecente deve ter perdido a virgindade nas suas águas ou iniciado a vida amorosa nela.
Meu irmão "se descobriu gay" nela. Com um rapaz, outro frequentador assíduo da piscina.

_Eriveltom! Você me beijou!! Nós somos dois homens!!
_E daí? Isso é gostoso! 
E ele gostou e gamou até hoje, já Eriveltom preferiu o amargo da vida. Noivou e casou-se com uma mulher...

Quando cheguei, a piscina era tão cheia que só dava para entrar na água e ficar de pé...
Arrisquei uns passinhos e me dei conta que pisei em alguma coisa, logo em seguida emergiu-se do fundo um rapaz muito puto, querendo saber quem pisou nele e prometendo porrada no infeliz.
Um desconhecido, amigo desse imbecil que teve a brilhante ideia de se afundar e deitar numa piscina lotada, foi quem me salvou, apontou para um outro cara amigo deles.

As bordas que rodeavam a piscina, eram compostas por uma espécie de telha cravadas com micro pedrinhas.
Sabe aquelas praias com pedras cheias de conchas presas nelas, que cortam a sua pele mais que navalha afiada?
O efeito das telhas nessa piscina era o mesmo.
Havia gente sangrando baldes de sangue dentro da água.
Sabe-se lá quais doenças como hepatite seus frequentadores não contraíram banhando-se nessas águas.

Não gostei e nunca mais voltei.
Anos mais tarde minha família seria sócia de um clube, frequentados por classe média decadente.
Uma gente esnobe, fechada, com quais nunca consegui interagir.
Só levei de lá uma impingem que custei a livrar-me dela.

Não frequento piscinas!


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