O LADRÃO
O Nascimento de Uma Otária
Assim que comecei a minha
alfabetização, nas primeiras semanas de escola, minha mãe me surrou com o cinto
do meu pai.
Eu voltava sempre sem a borracha, e
na hora de fazer o dever de casa, ela me perguntava pela borracha e dizia que
havia acabado.
Uma mentira esdrúxula. Mas com sete
anos a gente ainda não tem muita maquinação em criar mentiras mirabolantes.
Não sei se eu perdia e não percebia,
não lembro se eu emprestava e não pegava de volta. A borracha sumia.
No dia seguinte, durante a aula, eu
não tirei a borracha da minha mão.
Fui criada com valores de honestidade
fortes.
Quando comi um pouco do leite ninho
da minha avó que estava viajando, minha mãe ficou uma semana de cara amarrada e
falando muito no meu ouvido.
Não sabia ainda que tinha um irmão ladrão
dentro de casa. Minha mãe reclamava muito era da minha avó, que (palavras dela)
roubava coisas de casa para dar para a filha preferida.
Não sei se era verdade, afinal, as
duas nunca se suportaram.
Até hoje eu me pergunto o que ganha
alguém que põe duas carnes no prato da pensão, cobre uma delas com arroz e
feijão e para pagar por prato com uma carne.
E ainda tem orgulho disso.
Gente que põe 20 pãezinhos na bolsa,
mas diz no caixa da padaria que tem 10.
Deixo claro aqui que não estou
falando de famintos...
Ao longo do meu primário, hoje digo
com convicção, que possuía um ladrão de estimação na sala de aula.
Esse roubo provavelmente acontecia
quando ia ao banheiro, pois quando tocava o sinal e abria minha pasta (nome antigo da mochila, embora tivessem formas bem diferente uma da outra, a única semelhança é poder pendurar nas costas) para
pegar o dinheiro... Cadê ele?
Nunca admiti que era roubada. Eu
achava realmente que o perdia. Como, não sei.
Reclamar com a professora não era
opção.
Tão pouco com meus pais. Se dissesse que perdi ou que fui roubada, apanharia do mesmo jeito.
Isso causava stress na professora.
Uma vez Ariane foi linchada pelas duas professoras que tínhamos na quarta
série, depois de reclamar de um sumiço de alguma coisa sua, e a professora
Auriane deu de ombros, então ela foi direto na direção.
Pra quê...
Na aula seguinte Auriane e Beth
detonaram ela e as meninas que a acompanharam na ida à direção.
A direção chamou as professoras pra “conversar”
e uma das diretoras foi explanar o que aconteceu no dia anterior na nossa sala
de aula..
Foram
covardes com as meninas. Elas colocaram toda a turma contra elas. Cristiane
ainda tentou se defender, mas foi no tipo: Foi Ariane que disse isso! Valéria
disse que nada falou, apenas acompanhou. Patricia deu graças a Deus por ter
dado a volta no meio do caminho, entre os corredores da escola e não ido dar
apoio moral a amiga.
Elas nem me chamaram. Que bom!
Cristiane era grossa, escrota, chata,
em palavras de hoje, até meio stalker com suas amizades, entretanto ela saiu da
sala de cabeça erguida. Ariane segurando o choro, e Valeria temendo o que
aconteceria com ela no resto da semana..
Realmente no dia seguinte, mais
críticas.
A sorte é que as três sempre tiravam
notas altas, e as professoras não poderiam vingar-se das alunas tirando ponto.
Afinal se a média delas caíssem drasticamente, não duvido que, ao menos, as
duas teriam que encara a braba mãe da Cristiane e seu pai militar.
A mãe da Cristiane era tida por outras mães como a mais falsa e a mais chata das reuniões de pais e mestres.
Em outro momento parecido, teve o
sumiço de uma pulseira de ouro.
A garota devia ser do ginásio, mas
ela fez os inspetores revistarem todas as pastas de todos os alunos da escola.
Eu deveria acreditar mais em mim e na
maldade alheia.
Dinheiro da merenda até sumia, porém
era mais comum o sumiço de algum dinheiro a mais que levava pra escola.
Como nunca desconfiei e por
consequência descobrir quem era o ladrão, só tenho algo a dizer.
Sentava com o meu grupinho e elas
sabiam da minha rotina de dinheiro.
Mas não posso afirmar nada, além de uma
bizarra história que aconteceu comigo, provando o quanto era ingênua em confiar
em todo mundo e acreditar na minha incapacidade de proteger o que é meu.
Estava com carteira nova. A compra da
carteira me ajudou bastante. Os “sumiços” pararam. Pra ver que o negócio do
ladrão era enfiar a mão na minha pasta e pagar o dinheiro solto dentro dela, na
base do tato.
Se tivesse que pegar minha carteira,
abrir e levar umas notas, os outros alunos perceberiam.
Ariane pediu pra ver.
Dei pra ela olha e ela me devolveu.
Bateu o sinal do recreio e ao abrir
minha carteira, e cadê o meu dinheiro?
Comentei com a Ariane que havia perdido o dinheiro da merenda.
Ela começou a rir e zoou por toda
semana, falando pra todos sobre a minha burrice.
Ariane havia pego o meu dinheiro de “brincadeira”
e ficou com ele.
Ela não entendeu que jamais a
acusaria de roubo.
Para mim, entre amigos não haveria roubos, desconfianças e acusações.
Diferente da Cristiane que perdeu sua
régua e me acusou de tê-la roubado. Ficando sem falar comigo por quase um mês,
por mais que a tentasse explicar que havia colocado a sua régua de volta ao seu
estojo.
Porém ela tinha certeza. Não duvidou
em me acusar e julgar.
Assim nascem os otários.
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