SANTA INTERNET, BATMAN!
Sabe, eu poderia me sentir uma especial entre babacas, ignorantes e preconceituosos, mas quando se é única em seu meio, os valores se invertem. |
Quem me acompanha aqui sabe o quanto
era difícil ser considerada pela minha família e amigos.
Pessoas que julguei serem meus
amigos, descobri que pelas minhas costas, não me levavam a sério, zombavam e
riam de mim.
Isso doía. Da minha família nunca
esperei grande coisa, e posso ter realmente as minhas paranoias, e saibam que
morrerei com elas. Nunca tive dinheiro para pagar um psicólogo ou um
psiquiatra. O plano de saúde só cobria neurologia e tomei trauma deles.
O primeiro, ainda na infância,
implorei a minha Tia Nair que me parasse de me levar pra esse cara, se ele
queria me enlouquecer de verdade, quase conseguiu.
Adulta e sem opções, procurei outro.
Receitou-me um tarja preta que me fez ter ainda mais pavor desses remédios:
Paralisia do sono e pesadelos
semanais!
Além da eterna sensação de boca seca.
Deus! O que há com o meu cérebro?
Crises de ansiedade que podem me
derrubar, me levar inteiramente ao chão, o medo do nada ou de alguma coisa que
você não sabe o que é, mas que estar por vir. Que te assombra, fazendo seu
estômago gelar e seu corpo tremer.
São pesadas, mas aprendi a enfrentá-las.
De vez em quando um chá com erva doce
e cidreira me ajuda. Acredite. Ele faz milagres.
Não siga o meu exemplo. Procure ajuda médica. Se o médico for um babaca, corra dele e procure outro. |
Talvez eu fosse assim desde bebê.
Relatos das minhas tias contam que levei minha mãe quase foi à loucura com meus
choros intermináveis e o enfurecimento do meu pai, que querendo dormir, me
batia pra parar de chorar.
O pediatra recomendou passeios
matinais.
Então vem a maldita adolescência, e
minha mãe me faz o grato desfavor de morrer. A gente já estava batendo de
frente feio e toda hora, normal, mesmo que ela me proporcionasse uma
adolescência traumática a sua morte causou um furacão na família e quem aparece
pra tomar conta de mim?
Tia Leninha.
Ser taxado como maluco, só tem graça nos contos. |
Ela piorou tudo dentro de casa, e meu
pai nunca mais foi o mesmo.
Foi com ela que conheci esse primeiro
neurologista.
Sem ideia do que estava acontecendo
ela me colocava o terror, dizendo que se eu não me tratasse ficaria igual a uma
senhora que estava conosco na sala de espera:
A senhora deveria ter uns 45 a 55
anos. Bem vestida, normal, de repente começou a contorcer os lábios, fazendo
caretas.
Depois da consulta, apesar de ainda
consciente de tudo, pois perguntou para a recepcionista, se para o exame
precisaria trazer toalha e sabonete. (Eletroencefalograma), porém com a voz
muito mole, carregada e pesada, não tinha controle nenhum das suas “caretas”.
O médico alegou que o meu exame deu
DISRITIMIA, embora nunca tenha tido ataques epiléticos. Já sobre
comportamentos, sim eu realmente pareço ter essa doença, e diferente do que
minha tia apregoava e o que meu irmão gritava para os todos os cantos: eu não
sou maluca.
Apenas tenho dificuldades graves de
relacionamentos.
Pesquisando mais, a quem diga que
essa timidez é doentia. Deve ser mesmo.
Mas já é tarde para eu tratar, me
adaptei a ela.
E eu achando que tudo que tinha era paranoias
Achava que meu bloqueio seria fruto
da altíssima repressão sexual/social que minha mãe impunha a mim.
Deve ser também...
Mas não foi isso que minha família
entendeu.
Posso não entender bulhufas de matemática,
mas compreendo bem a física teórica, astronomia, sempre gostei de ler.
Carregada de conhecimentos muito além
das novelas da Globo eu entusiasmada, conversava sobre as novidades
científicas.
Todos fingiam que ouviam, e depois
zombavam de mim.
Falando que eu tinha papo de gente
maluca.
Eu sou a geração que cresceu sem
internet e parte da vida adulta.
E quando a conheci, conheci o mundo
de pessoas como eu.
Que leem, que estudam e que curtem
ficção científica.
Eu fui ouvida e respeitada.
Onde se não, na internet, você
ouviria debates sobre a tecnologia Transformers, Star Treks e por ai vai?
E pelo amor de Deus, quem disse que
debater sobre as aplicações dos lasers no futuro da humanidade era coisa de
maluco?
Minha família dizia, e meus antigos
amigos também...
Optimus Prime, apesar das suas tendências suicidas em inúmeros auto sacrifícios, |
Esse aí é o meu xodó, no universo Transformers. |
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