1991
Talvez no início dos anos 90, tenha
sido um dos maiores picos de fuga dos brasileiros para o exterior. Não falo de
gente que atravessa o México, que pelo Senador Humberto é logo alí, ao lado do
Brasil, falo de jovens recém formados, que estudaram por quase 20 anos para
esse momento e no término do estudo e /ou estágio, se viu dentro de um país
mergulhado em uma das piores crises econômicas da sua história, orquestrado
propositalmente por um governo: O Plano Collor.
Quem podia, foi para o exterior e fez
carreira por lá mesmo.
Mas a maioria esmagadora, como eu,
não.
Pra piorar não tinha um “pistolão”,
alguém que me indicasse em uma empresa ou emprego, minha família gargalhava das
minhas procuras por trabalho, por não acreditavam em mim. E meus irmãos mais
velhos, diziam que não me indicariam pra ninguém.
Logo eles que passaram a adolescência
e juventude trabalhando e roubando do pai, e somente se viraram, quando foram
forçados a isso. O velho faliu, estava na completa miséria e não tinha mais
como roubar.
Sendo que antes disso, ambos tiveram
negócios bancados pelo meu pai, mas um levou tudo a falência, o outro foi preso
vendendo droga no bar...
Que dizer, eu não tinha o apoio de
ninguém, tão necessário nessa fase.
E lá ia eu, comprar o jornal e me
candidatar a um emprego.
Atualmente essas armadilhas são
proibidas, embora elas tenha evoluídos para outros métodos pra pegar
otários/desesperado como o tal “Banco de Talentos” do Linkedin.
Fixo+comissão+VT+VR
Com ou sem experiência.
Essa era a isca.
E fui.
Ao encontrar o endereço reencontrei
um ex-colega de história. Quando disse o que fazia ali, ele me falou:
_Eles sempre anunciam, oferecendo
vagas...
Não entendi o recado.
Como acreditava que chegando cedo eu
teria mais chance de ser contratada, fiquei umas duas horas na fila.
Subimos e na sala, uma jovem senhora
também, de forma indireta e sem querer, me alertou da furada.
_Esse escritório é da Golden Cross?
Eu já fui em um mais cedo e era da Golden Cross!
Não sei qual foi a resposta, pois
logo nos levaram para uma sala.
Um jovem rapaz bonito, alto, branco, cabelos longos em rabo de
cavalo, castanho-vermelho e enormes olhos azuis, fez aquelas inteirações, pra
mim inéditas, típicas de RH, com “brincadeiras” que testavam o nosso QI, nossa
iniciativa e timidez.
Depois como um exemplo maior de um
babador de ovos do patrão, ele pediu para que, quando o chefe entrasse na sala,
todos respondesse o “Bom dia” de forma mais alta possível, pois o patrão “era
surdo”...
E obedecemos, afinal estávamos disputando
uma vaga de emprego.
Assim que ele começou a palestrar,
ouvimos um blá blá blá dos jovens funcionários que trabalhavam para ele, não
deveriam nem ter 23 anos, talvez fossem o primeiro emprego deles.
O chefe correu para a porta e
esculachou os subalternos.
Chamando-os de incapazes de calar a
boca, que ali não era jardim de infância pra ele ficar gritando com um bando de
crianças para ficarem quietos.
Talvez o patrão tenha aproveitado a
oportunidade, mas esse atitude é típica de pessoas que querem exibir sua
autoridade.
Professoras que humilham alunos sem
necessidade para se exibirem para a estagiária, patroas que gritam com sua
doméstica, quando há visita, pai que surram seus filhos, sem necessidade, para
se exibirem às visitas, diretor de escola que invade uma sala de aula e chama a
atenção do professor, para se exibir ao pai de um aluno. Eu vivenciei todas
essas situações...
Depois de espera e enrolação ele
começou a falar, e foi até direto ao dizer o nome da empresa: Golden Cross.
Falou de abertura de novos
escritórios, dos cargos e blá blá blá.
Disse que a prova maior para
contratação era vender um plano de saúde.
No final, descobri por ele próprio
era que eu poderia vender o plano de saúde para mim mesma!
A merda é que ficaram com nossos
documentos!
Ainda assim fui pra casa certa de que
bastava fazer uma venda e ter o meu primeiro emprego.
Mas me avisaram antes que eu caísse
na rua de porta em porta.
“Isso é roubada. Vão dizer que as
vagas abrirão em breve e te “convidarão” a continuar como vendedor, sem fixo,
sem ajuda de custo, sem nada.”
Nesse, apesar de não exigirem
experiência no anúncio, ao menos não me enrolaram. Assim que sentei e disse que
não tinha experiência, o rapaz me dispensou. O chato é que ele não permitiu que
eu usasse o banheiro, e estava muito apertada. Sair de casa quatro da manhã,
ficar na fila, esperar a sua vez de atender... eram horas sem esvaziar a
bexiga.
Em outro, sem mencionar o que
queriam, como nos anúncios da Golden Cross, que todos os dias, lotavam os
jornais, apenas informavam o “salário”, não exigiam experiência e não dizia o
nome da empresa, me ofereceram um produto para vender, algo que até hoje, nunca
ouvi falar sobre, mas dizem que é muito comum na Cidade do Rio de Janeiro:
Vender uma espécie de “plano/clube
teatral”. As pessoas pagavam uma mensalidade e tinha direito de assistir varias
peças em diferentes teatros pela cidade sem pagar ingresso ou com 50% de
desconto.
Hammm?
Cumé quié??
É o quê???
Num momento em que pessoas perdiam seus
empregos, suicídios aos montes, devido a perda da empresa, perda de emprego,
milhares de família perderam suas casas por causa do confisco. Foi o único
momento do Brasil que grandes empresas privadas enfrentaram greves, falências e
concordatas como a Brastemp e a Lorenzetti por causa desse plano maldito, e
querem que eu venda plano teatral?
E mesmo assim, talvez quem conhecesse
moradores da zona sul, norte e até oeste, tivesse alguma chance, mas eu,
morando na Baixada Fluminense, onde pessoas nascem e morrem sem nunca
assistirem uma peça de teatro, como convenceria esse povo de adquirir o plano?
Como foram simpáticos comigo, dei uma
desculpa de que tinha compromisso e que não poderia assistir a palestra no dia seguinte.
_Deixa pra próxima então. _Disse o
chefe da moça que me atendeu.
Assim que dei as costas, ouvi eles
rasgando os papéis que preenchi de forma furiosa.
Devo ter sido a enésima a recusar o
trabalho.
Antigamente o GPS eram os jornaleiros.
Nesse emprego, mesmo saindo da quatro da manhã, peguei tantos ônibus, que devo
ter chegado por volta da oito. E quando fui ver, havia uma gigantesca fila,
provavelmente, com mais de 2000 mil meninas como eu, para disputar UMA ÚNICA
VAGA SOMENTE!!
Era de recepcionista de um curso, e
não exigia experiência. Desisti...
O que me deixou mais puto foi o do
curso de inglês Yes. Sabe, as pessoas ali estão gastando o dinheiro que não
tem, cheia de aflições, ansiedade e esperanças...
O anúncio dizia o nome da empresa, e
falava para onde iria o contratado: departamento de matrículas.
O que pensar sobre isso?
Eu fui. Assim que cheguei a
recepcionista:
_Anúncio?
_Sim
_Ali, por favor.
Entrei numa sala e a senhora me pediu
pra fazer uma redação sobre o tema: “Porque devo ser contratado.”
Escrevi, entreguei e ela mandou
voltar amanhã no dia seguinte.
Nunca vi alguém ler uma redação tão
rápido!
Passei na primeira triagem!
Dia seguinte, as pessoas chegando aos
pouco, e indo para a sala, onde escrevemos nossa redação no dia anterior,
quando cheguei, havia somente um casal de namorados, que pelo tédio, não
ficavam parados, calados, brincavam com suas mãos e rostos, trocando toques e
sorrisos.
Pouco a pouco foi chegando os
candidatos, e o papo foi o dia anterior.
Alguns orgulhosos, outros surpresos
por terem passado no primeiro teste, até que uma soltou essa:
_A minha ela nem leu, entreguei, ela
colocou na mesa e marcou comigo hoje.
_Nem a minha ela leu!
_Muito menos a minha...
Hummmm... Será que ela fingiu ler a
minha redação?
Entrou a moça que nos atendeu ontem,
junto com outra mulher. Demoraram quase
uma hora pra escrever uma conta certa no quadro-negro.
Depois ela começou a falar sobre a
empresa, o que era, e como era divulgado o curso.
Falava, falava, falava, mas não dizia
qual seria realmente o nosso trabalho.
Até que um homem, o mais velho dos
candidatos, fez uma pergunta e ela
Falou falou falou falou falou falou
falou falou falou falou falou falou falou falou falou falou falou falou falou
falou falou falou falou falou falou falou falou falou falou falou falou falou
falou falou falou falou falou falou entretando, NÃO RESPONDEU A PERGUNTA
SIMPLES, QUE ERA SOBRE DO QUE SE TRATVA O NOSSO TRABALHO.
Esse mesmo cara, interrompeu a fala
da senhora e a repetiu a pergunta de forma bem incisiva, foi então que ela
apresentou a jovem que entrou junto com ela. Dizendo que trabalhadores como ela
são recompensados.
O rapaz, já desconfiado, descreveu o
cargo e exigiu sim ou não.
_Vamos trabalhar vendendo curso de
porta em porta?
_Sim
_Haverá ajuda de custo, efetivação do
cargo?
_Não.
E ela continuou a falar, o rapaz se
levantou e saiu da sala, TODOS OS PRESENTES, ENCORAJADOS PELO EXEMPLO DO HOMEM,
PARTIRAM IMEDIATAMENTE DALÍ.
A senhora quis ficar por cima, apesar
das carteiras estarem completamente vazias, e uma bagunça com todos em pé, de
frente pra porta, tentando sair o mais rápido possível daquela pilantragem, ela
disse:
_Quem não está interessado pode sair!
Como termina essa história?
Que insisti tanto, que consegui um
emprego ou que alguém me indicou para um cargo, que agarrei a chance que me
deram com todas as forças e hoje estou aqui, campeã da vida!
Nada disso.
A vida me levou para outros caminhos
e como dizem por ai, ela deu volta, estou como há quase 30 anos atrás.
Procurando emprego, sem experiência na carteira, sem conhecer alguém que me
indique, e 30 anos mais velha.
Como vocês acham que vai terminar
essa história?
Antes do capítulo final, eu me mato.
Minha vida sempre foi uma coleção de
derrotas e antes que ela me enterre, pego minha pá e cavo minha cova com todo
orgulho.
Estou ficando cansada.
Fila de emprego |
1991
Perhaps in the early 1990s, it was
one of the greatest peaks of brazilian escape abroad. I am not talking about
people who cross Mexico, which by Senator Humberto is right there, next to
Brazil, I speak of young graduates, who studied for almost 20 years for this
moment and at the end of the study and / or internship, found themselves inside
a country plunged into one of the worst economic crises in its history,
orchestrated purposely by a government: The Collor Plan.
Who could, went abroad and made a
career there.
But the overwhelming majority, like
me, don't.
To make matters worse, I didn't have
a "gun, " someone who would nominate me in a company or job, my
family laughed at my job searches for me because they didn't believe me. And my
older brothers said they wouldn't refer me to anyone.
Soon they spent their teenage years
and youth working and stealing from their father, and only turned around when
they were forced to do so. The old man went bankrupt, he was in complete misery
and he couldn't steal anymore.
Since before that, they both had
business bankrolled by my father, but one went bankrupt, the other was arrested
selling drugs at the bar...
I mean, I didn't have anyone's
support, so necessary at this stage.
And there I was going to buy the
paper and apply for a job.
Currently these pitfalls are
prohibited, although they have evolved into other methods to catch
suckers/desperate as the such "Talent Bank" linkedin.
Fixed+commission+VT+VR
With or without experience.
That was the bait.
And I did.
When I found the address, I found a
former history colleague. When I said what I was doing there, he said to me:
_Eles always advertise, offering
vacancies...
I didn't get the message.
Since I thought that arriving early I
would have a better chance of getting hired, I was in line for a couple of
hours.
We went up and in the room, a young
lady also, indirectly and unintentionally, warned me of the hole.
_Esse the golden cross office? I've
been in one earlier and it was golden cross!
I don't know what the answer was,
because they soon took us to a room.
A young boy beautiful, tall, white,
long hair in ponytail, red brown and huge blue eyes, made those whole, for me
unheard of, typical hr, with "games" that tested our IQ, our
initiative and shyness.
Then as a larger example of an egg
bib of the boss, he asked that when the boss entered the room, everyone would
answer the "Good morning" as loudly as possible, because the boss
"was deaf"...
And we obeyed, after all we were
vying for a job.
As soon as he started speaking, we
heard a blah blah blah from the young employees who worked for him, they
shouldn't even be 23, maybe they were their first job.
The chief ran to the door and scoffed
the underlings.
Calling them incapable of shutting
up, which wasn't kindergarten there for him to be yelling at a bunch of kids to
be quiet.
Perhaps the boss took the
opportunity, but this attitude is typical of people who want to display their
authority.
Teachers who humiliate students
without the need to show off to the intern, missus who yell at their maid, when
there is a visit, father who beat their children, without need, to show off to
visitors, school principal who invades a classroom and draws the attention of
the teacher, to show off to the father of a student. I've experienced all these
situations...
After waiting and stalling he started
talking, and went straight to say the name of the company: Golden Cross.
He talked about opening new offices,
positions and blah blah blah.
He said the biggest test for hiring
was selling a health plan.
In the end, I found out for himself
that I could sell the health plan to myself!
The shit is they took our papers!
I still went home and made sure i
made a sale and got my first job.
But they warned me before I fell down
the street door-to-door.
"That's stolen. They will say
that the vacancies will open soon and "invite" you to continue as a
salesman, without fixed, without help, without anything."
In this one, although they didn't
require experience in the ad, at least they didn't mess with me. As soon as I
sat down and said I had no experience, the boy dumped me. The pain is, he
wouldn't let me use the bathroom, and it was too tight. Leave home four in the
morning, stand in line, wait your turn to answer... it was hours without
emptying the bladder.
In another, not to mention what they
wanted, as in the Golden Cross ads, which every day filled the newspapers, only
reported the "salary", did not require experience and did not say the
name of the company, offered me a product to sell, something that to this day,
Never heard about, but say it is very common in the City of Rio de Janeiro :
Sell some kind of "theatrical
plan/club." People paid a monthly fee and were entitled to watch several
plays in different theaters around the city without paying tickets or with 50%
discount.
Mr. Hammm?
Cumé quié?
That's what???
At a time when people were losing
their jobs, suicides in droves, due to loss of business, loss of jobs, thousands
of families lost their homes because of confiscation. Was it the only moment in
Brazil that large private companies faced strikes, bankruptcies and concordats
like Brastemp and Lorenzetti because of this damn plan, and they want me to
sell theatrical plan?
And even so, maybe those who knew
residents of the south, north and even west, had some chance, but I, living in
baixada Fluminense, where people are born and die without ever watching a play,
how would convince these people to acquire the plan?
As they were nice to me, I gave an
excuse that I had an appointment and that I could not attend the lecture the
next day.
_Deixa next time then. _Disse's the
boss of the girl who answered me.
As soon as I turned my back, I heard
them tearing up the papers I filled out furiously.
I must have been the nth to turn down
the job.
In the old day, GPS were the newsmen.
In this job, even leaving at 4:00 a.m., I took so many buses, I must have
arrived around 8:00. And when I went to see, there was a gigantic queue, probably
with more than 2000,000 girls like me, to compete for A SINGLE SPOT ONLY!
She was a receptionist for a course,
and she didn't require experience. Quit...
What made me more pissed off was the
English course Yes. You know, the people there are spending the money they
don't have, full of afflictions, anxiety and hopes...
The ad said the name of the company,
and said where the contractor would go: enrollment department.
What to think about it?
I did. As soon as I got to the
receptionist:
_Anúncio?
_Sim
_Ali, please.
I went into a room and you asked me
to write an essay on the theme: "Why should I be hired."
I wrote it, delivered it, and she
sent back tomorrow the next day.
I've never seen anyone read an essay
so fast!
I passed the first screening!
The next day, people arriving little
by little, and going to the room, where we wrote our essay the day before, when
I arrived, there was only a couple of boyfriends, who by boredom, did not just
sit still, play with their hands and faces, exchanging touches and smiles.
Little by little the candidates
arrived, and the conversation was the day before.
Some proud, others surprised to have
passed the first test, until one released this:
_A she didn't even read it, delivered
it, she put it on the table and scored with me today.
_Nem mine she read!
_Muito least my...
Hummmm... Did she pretend to read my
essay?
Came the girl who saw us yesterday,
along with another woman. It took them almost an hour to write a certain
account on the chalkboard.
Then she started talking about the
company, what it was, and how the course was disclosed.
He talked, talked, talked, but he
didn't say what our job would really be.
Until a man, the oldest of the
candidates, asked a question and she
Spoke spoke spoke spoke spoke spoke
spoke spoke spoke spoke spoke spoke of, DID NOT ANSWER SIMPLE QUESTION, WHICH
WAS ABOUT WHAT TRATVA OUR WORK.
This same guy, interrupted the lady's
speech and repeated the question in a very incisive way, it was then that she
introduced the young woman who came in with her. Saying workers like her are
rewarded.
The boy, already suspicious,
described the position and demanded yes or no.
_Vamos to work selling course door to
door?
_Sim
_Haverá a cost aid, job intake?
_Não.
And she continued to speak, the boy
got up and left the room, ALL PRESENT, ENCOURAGED BY THE EXAMPLE OF MAN,
IMMEDIATELY DEPARTDAI.
You wanted to stay on top, even
though the wallets were completely empty, and a mess with everyone standing,
facing the door, trying to get out of that pilantragem as soon as possible, she
said:
_Quem't interested can leave!
How does this story end?
That I insisted so much, that I got a
job or that someone referred me to a position, that I grabbed the chance they
gave me with all my strength and today I'm here, champion of life!
No, no, no, no, no, no
Life has taken me to other paths and
as they say around, it has turned around, I'm like almost 30 years ago. Looking
for a job, no experience in the portfolio, no one to refer me, and 30 years
older.
How do you think you're going to
finish this story?
Before the final chapter, I kill
myself.
My life has always been a collection
of defeats and before she buries me, I take my shovel and dig my grave with all
pride.
I'm getting tired.
+ sobre o plano Collor e suas consequências
Comentários
Postar um comentário