O DIA EM QUE PERDI A MINHA VIRGINDADE



NA INTERNET



 

Você só perde a virgindade nas redes sociais quando é notado. Alguns têm a felicidade de terem um post super compartilhado, milhares de amigos de uma vez só, mas o jeito mais comum é pela treta.

Briga, um questionamento virtual pesado, com palavrões, ou com ataques e critica pesada ao seu post ou comentário.


 

Eu entrei bem tarde nesse ramo. O Orkut era a rede do momento, cheguei a receber o convite, mas os meus parcos conhecimentos digitais, fizeram com que eu nunca entrasse novamente na página que abri, e perdi o contato com a amiga que me enviou o convite.

A minha primeira rede foi o Facebook, que pouco a pouco, em passos largos, devoraria o Orkut.

Minha página era pequena, e até hoje ainda é. Tenho um pouco mais de 300 amigos lá, e pra mim tá bom.

Num post sobre a bagunça dos alunos em sala de aula, citei como era a minha turma do oitavo ano ginasial.

Batalhas de carteiras. Brigas onde a porta da escola foi arrancada entre socos e empurrões.

Também havia o corredor polonês, mas era coisa dos nojentos e metidos a besta do segundo grau. Eles ficavam de costas nas paredes dos corredores. Os distraídos que passava por ali, se fosse menino, da oitava série, (a minha série) principalmente, eram chutados, meninas tinham as suas saias levantadas, vaiadas ou um puxão no cabelo.

 


Na minha ingenuidade, disse que a minha escola era particular.

Apareceu um bostinha me chamando de “patricinha”, “filhinha de papai”

Jesus, eu não estava preparada. Não sabia que essas coisas aconteciam por aqui. Pouco tempo depois, o Brasil ficaria conhecido mundialmente como a rede com internautas mais ativos e furiosos do mundo. Somos os reis da zoação, e da fúria também.

 


Até hoje, não tenho o costume de responder a esses babacas com palavrões. Se estou com paciência, eu uso argumentos, senão, ignoro.

De início, falei que a minha época de escola, era os anos 80, o início da decadência escolar pública, onde as escolas ficavam sem aulas por até 6 meses com greves de professores, lembro que os alunos da rede pública, praticamente perderam dois anos com essa farra dos professores, em outro, foram aprovados de qualquer maneira, sem as provas finais, pois não haveria como recuperar as aulas pedidas.

 


Que na minha escola, apesar de ser particular, nunca foi de elite. Havia os bolsistas, havia os filhos de faxineiros, zeladores, porteiros, lixeiros. Os com melhores situações financeiras, eram os filhos de donos de boteco e padaria. Tinha um aluno da minha classe, que tinha vergonha do empreendimento do pai: padaria.

E Sim, sofria bulyng dos ainda mais ricos: os filhos de médios empresários, filhos de funcionários públicos, quando estes descobriam que eu era filha de sucateiros.

 


Mas ele continuou com suas gracinhas.

Joguei a minha cartada final. Disse que a palhaçada dele não me atingia, mas estaria sim, ofendendo os pais das crianças que ralavam muito para mantê-las na escola. Meus pais principalmente, que começaram o negócio catando lixo reciclável nas ruas.

No final ele aceitou a derrota e disse que eu era uma pessoa legal. Descobri logo em seguida que a minha primeira treta virtual teve plateia. Os comentários seguintes foram sobre nós dois.

Recebi até mensagem no chat.

No dia seguinte um outro amigo, pela rede, falou com nossos amigos em comum o que havia acontecido.

 


Houve outras, em uma, eu mesmo iniciei a treta. Quando a blogueira comunista postou afirmando que o Brasil é o país campeão em reciclagem de latinha, por termos empresários, sucateiros, que vivem de explorar a miséria do povo.

Virei bicho.

Contudo, sem palavrões , com argumentos, calei a boca da gorda.

Houve hates que me deixaram trauma no Twitter. Demorei a aprender a lidar com a rede. Mas a pior de todas foi a falecida g+. Não fiquei nem um mês por lá. Tudo que postasse, comentasse, era motivo para desrespeito e ataque.

Não vingou. O g+ pra mim foi a minha maior perda de tempo que já tive em uma rede social. Palavra de quem já apanhou várias vezes no Twitter...

  



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