MOMENTO BIZARRO DA VIDA DA ANITA

CONFUSA



Nunca fui aquele irmão que faz de tudo para ver o outro apanhar dos pais, e quando este apanha, se delicia com a punição do mesmo.

Mas...
Também não fui santa. Se a culpa era minha, mas por alguma razão qualquer, um dos meus pais culpava o outro, calada ficava. Afinal, eu apanhei em várias situações parecidas.
Sou a favor de uns tapas. Dependendo, até de uma coça. Mas ela não deve ser coriqueira, usual, e somente depois de vários avisos e castigos que não conseguiram corrigir a criança.

Todavia...
No caso da minha casa, as surras foram dadas mas pela impaciência dos meus pais no momento, e no caso do meu pai, a maioria foi por pura exibição. Ele gostava de bater nos filhos, na frente das visitas e parentes.
Era o momento de mostrar a uma constrangida presença, que ele era o macho alfa da casa, o chefe, que aquela família vivia o patriarcado puro.

Mesmo assim...
A surra que mais me deixou dúvidas ou perpléxa foi a que meus dois irmãos mais velhos levaram. Verdade seja dita. Foram os que mais apanharam. Tudo pelo simples fato de serem os mais velhos. O velho esquema, se o mais novo aparece chorando, o irmão mais velho mais próximo irá apanhar.
Tente imaginar o terror de todos os irmãos quando o caçula começava a chorar por qualquer coisa.

Então...
Meus irmãos faziam judô na escola, na parte da manhã. Acho que era de 8 as 9. Então, Nove e meia, no mais tardo, nove e quarenta, eles já estavam em casa.
Nesse dia, eles não apareceram no horário. Minha mãe começou a gritar e a lamuriar a demora dos filhos. 
Ele sempre imaginava o pior nessas questões. Passei por uma situação parecida. Onde o meu relógio parou, e em vez de chegar as quatro, cheguei as seis, ela sem querer saber de nada, já estava de chinelo na mão. Disse que havia mandado meus irmão de moto me procurar, minha avó estava no portão, muito séria, talvez puta, me esperando, quando me viu descer do ônibus nada falou, apenas entrou pra dentro. Era uma paranóica. 
Ela passou o tempo todo, quase que gritando, perguntando, reclamando consigo mesma sobre a demora dos meninos.
Quando eles chegaram, explicaram a razão da demora. Uma Kombi pegou fogo bem no meio do caminho, parando o trânsito completamente. Eles chegaram por volta das onze horas.
Não adiantou nada. Apanharam. Da sala escutei a batida de chinelo (acho, não assisti), nos seus corpos, paralisada, tentando me concentrar na TV.


O estranho, é que sempre depois de uma surra, minha mãe exigia que seus filhos se comportassem como se nada tivesse acontecido. Não podíamos ficar amoados, tristes e ainda tínhamos que comer!
Qual a criança que sente fome, depois de ter apanhado violentamente dos pais?
Vi meu irmão, com os olhos vermelhos, olhando para o nada, tendo que comer o almoço todo, pois logo seria o horário de ir para a escola.

Na hora de ir para escola, minha mãe resolveu nos acompanhar. Acho que meu irmão acabou não indo. Um milagre.
E sim, no cruzamento, vimos uma Kombi toda queimada.
Minha mãe sorriu, confirmou a história do filho com a maior naturalidade do mundo, como se não tivesse surrado seu filho injustamente.

Bem...
É essa lembrança que tenho na minha mente. No momento imaginei a injustiça que ela fez, mas ela parecia agir como se nada de errado tenha feito. Afinal, meus irmão apanharam por que a estressaram e a deixaram nervosa, pouco importa se eles tinham culpa ou não.

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