NÃO PODE RIR
MOMENTO BIZARRO DA VIDA DA ANITA
Esse é um momento que por mais de 20 anos, causou-me crises de risos incontroláveis. A ponto de causar dor na barriga.
Talvez seja um exemplo de patriarcado vigente na minha família. Era explícito, escabroso e injusto.
A diferença de crianção de meus irmãos e eu era clara. Toda liberdade para eles, homens e proibições para mim, mulher. Não podia rir, falar sacanagem, embora ouvisse sempre, não podia opinar. Qualquer coisa diferente que eu dizia, sobrava para a coitada da empregada, acusada de "encher minha cabeça" de caramiolas. Sendo que as coisas mais cabulosas eu ouvia de dentro da minha casa, havia a escola... Gente, eu não era um eremita, embora minha mãe preferisse que fosse.
Mulher podia até ler, mas não podia conversar com ninguém, nem com ela o que aprendia, convivia. Autoestima também era perigoso, ela sempre me botava pra baixo na frente das pessoas. Ela tinha certeza que se eu me destacasse, seja como for, meu cabaço e reputação estariam perdido.
Mas vamos lá. Coloquei recheio demais nessa linguiça.
Estávamos na varanda do maior sonho realizado de D. Aparecida, o sítio. Já falei dele aqui antes, o pesadelo que foi o imóvel e as razões tanto céticas quanto espirituais para que aquela casa fosse uma catástrofe anunciada.
Era de noite, meus pais bebia a suas cevejas e meu pai no balanço improvisado instalado por ele.
Tudo ia bem, os adultos conversavam e eu no meio.
Até que meu pai se levanta, e ao voltar a sentar no balanço ele virou para trás e caiu, de uma altura considerável. Pois o chão da varanda era bem alto.
Caiu de costas, com as pernas levantadas. Mas a graça foi a cara que ele fez.
Presenciei por centésimos de segundo tudo isso, e sua cara ficou arquivada na minha memória.
Disparei como um raio, fui para os fundos da casa rir, mesmo assim, um riso de doer, não por rir demais e de forma descontrolada e forte, controlei o máximo que pude as gargalhadas, temendo que meu pai ouvisse minhas risadas e viesse me bater.
Esse risco era verdadeiro e alto.
Quando voltei, minha mãe estava na mesma situação que eu. Ela queria abrir a boca, soltar os risos, mas se controlava, enquanto convencia o meu pai a não destruir o balanço, como vingança...
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