CRÔNICAS ROXIANAS


A Princesinha de Santa Amélia


 "Gata borralheira
você é princesa"

Aproveitei a meia folga que tive no dia de finados para visitar o meu irmão. Era uma oportunidade única de encontrá-lo em casa cedo e de fazer uma boa caminhada.
Atravessei a linha do trem, numa passagem clandestina. Poderia subir o viaduto, mas esqueci dele. Na linha do trem, é raro, mas você pode se deparar com algum jovem fumando a sua maconha e com a terrível geração Z tacando pedras no trem e até em você.
Geração Z é a geração que nasceu em meados dos anos 90, que não tem bosta nenhuma na cabeça, vampiriza os pais, não têm educação mínima e nem limites.
No cruzamento da Bayer, encontrei o que já esperava:
Urubus.
Devia haver uma centena deles, todos atraídos pelos despachos de macumba constantes neste local. De vez em quando há um bêbado entre eles, que aproveita a cachaça, quando não, um conhaque, a sidra e como vi uma vez, Whisky oferecidos ao povo da rua. Em menor número, pombos.
Ao longo do caminho, o lado esquerdo (ou de frente pra Bayer), é tipo “mata virgem”. Quase todo terreno é cercado, pertence à multinacional. Como a própria empresa, há lendas urbanas que envolvem a mata, dizem que escondido nela há uma espécie de mansão-fortaleza onde fica o “alemão” manda-chuva do pedaço. Não creio.
Do outro lado da rua existia uma vila de casas, havia sim, muitos estrangeiros morando nela, talvez alemães. Foram derrubadas.
Em uma das minhas caminhadas a bexiga apertou e me enfiei na “mata virgem”.
Enquanto fazia o meu xixi, surgiu da mata um galo, que ficou “vigiando o meu alívio”. Não sei se fugido de um quintal ou se era alguma oferenda viva perdida.
Chegando na ladeira, lembrei do último imóvel que meu pai havia comprado.
Uma casa inteira e nos fundo uma inacabada onde morava meu irmão Alex. Durou pouco.
Ele me disse que quase toda noite havia tiroteio na rua, e em um deles, o fugitivo pulou o muro para cair morto no quintal da casa. Minha madrasta não quis mais saber do lugar e meu pai teve que vender.
Ela diz que não. Que foi uma atitude única do Seu Miro.
Mas lembro que ela estava insatisfeita com o lugar, porém, meu pai já estava falido... Então... Não me interessa saber a verdadeira história.
Cortei o caminho mais uma vez e saí já em Santa Amélia.
Entrei na famosa rua do valão.


Meu irmão e minha cunhada estavam de saída, junto com o netinho deles em um carrinho de bebê, eles iriam fazer compras.
No caminho ao mercado, meu sobrinho-neto prestava atenção nos carros. Não por admirá-los, mas por saber que ele estava na rua e era perigoso.
No meio do caminho, tivemos a “companhia” de mais duas crianças.
Uma menina de mais ou menos 5 ou 6 anos e um garotinho que deveria ser seu irmãozinho de 2 ou 3 anos.
Meu sobrinho-neto atraiu a atenção dele, por minutos ficou do seu lado. Só que era uma criança e as ruas não tem movimento, enquanto a sua irmã ficava no cantinho, ele caminhava em zigue-zague pelo asfalto.
A menina para o irmão:
_Hoje você não escapa! Eu vou te dar um banho de jeito!
Em frente ao mercado, havia uns caras sentados na calçada, ela começou a falar para eles:
_Não adianta correr! Ele hoje vai tomar um banho pra valer! Tá muito sujo! Ele vai ficar limpinho! Vai sim! Vocês vão ver.
Tínhamos o mesmo destino: o mercadinho.
Meu irmão e minha cunhada compraram leite, fraldas e biscoitos.
Pasmem! O mini-mercado possui preços competitivos com as grandes redes. Eu aproveitei pra comprar leite, com quase um real de diferença do preço do Carrefour.
O Abílio Diniz sempre enfia o dedo no c... e se rasga todo quando sabe disso.
Quando ele adquiriu o grupo Sendas, num coquetel oferecido a imprensa, ele alegou que as redes “pequenas” Guanabara, Novo Mundo e Mundial, vendiam mais barato que ele por sonegarem impostos. No dia seguinte a notícia, as três se uniram para processar o magnata, e ele que teve que se desculpar, alegou ser mau interpretado e por aí vai...

A menina entrou no mercado para comprar pão, e foram muitos. A família deve ser grande.
Havia um policial no mercadinho, ela lhe falou sobre o palhaço que viu dia desses.
_É verdade eu vi!
Meu irmão confirmou a história. Palhaços malignos estão assaltando mulheres armados com faca. Recentemente pegaram um e esse se ferrou.
A jovenzinha tinha o que eu nunca tive e até o que eu não tenho até hoje: liberdade na infância e comunicação.
Enquanto os pequenos, inclusive meu sobrinho-neto interagia com o policial, deixando o homem da farda até orgulhoso, pois alegava que pais que ensinam que a policia é o inimigo ensinam errado, reparava na roupa da garotinha.
Para o calorão que se pronunciava no feriado era até inadequado.
Um conjuntinho todo rosa, velho, e um tanto encardido e desbotado, as mangas possuíam um pequeno fom-fom, aquela protuberância acima dos ombros para dar volume. A sainha era dupla, uma saia rosa e uma transparente com brilho por cima, o desenho da camiseta era aquela princesa do Frozen.
A garotinha estava vestida de “princesa”.
Ela com certeza têm as responsabilidades de uma plebeia: Fazer as compras da família, tomar conta do irmão, sabe-se lá, se ela, apesar da pouca idade, não ajuda na arrumação da casa.
Isso não nega o seu direito de ser uma princesa.
Ela tem postura, comunicação, atitude, soberana nas suas obrigações.
Não recomendo muito esse culto às princesas Disney, mesmo por que, são mitos inalcançáveis, mas minha querida, nunca vou tirar ou criticar o seu direito de ser uma princesa, e espero que a vida lhe faça uma rainha. Torço pra não ser uma “rainha do lar” no pior sentido da palavra.
Porém se for a sua escolha, que seja feliz.

Seu irmãozinho se despediu da gente com um tchau. Eu voltei para o meu trabalho e meu irmão, minha cunhada e meu sobrinho-neto foram pra casa.

Fui feliz e satisfeita com o que vi, pois eu conheci a princesinha de Santa Amélia ou seria Jambuí aquela localidade?






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