SANTA ROSA
Desci no terminal Pavuna do metrô, e
fui em direção a São João de Meriti pegar o ônibus. Poderia pegar na Pavuna
mesmo, só que seria um desperdício de tempo.
Atravessei o calçadão com lojas e
barraquinhas.
A Pavuna fede.
Não visitei ainda a nova rodoviária,
a antiga tinha um mau cheiro que não inibia os compradores de churrasco e
cachorro quente.
Já me habilitei décadas atrás a comer
um suco e um salgado dessas barraquinhas... Nunca mais!
Ela está sempre cheia. Um pólo
comercial e um ponto de chegada e de saída de ônibus e trens.
A maioria está ali de passagem.
No calçadão deparei-me com um
sobrevivente.
Um cinema da rede Santa Rosa. Era um
cinema de rua, como tinha antigamente.
E ainda por cima é um cinema pornô.
Acho que nem Nova Iguaçú tem mais
desses.
Em tempos onde as pessoas satisfazem
suas taras e curiosidades pornográficas (dentre elas as mais inimagináveis
aberrações) com um celular; o Santa Rosa sobrevive.
Enquanto crianças têm acesso a mais
variada pornografia gratuita nos vídeos do WhatsApp, ainda tem gente que paga
para assistir por uma, dividindo suas taras com completos estranhos.
Um público, acredito eu, inimaginável
para atual geração.
Houve tempos, nem tão distantes
assim, em que existiam teatros eróticos.
No palco, sexo explícito e shows de
mulheres nuas.
Quando imaginei o interior desses
locais, eu tive náuseas. O chão grudento, a nojeira que devem ser esses lugares
ou deve ser esse lugar. Por acaso alguém sabe da existência de algum outro
lugar assim?
Não vale boates e nem prostíbulos,
ok? Estou falado de cinema e de teatro.
A rede Santa Rosa é oriunda de
Niterói, onde um bairro de mesmo nome batizou os cinemas.
“Assisti Os Trapalhões no Santa Rosa
da Pavuna.”
Era o que minha geração dizia quando
ia ao bairro ver um filme.
Belford Roxo já teve dois cinemas,
São João também, Nova Iguaçú uns quatro.
Eram cinemas sem refrigeração, onde o
chão era plano, assim, se um jogador de basquete ou vôlei sentasse na sua
frente... Já era. Ou trocava de lugar ou não assistia mais filme.
Cadeiras de madeira (quando havia
cadeiras inteiras) e não havia lotação máxima. Enquanto coubesse alguém lá
dentro, as pessoas iam entrando, mesmo com o filme iniciado. Isso porque você
pagava uma entrada e podia assistir quantas vezes quisesse ver o filme.
Pessoas nos corredores, sentadas no
chão ou em pé.
Eles faliram?
Faliu quem não evoluiu.
Prefiro mil vezes os cinemas atuais
aos de antigamente.
Infelizmente, com a concentração de
até 6 salas em um único lugar, o que não era muito farto, ficou mais raro nas
cidades brasileiras. A minha por exemplo, não tem mais...
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