CIRANDA CIRANDINHA


Fui ao inferno
Buscar o meu chapéu
Vermelho e preto
Da cor deste céu
Ouço os gritos de terror
Meus pés não se queimam
Caminhando neste ardor

Onde está o meu chapéu?
Ninguém me diz nada?
Olha a roda (que) roda roda roda
Olha o pé pé pé
Se no inferno aqui caminhas
Condenado você é

Condenados são aqueles
Que afundam na maré
As brasas não me queimam
E atrás do meu chapéu
Caminho pela lava a pé

Mergulho no mar de fogo
Fervente com afogados a gritar
Não sou uma condenada
Uma criança entre almas a penar
Condenados não me fazem parar

Saia enquanto é tempo
Ele roubou para te atrair
Doce, ingênua criança
Nas armadilhas do diabo

 Vai cair


Afundada no mar de fogo
Meu corpo queima como brasa
Não sinto dor
Ele brilha como uma lamparina
Extasiada, começo a dançar como bailarina

Criança, não zombe do demônio
Em algum lugar ele gargalha
Com o seu chapéu
Ele acredita que essa luta já venceu
Foco, menina!
Pois se derrotada não se fará de vítima

Eu me sinto bem aqui
Não tenho pena nem de ti
Meu chapéu vou pegar
E vitoriosa, na frente do demônio
Vou cantar e dançar

Piso sobre caveiras agonizantes
Pedem ajuda
A uma criança errante
Leve a ele meu pedido de misericórdia
Em vida
Só espalhei discórdia

Não sei se vou poder
Mas seu recado ele vai ouvir
É a primeira vez
Que sinto compaixão
Por alguém daqui

Menina corajosa
Que encara o inferno pelo seu chapéu
Todos nós rezaremos por ti
E com certeza sairá daqui

Quando rezamos
Nossa dor aumenta
E sabemos que na terra
Ninguém por nós lamenta

Meu chapéu
Da mão do demônio vou pegar
E de frente a ele
Por vocês eu vou rezar

Abraço o máximo de ossos que posso
Por eles começo a chorar
São almas condenadas
Que Deus por misericórdia
Deveria perdoar

Deus não está conosco
Ele jamais perdoou um condenado
Em vida escolhemos o nosso lado
Matei roubei e vinguei
E para os braços do diabo
Eu cheguei

Estou confusa
Não sei o que é certo
Não sei o que é errado
Fuja menina!
É o diabo com mais um atentado

De frente a loucas escadarias sem fim
Construídas com ossos de marfim
Nas paredes
Cabeças de caçadores
Cantando orgulhosos
Da vida os seus horrores

Numa sala vejo uma montanha de ouro
Banhada em cachoeira de sangue
Que chora e grita
_O ouro é meu!
_Não peguem a minha pepita!

Molho minha mão no sangue
Que queima a minha carne e grita:
_Larga a minha pepita!
É a primeira vez que sinto dor
Não sabia que o ouro
Causava tanto horror

A cada final de escadaria
Uma sala de horrores
Meu coração se aflige
E sinto cada vez mais dores

Não há mais como voltar
E nem como desistir
Só com o seu chapéu
Conseguirá partir

Chego à sala do demônio
Brincando com o meu chapéu
Sentado no seu trono
Ele é gigante, o meu chapéu
Mais parece no seu dedo um anel

Criança boba e orgulhosa
Caminhou pelo meu reino
Toda polvorosa
Com seu chapéu não vai ficar
Aqui agora
É o seu lar


Você não vai me prender
E minha família e amigos
Voltarei a ver
Não se engane, menina
Quem mais deseja está aqui
Mulher, saia agora daí

De um canto escuro
Surge quem mais desejo rever
A minha mãe de braços abertos
Pra me receber

Abrace sua mãe
Mate a sua saudade
E com ela aqui
Ficará por toda eternidade

Corro para abraçar a minha mãe
Mas vejo em seus olhos lágrimas
Bem devagar, para o diabo não perceber
Vejo a minha mãe
Com o pescoço “não” dizer




Paro e começo a chorar
Estico a minha mão para a sua pegar
Ela grita
_Filha, não se deixe me tocar
O diabo a ti quer te aprisionar!

Ela começa a queimar e derreter
Gritando: Não venha me socorrer
O diabo ordena:
Dê o que me prometeu
O espírito da sua filha
Que é meu!

Minha mãe derrete e desaparece
O diabo
De alegria enlouquece
Venha doce menina
Sua alma já é minha

Você até aqui chegou
Porque queria o chapéu
Que a ti, sua mãe em vida presenteou
E só chega ao inferno, os condenados
Que aqui são trancafiados

O diabo pega a menina em suas mãos
Encolhida em prantos
Seu corpo com a mão ele vai esmagar
E sua alma ele absorverá
E tudo que a menina faz é orar

Já é tarde, e seu corpo é esmagado
Deus sente que algo acontece
O céu treme
Com a alma da menina
O diabo do inferno será libertado

O diabo comemora a vitória em brado
Até que milhões de caveiras surgem contra ele
São as almas por quem a menina orou
O espírito de sua mãe
Antes escuro e condenado
Surge agora radiante

Todos contra o demônio
Lutam de forma incessante
_Não! Não suporto tanta luz!!
Como uma criança apenas pode me derrotar?

Enquanto o demônio agoniza
A luz racha as paredes do inferno
Libertando os espíritos enfermos
Para o céu eles vão
Finalmente eles conseguiram o perdão

A menina é deixada na terra desacordada
Sua mãe antes de partir
Beija a testa da criança
Obrigada, filha. Por mim
Nunca desistir

Banhada em sangue demoníaco
A menina recupera os sentidos
Encontra o chapéu sobre seu peito
Abraça-o como um ente querido
Que fazia tampo que não havia visto


Olha para o céu
As últimas almas desaparecem
E com uma das mãos
Ela se despede balançando o chapéu

Volto para minha casa
Escuto minha avó incessantemente me chamar
Corro pedindo um abraço
É hora de dar benção a vovó
A bença vovó!
A bença vovó!



FIM







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