FELIZ ANO VELHO

 

Bom livro, recomendo.

 

Tia Leninha sempre é um tema recorrente nas minhas crônicas. Ela é um grande exemplo de como eu insistia em manter relacionamentos com pessoas tóxicas, arrogantes, falsas, fofoqueiras.

Muitos me avisavam que fulano ou fulana não é minha amiga(o), que estavam falando mau de mim , a poucos metros de distância, mas eu não dava muita bola, por não considerar um “amigo”.

Amigo de fé, amigo verdadeiro.

Embora que, na boca dessas pessoas, qualquer banalidade dita em uma conversa leve, sem grandes temas e profundo, pode virar motivo de chacota, acusações, fofocas, encrencas.

Leninha é um exemplo típico.

Falsa

Fofoqueira

Arrogante



Um ser que no seu pior momento financeiro, sem muita das vezes sem ter o que comer, fazia questão de se desfazer de qualquer ajuda que recebia.

Falava muito mal. Reclamava. Parecia que estava tendo um piripaque. Se eu trazia um frango, ela reclamava que deveria ter trazido carne, se trazia queijo para o pastel, dizia que seria melhor carne moída, reclamou de todos os esmaltes que trouxe para ela, que estava há de um ano sem fazer as unhas.

Deus, como eu suportei essa mulher?

Era tia

A única viva da parte de mãe

Morava no cu do mundo, um lugar chamado Vila Maia, pegava a bicicleta do meu tio e me perdia entre estradas de barro, linhas férreas abandonadas, riachos e pontes de ferro.

Costumava virar o ano na sua casa.

A gente não fazia nada. Levava uns pastéis pra fazer, refrigerante, vinho. Ficava  na janela do seu bar que nunca lhe trouxe retorno nenhum.

Foi nela que vi uma das cenas mais bizarras desse período de festa.

A casa da minha tia era mais alta que a rua.

Assim que a gente descia as escadas que dava a varanda da sua casa, o portão era mais baixo, havia uma “pracinha” nessa parte baixa.

Poste de ferro e bancos de cimento em círculo.

Pra variar, no dia primeiro caiu de repente uma chuva torrencial, típico de verão.

Antes disso, havia um rapaz deitado no banco, sozinho.

Já é estranho, numa data comemorativa, alguém sozinho numa praça vazia.

Cai a chuva e ele continua lá imóvel.

Eu e Paula ficamos olhando tudo aquilo sem entender nada.

Talvez o fato de nada de especial estar acontecendo na casa de Leninha, e/ou por não estar na minha casa, não veio a nossa cabeça, a ideia de chamar o rapaz, convidá-lo, não sei...

Apesar de, para alguém chegar nessa situação, talvez realmente quisesse ficar sozinho.

A gente apenas ficou olhando a tragédia íntima do jovem.

 

Tia Leninha era tão egoísta e tão ingrata, que mais uma vez, fui passar a virada de ano com ela.

Foi para o culto da igreja, caiu um pé d’agua a meia noite, mesmo assim, soltei os rojões com a ajuda de um estranho que passava na pracinha, ela reapareceu, apertou minha mão pra me dizer feliz ano novo, mas deixou bem claro que voltaria para o culto da igreja.

Fui embora logo em seguida, pra casa, a pé, embaixo de baldes de água que caiam sobre mim, vindos do céu. Fiquei sabendo como estava sentindo o jovem na praça, deitado no ano novo, sob um dilúvio.

 


Minha tia era assim.

Mesmo com tudo isso, como já disse antes, insisti em conviver com esse abominável ser, que ainda usava a sua mediunidade para manipular a família e infernizar a minha adolescência.

A mulher era uma louca. Depois que ela resolveu sair da nossa casa, apesar de ter “prometido” à D. Aparecida que cuidaria da gente, ao menos era o que ela sempre dizia, assim que minha mãe morreu e assumiu desastrosamente a organização da nossa casa, meu pai nunca mais foi o mesmo.

Enfurnou-se nas macumbas como nunca antes visto.

De um lado, filhos que o destruíam, do outro, uma alienação total em relação a uma religião que o afundava cada vez mais.

Seu Miro não tinha salvação.

Quem ousava lhe dizer a verdade, ele não ouvia, ele poderia ouvir as tais entidades, mas estas, nunca falaram nada. Só exigiam trabalhos e mais trabalhos, oferendas. Sempre que ele mudava de terreiro, o baba ou a yalorixá telefonava dizendo ameaças ou aparecia lá em casa, pra coisa boa não era.

 

Demorei a dar um pé na bunda da Leninha. Já disse aqui antes o motivo.

Dessa vez ela não veio com mensagens mediúnicas próprias. Ao que me parece, usou o nome de uma irmã da igreja que foi na janela do bar conversar com ela.

Não gostei da tal “revelação”, brigamos a noite inteira. Fui embora bem cedo, nunca mais a procurei, e quando me telefonava, manda tomar no cool e desligava.

 


E nunca mais desperdicei minhas festas de fim de ano com quem não liga e não quer minha companhia.

Não se mate por estar sozinha nesta época. Muitas vezes, dependendo da sua família e amigos, a melhor companhia é a sua mesmo.

Bom Ano Novo!



 

 

 

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