FINADOS E A MINHA QUIZILA COM OS CEMITÉRIOS

FINADOS E A MINHA QUIZILA COM OS CEMITÉRIOS




 

O dia de finados é tão forte entre os católicos quanto entre os de religião de matriz africana.

Uma vez, acompanhando uma amiga, vi um cemitério cheio, com pessoas vestidas de branco e, ao que me parecia, fazendo rituais em volta das sepulturas.

Havia o clichê da venda de flores, velas e os “coveiros de última hora”, gente com enxada na mão, oferecendo serviços de capinagem e limpeza de túmulos. Principalmente nas covas simples, sem jazigo, enterrados sob a terra e uma simples cruz. O filho da Rosa estava nesse estado. Ela nunca teve dinheiro para adquirir um jazigo para o filho, que morreu jovem.

 

No candomblé e na umbanda, espírito de morto recebe o nome de egum. E não é uma coisa boa.

Os mortos devem seguir o seu caminho.

Se ficam por aqui, perdidos ou presos na nossa realidade, podem ser chamados de encosto, o espírito, nem sempre de um morto, que vive de sugar as forças de um vivo. Atrasando, atrapalhando a sua vida.

 


Apesar de cadavérico e de jogar na nossa cara, o nosso futuro, a nossa próxima e última morada, cemitérios me fascinam.

A arte, o epitáfio, a foto no morto.

Mas em tempos em que eu frequentava e acreditava nessa religião, aprendi que cemitério não é um bom lugar para os vivos. Pois sem proteção e/ou preparação, podem sair dele com uma dezena de eguns nas costas.

 

Tranca rua das almas. Dele nada posso falar. Quando o exu fêmea fica de frente, os machos abaixam a cabeça.

Antes de acompanhar Rosa, tomei um banho, passei uma pipoca na cabeça, vesti a roupa, que não pode ser nunca preta, e fomos, e  ao volta a mesma bosta, e retirar as roupas antes de entrar dentro de casa, e deixa-las do lado de fora. Guardá-las somente depois de lavá-las.

 

Há muito tempo desisti desse caminho, não tenho mais fé em Orixás, e xingo sem pudor a minha pomba-gira, mas a quizila de entrar em cemitérios continua.

A vida já é uma bosta.

Pra quê arrumar ainda mais problemas, com um egum de graça, perturbando a sua vida?

 

Anexo

Apesar de as almas terem um dia da semana dedicada a elas, é TERMINANTEMENTE PROIBIDO acender vela para as almas dentro de casa.

Meu pai, que depois da morte da minha mãe, com influência da maldita tia Leninha, ficou fanático pela religião. Passou os onze anos da sua vida, acendendo vela para senhora falecida minha mãe dentro de casa.

Mesmo com todas as pessoas avisando para não fazer isso. Que deveria procurar um cruzeiro em igreja ou cemitério mesmo.

Com o tempo, acho que ele passou acender velas para uma legião de almas, pois toda a segunda-feira, era uma caixa e meia de velas.

Quem acompanha o blog, sabe no que deu a vida de meu pai. Se a sua decadência financeira, e psíquica tem um pouco a ver com isso, não sei. Mas deixo aqui a lição.

Quando ele cismou de acender aquela montoeira de velas na porta do meu quarto, eu simplesmente não consegui dormir, quando eu olhava para elas, meus olhos ardiam e minha cabeça doía. Isso pra você ter uma ideia, do que você pode tá arrastando pra dento da sua casa.

 

Anexo II

Nunca entrei no cemitério de Mesquita. Mas décadas atrás me intrigou um sonho: Eu estava no cemitério e via nele, várias entidades. Entre elas, a Senhora Pombagira Maria Padilha do Cruzeiro das Almas. A maldita que dizem eu carregar.

Não lembro o que ela me disse, mas lembro do seu tom debochado, seu vestido vermelho, seu cabelo loiro, com certeza zombando de mim. O seu “Cavalo” que desde os 15 anos cuidou dessa falsa e só tomou na bunda.

Parabéns pra ela. Burra fui eu em confiar. 


A Madrasta


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