A GATA COMEU


REMAKE

A primeira vez que ela foi exibida foi em 1985. Um ano marcante. Foi o ano em que eu ingressei no ginásio, na antiga quinta série ginasial, quando a escola fundiu as duas quartas séries para criar a turma 502 tarde.

Era uma quarta série mais velha, com garotas mais desenvolvidas e meninos maiores e com uma maturidade ou simplesmente curiosidade sexual muito maior que a minha antiga turma.

Foi o ano em que eu comecei a ser paquerada, sofrer assédio sexual, e com a turma, escutar sacanagem.

"Escravo de Jó

Comi a sua avó

Sua tia, sua mãe também

E vou comer

E vou comer 

Você também"

Cantava os garotos desenvolvidos bem alto na fila, na hora da saída.

Já acostumada com o novo ambiente, em uma aula qualquer do Sidney, o professor de geografia que ensinava mais sacanagem do que geografia, escuto uma gritaria, que faz toda a turma entortar o pescoço para trás.

Logo em seguida o Sidney retorna ao grupo e devolve o que havia lhe tirado: uma revista pornográfica.

_Eu deveria levá-los para a diretora, mas eu já tive a idade de vocês!

Foi o sinal verde.

Metade da turma correu para onde estava a revista e vê-la.

 

Enquanto o nosso contato com o sexo era por essas revistas, os meninos...

Gente, 1985:

Não havia internet

Os pais não falavam de sexo com os filhos

Aprendia-se sexo na rua com os mais velhos

Os mais sortudos:

Remexiam na coleção de revistas pornográficas do pai ou do irmão

Ficavam até tarde assistindo TV escondido a sessão "sala especial"

Conheciam o sexo via revista como a mini fiesta. Do tamanho ideal pra esconder no caderno, caso a professora se aproximasse.

Tentem imaginar o valor que uma revista como essa nas mão da nossa geração.

Foi o assunto da aula.

Até a mais recatada, a mais sem graça, a mais chata, a mais séria das meninas, a crente Debora (que não foi ver a revista), mas fez questão de escutar timtim por timtim a descrição das fotos narrada pela escrota baixinha, chatinha, abusada, sem educação, marrenta Luciana.

Um dos garotos, afoito, começou a cantar o refrão do momento:

"Ela comeu meu coração
Trincou, mordeu, mastigou, engoliu, comeu... comeu
Ela comeu meu coração
Marcou, moeu, triturou, deglutiu, comeu... comeu..."

Bem alto, várias vezes sem parar. 

A revista trazia uma novidade, um burburinho que muitos duvidavam:

"Uma mulher chupando o pau do homem"

Fechou-se de vez o caixão da infância, da pureza e do recato.

Hoje em dia crianças de dois anos correm o mesmo risco, quando acessam Peppa Pig na internete e abrem a página da Peppa Pig pornô...

Saudades do Carlos Zéfiro!