UMA DECEPÇÃO CHAMADA POLAROID

UMA DECEPÇÃO CHAMADA POLAROID



O retratista oficial da minha família era o primogênito Almir.
Ele estragou mais da metade das fotos, em todas saía a sombra do seu dedão encostada na lente. Ainda assim, por anos ele continuou a bater as fotos.

Minha primeira vez foi numa festa de natal. Os mais velhos nunca passavam as festas de fim de ano com os pais. Com carros/motos endinheirados e namoradas e namorados, eles sempre tiveram outras opções, ainda assim o sítio estava cheio de irmãos e irmãs do meu pai.
Ele me deu a máquina e pediu para eu bater uma foto dele com a minha mãe. Logo depois de batida a foto, ele sério sentenciou:
_Se a foto sair queimada, eu vou te bater!

Acabou o meu natal.
Chorei o resto da festa, e devo ter estragado o natal de todo mundo presente também.
Não era mimo de patricinha, era o medo de apanhar mesmo. As surras que levei do meu pai, me causam pesadelo até hoje!
Que se foda!
É isso que se fala para uma criança que nunca bateu uma foto na vida?
Até o dia da revelação eu vivi a flor da pele, temendo pelo meu futuro.

Almir ganha a novidade daquele ano._Não lembro qual_
A inacreditável POLAROID.
A máquina que revelava fotos na hora!!
O manual de instruções era todo em inglês, para um homem que até hoje não fala o português direito, imagine entender inglês.

TODAS AS FOTOS DA POLAROID SAÍRAM ESTRAGADAS
Escuras
Esverdeadas
Queimadas
E tínhamos flash! Só que a grande inteligência da família não sabia onde e como usar.
Mas a família estava convicta de que se teria sucesso em domar a tão surpreendente tecnologia, que nos livrava dos laboratórios de revelação, caros e demorados.

Até que um dia o seu filme acabou.
Meu pai, pertinente, rodou por toda a Baixada a procura do filme, e nunca encontrou.
A máquina virou objeto esquecido nos fundos do armário, até desaparecer para sempre.
Quando a marca avisou o mundo de que não produziria mais câmeras e nem filmes, li uma matéria sobre os "abandonados pela Polaroid", gente que até meados dos anos 2000, a usava.
Todos moradores da Zona Sul.
Onde eles compravam os filmes?
Quando viajavam para o exterior?
Nos free shops dos aeroportos?   
Em lojas especializadas?
Para a família Pavone, ela não passou de um desperdício de tempo e dinheiro.


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